Capítulo 1 - Dia frio.

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Zarina Denovan

   Um barulho irritante me acorda, de olhos fechados estendo a mão tentando parar aquele som que estava preste a me fazer enlouquecer. Consigo finalmente encontrar meu celular, trago ele até a altura do meu rosto e quase me cego com a luz que ele transmite quando abro os olhos, desativando o despertador.

   E com um longo suspiro percebo... outro dia está começando, que droga!

  Depois de pronta caminho até o escritório do meu pai, preciso imprimir alguns papéis da escola, entro no cômodo e enquanto escuto a impressora fazendo o meu trabalho dou uma olhada ao redor.

Os livros estão organizados em ordem alfabética na parede atrás da mesa, os vidros da grande janela que me dá a visão do jardim estão sem marca alguma, o carpete está limpo e não se tem um único cisto de poeira em cima da mesa de madeira maciça. Eu não tenho dúvidas que esse é o cômodo da casa mais organizado, o lugar que meu pai passa a maior parte de seus dias.

Por saber desse fato, me surpreendo muito ao ver uma pasta amarela em cima da mesa. Normalmente, preciso abrir as gavetas com a cópia da chave que roubei dele, para eu conseguir ler os artigos e não ficar cega nesse mundo aonde monstros são reais.

Caminho até a mesa, com as pasta amarela em mãos eu abro. Sinto meu coração bater forte, o medo de chegar alguém e me flagrar faz com que minhas mãos comecem a tremer.

- Contrato de regras e confidencialidade sobre o... - Minha voz morre, o mundo ao meu redor para.

Minha respiração está irregular, a tremedeira em minhas mãos se torna insignificante o suficiente para desaparecer, o meu coração se afunda em meu peito. E assim, coloco a pasta aonde achei, com calma caminho até a impressora removendo minhas folhas prontas, colocando a mochila nas costas eu saio as pressas do escritório.

Desço as escadas correndo e só paro quando sinto o ar gelado entrar em atrito com meu rosto, caminhando até meu carro entro já jogando minha mochila e as folhas no banco do passageiro e antes de retirar o carro, ligo para minha irmã deixando no viva voz.

- Zarina, querida? - Ela pergunta assim que atende. - Está tudo bem?

- Eu estou prometida a casamento - Digo vazia - Eu sabia que iria acontecer algum dia mas... já aconteceu anos atrás.

- Eles te contaram? - Ela pergunta incerta.

- Não, eu descobri quando fui ao escritório do papai essa manhã para... - finalmente processo sua pergunta - Você sabia? ai meu deus, Victoria! - Grito ao telefone enquanto sou obrigada a parar no sinal.

- Sim, mas não fique brava... - sua voz fica distante, não consigo entender o que ela diz a seguir. É como se ela tivesse afastado o telefone para conversar com alguém.

o sinal do semáforo fica verde nesse meio tempo, fazendo com que eu prossiga meu caminho.

- Zarina, é o Anthony - A voz masculina diz do outro lado da linha em um tom de preocupação. - Ficará tudo bem, estaremos aí pela tarde no horário de Chicago.

- Anthony... todos sabiam, não é?

- Sim, Tesoro - meu cunhado pronuncia as palavras em forma de derrota e o apelido em italiano saí de forma carinhosa, quase paternal. - Mas pense pelo lado bom, você já fala russo! - Ele solta uma risada em forma de brincadeira.

- Vocês sabem a tempo demais! - Grito ao me lembrar que foi os dois que me fizeram aprender russo, escondido de meus pais. E então desligo.

Após a escola, dirijo até o escritório da minha psicóloga. Não é comum que uma filha da máfia tenha acompanhamento psicológico, mas após muitas situações minha irmã, Victoria, bateu de frente com meu pai até que ele me permitisse isso, mas ninguém além da minha família mais próxima sabe.

- Boa tarde, Zarina. - A Doutora me oferece um sorriso. - Como está hoje?

Todos os dias são a mesma coisa, após a escola tenho de passar duas horas no consultório da Dra. Giordana, aonde a mesma tenta, a todo custo, me fazer contar momentos que já passei. No final da cessão, ela sempre parece exausta por só conseguir tirar de mim o que estou sentindo e não o que me fez sentir assim.

Enquanto passo pela recepção ouço meu nome ser chamado, minha atenção é levada para um homem alto de cabelos negros e olhos azuis, muita fumaça cerca seu terno de três peças, por conta do cigarro que está pendurado em sua boca. Sua barba está bem feita e ele veste preto por inteiro.

E tudo, absolutamente tudo nele grita "Russo".

  

Branco não, eu prefiro vermelho - Drakon's IOnde histórias criam vida. Descubra agora