32. Cedo Ou Tarde.

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LORENZO.

“Me sinto só, mas sei que não estou, pois levo você em pensamento.”


Meu pai estava sentado na mesa de jantar com vários papéis espalhados e com o rosto enterrado no notebook. Seus cabelos haviam começado a crescer de novo, estavam no queixo, e a tonalidade amarela brilhava na luz do sol que entrava pelas janelas do chão ao teto. 

— Jhenifer está bem? — Ele perguntou sem desviar os olhos da tela. 

— Sim, ela já voltou a falar comigo. Entendeu que foi necessário, só ficou assustada. — Não deixava de ser verdade, ainda que fosse uma grande mentira. Como eu tinha começado a contar meias verdades ao meu pai? Quase ri ao pensar nisso. Não era uma meia verdade, era uma mentira e ponto final. Não existia isso de quase verdade ou quase mentira. Eu estava mentindo para ele. 

Papai assentiu se levantando para ir até o bule de café e lancei um olhar para a tela do notebook. Havia uma enorme lista de contas a pagar, funcionários a serem remunerados, armas a serem compradas. Respirei fundo ao me dar conta de algo. Se eu fizesse a transferência do dinheiro pelo computador do meu pai, ninguém saberia que foi eu. A conta que Luca passou era irrastreável, mas o computador de onde sairia a transferência não. Se eu usasse o notebook dele e uma das contas que mal acessavamos, eu teria meses até que alguém descobrisse. Meses para pensar numa solução. 

— Você está bem? Está meio pálido. — Papai disse ao voltar a se sentar. — Eu sei que ele era seu amigo. 

Meu estômago se revirou. Enquanto eu pensava em rouba-lo, ele se preocupava comigo. Pesar tomou conta de mim ao perceber que eu havia me tornado um filho que papai não reconheceria. 

— As vezes fazer o que é certo não é nada… Bom. — Murmurei trocando o peso de um pé para o outro. Eu precisava daquele notebook o mais cedo possível, meu tempo estava se esgotando. 

Pra que você precisa de dez milhões de dólares? — Perguntei a Luca extremamente desconfiado. O homem sorriu.

— Não pense assim. Pense que se você não providenciar o dinheiro, Thomaz e Nico irão saber sobre você e Jhenifer. — Luca deu de ombros fazendo com que a vontade que eu tinha de mata-lo aumentasse ainda mais. — Você tem até o dia três de fevereiro, Lorenzo.

— Eu sei. — Papai disse resignado. — Sinto muito pela situação, Lorenzo.

— Você falou com o pai dele? — Perguntei sem tirar os olhos do notebook. Qual seria a senha de acesso? Talvez o aniversário de minha mãe? 

— Sim. — Papai suspirou. — Ele não acreditou, disse que seu filho não usava drogas e que nunca desrespeitaria seus superiores. Foi uma conversa difícil. A mãe dele… Céus. Eu nunca vi uma mulher chorar tanto. 

Meu coração doeu e meu estômago se tornou pedra quando ouvi aquilo. Coloquei a mão em punho sobre a barriga, apertando com força para tentar conter aquela sensação doentia. Não adiantou. Me curvei para frente, algo profundo e doloroso se quebrando dentro de mim. 

— Lorenzo? — Papai chamou se levantando abruptamente. Eu solucei quando as lágrimas queimaram meus olhos. 

Eu nunca tinha me sentido um monstro até aquele dia, mesmo que já tivesse matado e até mesmo torturado, eu nunca me senti tão profundamente culpado. Se papai soubesse o que eu tinha feito, os motivos egoístas que me levaram a assassinar meu amigo, ele não estaria me abraçando apertado, não estaria sussurrando palavras de conforto enquanto acariciava meu cabelo. Chorei ainda mais alto, a culpa me invadindo como se fosse um fodido tsunami. Nunca nada na vida me doeu tanto. 

CINZAS - Saga Inevitável: Segunda Geração. Onde histórias criam vida. Descubra agora