LORENZO.
"Como se uma fodida mudança de cabelo pudesse faze-la se tornar menos do que a mulher mais linda que eu já tinha visto."
A viajem terminou no dia vinte e nove de dezembro. Pensei que todos concordariam que não havia a mínima chance de passarmos o ano novo juntos depois de toda a merda que aconteceu, mas pelo visto, os adultos daquela maldita família eram um bando de idiotas. Todo mundo fingiu que nada havia acontecido e saiu por isso mesmo. Agora, estávamos todos na extravagante mansão de Thomaz nos comportando como uma família feliz.
Eu não podia acreditar.
No dia trinta e um de dezembro, eu queria que o ano acabasse e que me levasse junto. Pela primeira vez na vida não fingi que estava confortável com a situação, simplesmente passei a ignorar todo mundo, me dando ao trabalho de responder apenas minha irmã e primos.
- Depois da confraternização, Lorenzo e eu vamos sair. - Devon informou durante o café da manhã, olhando diretamente para o pai. Era a primeira vez que ele falava com ele publicamente. - Queria saber se Jhenifer pode ir conosco.
- Onde vocês vão? - Meu pai perguntou olhando para mim com as sobrancelhas arqueadas. Até para ir na padaria eu pedia autorização a ele, mas naquele dia, eu não me importava. Eu estava comunicando que estava saindo, não pedindo para que ele deixasse.
- Onde vamos mesmo? - Perguntei a Devon. Era claramente uma forma de não responder Nico diretamente e ele sabia disso.
- Andar na rua, vê a Times Square iluminada, coisa assim. - Devon deu de ombros. - Jen pode ir?
- Desde que vocês não entrem no meio da multidão da Times, ela pode ir. - Thomaz autorizou sem desviar os olhos do café preto em sua frente.
- Onde está a Jhenifer falando nisso? - Perguntei a Thomaz franzindo as sobrancelhas. Depois de olhar ao redor novamente, fiquei ainda mais confuso. - Na verdade, onde estão as mulheres dessa casa?
Só agora percebi que não havia nenhuma das mulheres na mesa. Apenas Nico, Nino, Thomaz, Devon e eu. Eu sabia que Luca e Gabriel haviam ido dormir na casa de Samael, mas não fazia ideia de onde estavam minha mãe, tias, primas e irmã.
- Salão de beleza. - Tio Nino disse olhando fixamente para a montanha de panquecas no meio da mesa. Meu pai suspirou e pegou uma panqueca, colocando-a no prato de seu irmão gêmeo. Eu não entendi o que havia sido aquilo, nem o olhar agradecido do meu tio antes de começar a comer. Porque ele simplesmente não pegou a porra da panqueca?
Me levantei da mesa sem dizer nada. Eu havia, também, perdido a educação, assim como a fome. Desde o dia que descobri o que meu pai fez, eu não conseguia comer. A raiva e a decepção eram tão grandes que formavam um nó no meu estômago e um bolo na minha garganta. Eu estava vivendo a base de água, Gatorade e ódio.
Uma bela combinação para o ano novo.
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O reflexo no espelho era engraçado de se observar. Em todos os dias do ano, eu usava roupas escuras, mas no ano novo cedia a tradição do branco. Não totalmente, mas ainda assim... Calça jeans preta, tênis preto, camisa branca. Se eu tomasse um banho de sangue, pelo menos a calça podia ser reutilizada.
- Pelo menos você trocou de camisa. - Jhenifer zombou entrando no quarto de hóspedes sem sequer bater. Levei a mão ao peito, estremecendo de susto por um momento.
- Você podia pelo menos bater. - Meio que brinquei, meio que censurei. Jhenifer sorriu, mas não era um sorriso verdadeiro.
Havia algo diferente em sua aparência. Não era o vestido branco - tão justo que deu ideias ao meu pau - nem mesmo a maquiagem um pouco mais carregada. Era... O seu cabelo?
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CINZAS - Saga Inevitável: Segunda Geração.
Romance» Esse é o quinto livro da Saga Inevitável, retratando a segunda geração, os filhos dos casais principais. Você precisa ao menos ler o primeiro e o segundo livro da saga para compreender esse, mas receberá spoilers dos outros dois. « Vida, morte e s...