13 - Dara

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Dara narrando

Já faziam alguns dias que o Bernardo tinha ido embora, minha rotina continuava a mesma, reuniões, visitas, chás, a mesma de sempre, menos a noite, era onde eu chorava até dormir com a dor me sufocando e o peito apertado. Algumas vezes o Arthur vinha ficar comigo e dividíamos a dor, o vazio, mas não era justo com ele, eu me sentia um lixo por ver ele tentando esconder as lágrimas e passar o dia exausto por ter tentado me ajudar. Por isso eu o expulsava, mas ele sempre voltava. A Lilly não estava tão diferente de mim, mas meu pai vivia falando com ela, e ela tinha o Philip. O papai sempre estava rodeando ela e quando eu tentava falar com ele, ele simplesmente sumia.
A ameaça da "tia" Camila ainda pairava sobre todos, as escoltas haviam sido aumentada para todos. Meus pais e meus avós, assim como a Amélia, praticamente não saiam dos muros do castelo. Nenhum movimento tinha sido feito, o que deixavam a todos ainda mais apreensivos.
Eu não tinha mais voltado para a fazenda, doía muito. Quando não estava em missão real passava a maior parte do tempo no meu quarto, pensando, chorando.
- Dara, podemos conversar?
- Principe Phillip, oi...claro. Entra, por favor. Me fala, o que houve? Algum problema com a Lilly?
- Não, está tudo bem com ela.
- Então sobre o que quer falar?
- Sabe, Dara, eu sempre tive inveja do Keylan. Sempre quis o que ele tinha. A família, os amigos, a admiração do povo, o respeito de todos...
- Eu sei.
- E eu sei que você sabe. E quando eu conheci sua mãe, eu pensei que finalmente ia estar um passo a frente dele, mas vocês já existiam. E já tinha outro pirralho a caminho. - ele riu - E meu ódio por ele só aumentou. Até que certa noite, uma pirralha invadiu meu quarto...

Flashback on
"- Oi...
- O que você quer? Não vê que estamos conversando?
- Você vai encontrar ela...
- Ela quem?
- A que vai fazer você mudar de idéia....
- Como assim? Ei...pirralha...o que você quis dizer?"
Flashback off

- Você me deixou bem confuso naquele momento. Eu não entendia na época o significado do que você disse, mas hoje eu entendo. Hoje eu entendo o que o Keylan sente pela Gabrielly, o que o Kemuel sente pela Sarah, o que o Dylan sente pela Lotte e entendo o que você sente pelo Bernardo...e eu mudei de ideia, Dara.
- Phillip, eu...
- Não, só escute. Eu sou estrategista, Dara, eu sei reconhecer quando um território está indefeso, e eu sinto isso em você. Você não pode baixar a guarda, sobrinha. Não agora. As pessoas vêem que você não está bem, e isso pode não ser bom. Elas podem tentar usar isso contra você.
- Então o que eu tenho que fazer? Fingir que está tudo bem? Mascarar minha dor, fingir que a partida dele não me afetou? Não me machucou?
- Infelizmente sim, Dara. Você precisa ser forte, você sempre foi. Você sempre foi destemida, a corajosa, aquela que enfrenta tudo de cabeça erguida. Que não se deixa abalar fácil.
- Eu não consigo.
- Consegue sim. Apesar de você não perceber tem muita gente que se espelha em você. Olha, quando ele puder voltar, pode ter certeza que ele volta. Eu voltaria pela Lilly.
E ele sai sem falar mais nada. Me deixando em dúvida.
- Quer saber? O Philip tem razão. Se ele voltar estarei aqui, se ele não voltar, vou encontrar uma forma de sobreviver sem ele. A pergunta é como?
Essa resposta não foi difícil de encontrar, mais reuniões, mais visitas, estava tão enjoada de tomar chá que não aguentava nem sentir o cheiro. E tinha o casamento do Philip e da Lilly para planejar. Não sobrava muito tempo para pensar em nada. Certo dia eu estava no meu quarto, pensando, quando o Arthur entra...
- Dara, a mamãe... você está chorando de novo?
- Está tudo bem, príncipe. Estava só olhando umas fotos antigas da gente. O que a mamãe quer?
- Você sabe que eu posso...
- Eu sei, mas você não vai...não precisa príncipe.
- É por causa do Bernardo, não é?
- Não é só por ele, Arthur.
- A Lilly também está assim.
- A Lilly...
- O papai foi falar com ela... estão querendo adiar o casamento.
- Como você sabe disso, espertinho?
- Eu estava passando perto do salão e ouvi.
- Sei.
- A mamãe quer falar com você.
- Já estava indo falar com ela.
Ele beijou minha bochecha.
- Te amo.
- Também te amo.
- Vou procurar o Mathew.
E saiu correndo do quarto.
- Cuidado, Arthur.
Minha mãe fala entrando no quarto.
- Já estava indo falar com a senhora.
- Eu sei. Que tal irmos pro pomar.
- Mãe...
- Você sempre foi apaixonada por aquele lugar.
- Eu sei mas...
- Já fazem três semanas Dara. Você precisa levantar.
Um suspiro, e as lágrimas já querem sair. Eu respiro fundo e mudo de assunto. Eu não posso estar tão sensível assim.
- O que a senhora queria falar comigo?
- O casamento da Lilly e do Philip foi adiado.
- Eu sei.
- Como?
- O Arthur me contou.
- E como aquele espertinho descobriu? Não importa, o casamento foi adiado, mas tem coisas que não podem ser.
- Do que a senhora está falando?
- Filha...
Ela senta na cama.
- Mãe, do que a senhora está falando?
- As tropas da Camila estão se movimentando, e são maiores do que esperávamos.
- O que a senhora quer dizer com isso?
- Precisamos de uma aliança ou iremos perder.
- E o que eu tenho haver com isso?
- Precisamos que você se case.
- Impossível.
- Mas filha...
- Mãe, eu não vou me casar com ninguém.
- Por que, filha?
- Mãe, eu tô grávida. Grávida,esperando um filho...do Bernardo.
- Oh, filha...
E o choro que eu vinha segurando saiu sem esforço. Minha mãe me abraçou, deitando comigo na minha cama.
- Calma, filha...vai ficar tudo bem. Vai ficar tudo bem. Calma...
Com os braços dela em volta de mim, sentindo ela fazendo cafuné na minha cabeça eu caí em um sono profundo, com a muito não acontecia.

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