46. Bird Set Fire.

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JHENIFER.

But there's a scream inside that we all try to hide
We hold on so tight, we cannot deny
Eats us alive, oh, it eats us alive, oh
Yes, there's a scream inside that we all try to hide
We hold on so tight, but I don't wanna die, no
I don't wanna die, I don't wanna die, yeah


Eu saí do quarto pela primeira vez, dois dias depois de chegar em New York, apenas porque eu já não aguentava mais a dor de estômago por falta de comida. Devon estava na sala junto de papai e quando me viu, ele pulou de pé e me abraçou apertado, tão apertado que eu arquejei, mas isso não me impediu de o abraçar com ainda mais força. 

— Lorenzo está bem. — Ele sussurrou tão baixo que por pouco não ouvi. Lentamente meu irmão se afastou e beijou minha testa. — Como você está? 

Meu coração acelerou pela onda de alívio que me tomou. Se Lorenzo estava bem, eu poderia enfim respirar sem sentir que estava me afogando. 

— Estou com fome. — Disse-lhe. Papai não ergueu os olhos da tela do notebook, mas eu tinha certeza de que ele estava ouvindo a conversa. 

— Vamos até a cozinha pegar algo para comer. — Ele ofereceu estendendo a mão. 

— Não. Um dos dois fica. — Papai ordenou sem nem mesmo nos olhar. De costas para ele, meu irmão revirou os olhos. 

— Senta, vou buscar um lanche. — Devon beijou meu rosto antes de se afastar e eu tomei meu lugar no sofá. Suspirei. Meu pai havia até mesmo colocado uma câmera de frente para a porta do meu quarto, eu era uma prisioneira dentro da minha própria casa. 

A única coisa que me impedia de dar fim àquilo era a esperança de rever Lorenzo em algum momento. Devon voltou com um prato de salada e carne; quase ri quando percebi que não queria comer a salada de sempre e sim algo gorduroso. Pelo menos um milkshake com hambúrguer me daria alguma satisfação, mas ainda assim, aceitei o prato com um sorriso agradecido e o coloquei sobre minhas coxas, usando o garfo para espetar um pedaço de carne de frango. 

— Não coma rápido. Você está sem comer tem tempo, pode enjoar. — Meu irmão advertiu quando comecei a comer rapidamente. Ele não sabia que isso já era um hábito; passar dias sem comer e depois comer demais. 

— Como você está? Sua formatura está quase chegando. — Perguntei tentando distrair minha mente. Devon deu de ombros. 

— Já passei em todas as provas finais, estou indo mais para ver meus amigos. — Ele abriu um sorriso faceiro, mostrando bem de qual amigo falava. Depois do que aconteceu entre mim e Lorenzo, ele não deveria vacilar assim. Como mamãe tinha dito, o que impediu papai de me machucar foi ser mulher. 

— Que bom. Fico feliz. — E eu realmente ficava, apesar de estar absurdamente preocupada. — Você está levando isso bem. Você sabe… 

— Você já terminou de comer? — Meu pai perguntou com uma voz dura, cortando o assunto. Devon revirou os olhos. 

— Você o ama, eu entendo. — Meu irmão disse apenas mexendo os lábios e se colocou de pé, provavelmente para despistar papai. 

Eu respirei fundo. Como pude pensar que meu irmão me julgaria, que seria cruel? Ele me amava e além disso, sabia bem como era amar alguém que não deveria. Meus olhos se encheram de lágrimas. 

CINZAS - Saga Inevitável: Segunda Geração. Onde histórias criam vida. Descubra agora