3 - Bernardo

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O sol castigava o meu rosto, o suor escorria sobre a minha pele, o meu corpo implorava por descanso, mas eu não me importava, pois ela me aguardava e tudo era por ela...
- Papai...
- Oi, minha princesa. Onde está a vovó?
- Fazendo o almoço. Vim colher temperos.
- Tudo bem, não demora...e cuidado.
Beijei a cabeça dela.
- Tá, papai...
Ela voltou a colher os temperos. A seis anos perdi minha esposa, minha companheira, minha melhor amiga, mas ela me deixou algo muito precioso, a minha filha, Lilliana.
- Boa tarde, mãe.
- Oi, filho...viu a Lilly? Ela está demorando...
- Sim, ela está lá fora, colhendo...
- Voltei, vovó...
- Acabou de voltar...
- Aqui os temperos.
A minha mãe, além da Lilly, é a única família que tenho...outra pessoa por quem eu morreria.

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- Você não vai, Lilly!
- Por que não? Eu já tenho idade, pai...
- Mas você não vai...
- Por quê? Eu só quero um motivo...só um.
- Não importa o motivo. Você não vai e ponto.
- Pai...
- Não, Lilliana. E por favor, me obedeça. Por favor...
- Que seja!!!

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- Lilly!!!
- Calma, ela está bem...ela tá dormindo.
- Quem é você?
- Dara. Eu encontrei vocês na floresta. Você está bem machucado...
- A Lilly, ela fugiu e eu fui...ai...
- Não se mexa...foi difícil estancar o sangramento...você quase morreu...
- Obrigado, por nos salvar...
- De nada...
Eu ainda estava de olhos fechados ao abrir me vi encarando um anjo, seus longos cabelos presos em uma trança frouxa, os olhos castanhos e a pele pálida, ela sorriu e meu coração parou, ela suspirou, surpresa.
- Chocolate quente...
- O quê?
- Nada, deixa para lá...
- Eu amo chocolate.
Ela riu...
- Que bom.
A lenda é real, porque eu também senti.

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- Lilly, desculpa, filha, eu só quero que você fique segura, filha, abre a porta, filha? Lilly? Mãe, mãe, você viu a Lilly?
- Ela não estava no quarto?
- Não. Eu vou procurar ela.
Um som de trombeta é ouvido...
- Rápido, filho, já vai começar, volta logo e cuidado.
- Tá. Não saia de casa.

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- Como você nos encontrou?
- Estou viajando.
- E o que uma moça fazia viajando sozinha pela floresta à noite?
Ela mudou de repente, parecia que estava escondendo alguma coisa.
- Não importa. O importante é que eu achei vocês e os ajudei.
- Obrig...
- Papai? Pai!
- Lilly...
Ela corre e me abraça.
- Ai!
- Calma, pequena, o seu pai ainda está se recuperando, lembra? Toma cuidado.
- Desculpa, papai, como o senhor está?
- Está tudo bem com você, querida?
- Sim.
- Então, eu também estou bem.
Ela me abraça de novo, dessa vez com cuidado. E a barriga dela ronca...
- Desculpa...
- Na minha mochila tem umas barras de cereais, chocolate e água, pega lá...
- Obrigado...
- E você, quer comer alguma coisa? Temos chocolate, você gosta, não é?
Ela sorriu e meu coração acelerou.
- Não. Eu estou bem, obrigado.
- De nada.
A Lilly senta ao nosso lado.
- Precisamos avisar a vovó, ela deve estar preocupada...
Ela faz de boca cheia e eu a olho de cara feia...
- Desculpa.
- Verdade, filha, mas como?
- Eu vou. Preciso comprar algumas coisas para mim e para vocês. Onde vocês moram mesmo?
- Em uma vila aqui pert...nós estamos na caverna azul?
- Não sei, acho que sim...tem um lago ali na...
- Precisamos sair daqui, precisamos...aí....
- Pai...fica quieto...
- Calma, Bernardo, o que houve?
- Eu não posso falar na frete da Lilly. Precisamos sair daqui...
- Por que?
- Aqui não é seguro...
- Estamos aqui a dois dias e...
- Dois dias?
- Isso.
- Minha mãe deve estar enlouquecendo, temos que voltar para casa. Precisamos...ai...
- Você precisa se acalmar e me explicar o que está acontecendo...
- É que...
Dois homens entraram na caverna...
- 'Tem alguém aí? '
- Droga...
- 'Olha lá. '
- Quem são vocês?
- Nós que perguntamos, quem são...espera eu te conheço.
- Moramos na vila Âmbar...no fim do vale...
- Os três?
- Hammm...
Antes que eu pense em uma resposta ela fala...
- Não, estou apenas de passagem...estou indo para onde as flores não nascem.
Não entendi o que ela disse, mas parece que eles sim...
- Nos acompanhe...
- Ela não vai a lugar nenhum com vocês.
- Calma, princesa está tudo bem. Cuida do seu pai, tá? Eu já volto.
Quando eles saem...
- Ela é muito bonita, não é, papai?
- É sim...quer dizer...você acha? Nem percebi...
- Sei...me engana que eu gosto, seu Bernardo.
É, já vi que vou ter trabalho com essa menina. Minutos depois ela volta.
- Tudo bem aí?
- Sim...o que eles queriam?
- Hammm...bom, não tem um jeito fácil de falar isso, então...
- Fala, o que houve?
- A vila de vocês foi atacada ontem à noite...
- O quê?
- Não pode ser...
- Houve muitas mortes, os que sobreviveram foram para as montanhas...
- Vovó...
- Segundo eles, alguns fugiram a tempo...estamos mais seguros aqui do que lá fora. Fiquem calmos, vamos torcer para que ela esteja bem...Lilly, vai lá na pilha de graveto e pega alguns para fazermos a fogueira, que já está começando a ficar escuro. 
- Tá.
Depois que a Lilly saiu ela me interrogou...
- Me conta, o que está havendo?
- Temos um grande problema em nossa região.
- Que problema?
- Vampiros.
- Vampiros?
- Isso. Mas não são vampiros comuns, esses tem dons especiais, são diferentes...os locais não são uma ameaça, já os nômades, como...
- Eu...você sabe...
- Mas você parece ser boa...você nos ajudou. Cuidou de mim e da Lilly.
- Como você percebeu o que eu sou?
- Convivi anos com os da sua espécie.
- Então você sabe que não se deve confiar em nós...em mim principalmente...
Ela baixa a cabeça...
- Dara...Você é boa, é inteligente, é linda, você é incrível em todos os sentidos. Não se menospreze.
- Você não me conhece, Bernardo. Não sabe quem eu sou...de verdade.
- Ei...
Eu olhei em seus olhos...havia tanta tristeza ali que me incomodava, eu queria beija-la...estamos tão próximos que eu sentia a respiração dela em meu rosto...tão perto...
- Voltei!
Nos afastamos rapidamente.
- O que vocês estavam aprontando?
- Nada, Lilly.
Eu amo a minha filha, mas as vezes...
- Sei...

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