34. Enquanto Houver Razões.

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LORENZO.

“Eu só queria que alguém soubesse o quanto ela era importante para mim.”

A formatura era em um mês, mas seu pudesse sair da escola antes, teria o feito. No primeiro dia de volta depois da morte de Andrea, nossa mesa estava vazia. Lila não apareceu, Thalys e Matthew estavam sentados juntos com outras pessoas, Carly se sentou sozinha, deixando claro com sua expressão que não queria nossa presença. Isso continuou pelos dias seguidos e aos poucos fui percebendo que havia perdido meus amigos. Mesmo que eles não pudessem ter certeza, no fundo eles sabiam que eu havia matado Andrea. Foi um erro pensar que eu poderia me misturar à eles. Um grande erro. 

— Animada com a viajem? — Perguntei quando Jhenifer e eu nos sentamos numa mesa vazia do refeitório. Ela estava estranha há alguns dias e eu não conseguia compreender o porquê. 

— Sim. Eu só fui para a Itália quando era criança. — A ruiva deu de ombros. — Acho que vai ser incrível. É um país muito importante para nós.

— Aconteceu alguma coisa? — Acabei por perguntar. Não conseguia mais fingir que ela estava normal. Jhenifer me encarou confusa. — Eu fiz algo? Você está estranha. 

— Eu só fico ansiosa antes de viagens importantes. — Jhenifer desviou o olhar, algo que sempre fazia quando estava mentindo. 

— Você pode me contar qualquer coisa. — Sussurrei pegando sua mão sob a mesa. Jhenifer suspirou com um olhar cansado. 

— Eu não quero falar sobre isso, Enzo. — Ela confessou usando o apelido que eu tinha quando pequeno. — Só quero ficar aqui, com você. Tudo fica bem quando estou com você.  

Eu assenti mesmo quando a preocupação me tomou. 

Os dias continuaram estranhos, mesmo que Jhenifer tivesse adotado um comportamento mais animado. Os cansativos dias escolares e as provas finais estavam, felizmente, chegando ao fim. Carly havia voltando a conversar comigo tranquilamente, mas os outros três continuaram reclusos entre eles. Naquela manhã nublada de sábado, meu pai havia saído cedo para resolver algumas coisas antes da viajem à Itália e eu aproveitei minha oportunidade. Meu prazo terminava no dia seguinte e por mais que doesse mais do que qualquer outra coisa, eu precisava roubar meu pai se quisesse continuar mantendo minha relação em segredo. 

A tela se iluminou quando abri o notebook. Eu não precisava testar várias combinações, sabia a senha, e digitar a data do meu aniversário fez meu coração se apertar ainda mais. O que piorou quando abri o desktop e o plano de fundo era uma foto em família, com Anna, mamãe, papai e eu no aniversário de quinze anos da minha irmã. Eu não podia pensar no quanto aquilo era errado, não podia deixar a culpa me tomar. Meu prazo terminava amanhã, eu precisava terminar aquela tarefa árdua. Abri o programa bancário, navegando pelas telas de investimentos até entrar na conta do exterior; a última transferência daquela conta havia sido oito meses antes, um sinal de que papai mexia nela raramente. Tirei do bolso o papel amassado com os dados bancários da conta irrastreável e digitei tudo com o máximo de cuidado para não errar. Depois de conferir tudo por cinco vezes, transferi o dinheiro. Ele nunca saía com aquele notebook de casa porque ele era programado para fazer tudo sem precisar de várias e várias senhas ao longo dos processos. Quase ri ao pensar o que ele diria ao saber que seu próprio filho tinha se aproveitado disso. Fechei o computador, deixando-o no mesmo lugar que estava quando cheguei, e saí do escritório. 

EU: Feito.

Enviei o SMS para o número que Luca havia me passado e desci as escadas em passos rápidos, o coração acelerado no peito. A ansiedade era dolorosa, emocionalmente e fisicamente; cada célula do meu corpo parecia prestes a quebrar em milhares de pedaços. 

CINZAS - Saga Inevitável: Segunda Geração. Onde histórias criam vida. Descubra agora