Boa leitura
Maya teve pesadelos durante toda a noite, por isso, em algum momento, deve ter abraçado Jeff. Ela saiu lentamente dos braços do mesmo, e foi tomar banho. Alguns minutos depois, quando saiu, Jeff já não estava mais na cama, o que a assustou. Correu imediatamente até a sala, em busca do rapaz, que apenas estava revirando o armário, mas, parou ao perceber a presença da mesma.
— Desculpe...estava com fome.
— Não se preocupe, olha, senta alí, vou fazer algo pra você, tem alergia a alguma coisa?
— Só não faz sopa, não aguento mais.
Maya riu um pouco, realmente, naquele lugar essa era a única comida que serviam, não admira que Jeff não queira vê-la tão cedo. Resolveu fazer umas panquecas, um de seus pratos favoritos, imaginou que Jeff não via algo assim a muitos anos.
Despejou o mel com cuidado sobre as panquecas, e as colocou cuidadosamente nos pratos, servidos junto com um café amargo. Jeff comia feito um animal, parecia nunca ter visto comida em sua frente. Maya, observava tudo, enquanto também comia.
— Eu vou precisar que você fique só por algumas horas, preciso comprar comida e roupas para você.
Jeff fez sinal positivo com a cabeça, e continuou comendo. Maya pegou sua bolsa de couro preta, e saiu. Chegando na loja, a mesma teve dúvida por alguns instantes, mas, conseguia achar peças que imaginava caber no físico do rapaz. Depois, foi no mercado, comprar frutas, legumes, entre outros produtos necessários para sobreviver a dois. Ela até achava essa palavra estranha, "viver a dois", afinal, nunca teria morado com outra pessoa, sem ser seus próprios pais.
Chegou em casa antes do almoço, Jeff estava adormecido no sofá agarrado a um saco de batatinhas assadas. Maya sorriu, ele finalmente estava fazendo algo diferente, que não fosse ficar preso e ser torturado noite após noite. Não conseguia sentir remorso nenhum pela morte de Ramon, e isso a assustava.
Preparou um almoço comum, não era lá uma das grandes cozinheiras, mas, sabia se virar muito bem. Seu telefone vibra no bolso, era Richard, extremamente preocupado com a situação. Maya atende a ligação.
— Eu só tô ligando pra te avisar que estou na sua porta dos fundos, e eu vou entrar.
Ele sabia muito bem que Maya arrumaria alguma desculpa para não vê-lo depois daquilo, então tiraria suas dúvidas chegando dessa maneira, de surpresa.
— Richard, eu te falei pra deixar isso pra lá.
— Olha não dá. Você começa a trabalhar em um lugar super misterioso, volta com um rapaz extremamente estranho pra casa, feridos à bala, seu cabelo está todo detonado, você está sem algumas unhas e eu sei muito bem que isso é marca de tortura, então você vai me contar cada detalhe dessa história.
— Tudo bem…
Maya sabia que não podia esconder nada dele, então resolveu contar apenas a ele, ninguém mais saberia daquela situação difícil. Enquanto contava, observava Jeff, para ver se estava acordado.
— Então você tá dizendo pra mim que tem um serial killer dormindo no seu sofá?
— Olha, ele é meu paciente e você sabe que aquele lugar era desumano…
— Maya você já parou pra pensar que ele pode… sei lá, te matar enquanto dorme?
— Ele não vai fazer isso.
— E como droga você me garante isso? Eu tô preocupado, mel.
Ele a chamou pelo apelido carinhoso, estava muito preocupado, afinal, sabe-se lá o que Jeff the killer poderia fazer a ela.
— Vai ficar tudo bem, apenas, guarde esse segredo pra mim, tudo bem? Por favor…
— Certo, vou guardar.
Maya deu-lhe um abraço apertado, e Richard foi embora, ele tinha plantão, afinal, seu trabalho era um pouco corrido. Maya resolveu acordar Jeff, para almoçar, balançou o mesmo, de leve, até ele despertar.
Jeff acordou em um susto, sentando no sofá com as mãos sobre os cabelos, levantando lentamente.
— Você ainda sonha com ele, não é?
Maya pergunta, a expressão no olhar de Jeff demonstrou que a mesma estava certa. Seus lábios cerrados e sua cicatriz mal curada na boca, o olhar cansado, morto, o cabelo sujo, bagunçado, marcas de sofrimento. Maya sabia muito bem, que ninguém tornava-se psicopata por acaso.
Boa parte do motivo de Jeff, era sua família, pelas fotos, relatos, parecia muito bem que Jeff sequer participava da família, e isso não era culpa dele. Talvez, sua infância tenha sido tranquila, pelo menos, até seus onze anos, mas, quando os hormônios da adolescência começaram a florescer, não souberam lidar com o gênio que apareceu.
Mas obviamente, isso não era motivo para excluir o menino das fotos, momentos, isso era deplorável. Tudo o que conseguiram criar, foi um garoto traumatizado. Principalmente, quando os garotos o machucaram daquela forma, foi o estopim para a saída de toda a sua maldade. Mas, Maya não fazia ideia do que tinha ocorrido, todavia, sabia que havia alguma coisa que precisava ser esclarecida.
O almoço foi tranquilo, o lugar permanecia em silêncio, não sabiam sobre o que conversar, chegava até mesmo a ser um pouco tenso. Maya termina de comer primeiro, indo buscar nas sacolas algumas das roupas que tinha comprado, tentou inspirar-se nas roupas que ele utilizava antes de ser preso, como, moletons, calças, coisas com cores neutras, algo que ele pudesse gostar de vestir, afinal, teria passado muito tempo com roupas de hospício.
Entregou a muda de roupas nas mãos no rapaz, que pediu para que o mesmo tomasse um banho, indo buscar uma toalha própria para o mesmo, que não fosse a suja de sangue da noite passada. Deixou a toalha sobre a pia, enquanto Jeff estava no meio de seu banho.
Lembrou-se rapidamente de que guardava algumas coisas no porão, coisas que utilizava em sua adolescência, e que talvez, pudesse animar Jeffrey. Desceu as escadas velhas e empoeiradas, já fazia tempo desde a última vez que visitou o lugar, por isso, tossiu um pouco, por conta da poeira. Viu seu skate encostado na viga de sustentação, ele estava em perfeito estado. Pegou, e voltou rapidamente para a sala, vendo Jeff sair do banheiro vestido com um moletom preto e uma calça de tecido cinza, enxugando seus cabelos negros, distraído.
Chegou perto, com o skate em mãos, fazendo Jeff parar e olhá-la seus olhos tomaram um tom mais vivo, sua pupila dilatou um pouco, e seus lábios ficaram entreabertos. Maya entrega o skate ao mesmo, que o segurou por alguns instantes, depois, colocou no sofá, com as rodas para cima.
— Eu sabia que gostaria disso.
— Sim, eu gostei.
— Não sente vontade de andar agora?
— Maya, eu sinto sim, muita vontade de andar nele. Mas, não supera a vontade que tenho de cometer um grande pecado.
Jeff aproxima-se da mesma, colocando seus cabelos atrás da orelha, segurando em seu rosto e suas costas. Maya permanecia parada, permitindo que o mesmo a conduzisse, e finalmente, sentir seus lábios serem tocados, levemente, e aos poucos, vorazmente.
— Cometa este pecado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Experiment
FanfictionCONCLUÍDO Até onde um psicopata iria para conseguir aquilo que quer ? Até quando, ele torturaria as pessoas, e retiraria aquilo que lhe fosse útil, e depois jogasse fora? Como poderia agir, de tal forma, uma mente insana? FanficObsession