9. Ciumeira.

3.8K 336 81
                                    

LORENZO.


Mantenho meus olhos fechados,
porque nos meus sonhos posso te encontrar.



Me joguei no sofá da sala de jogos disposto a passar o resto do dia de olhos fechados e com os pés para cima. Não foi o que aconteceu. Quarenta minutos de inteira inércia se passaram até que um enviado de satanás viesse me perturbar. Me arrependi do xingamento assim que comprovei que o enviado era meu próprio pai. 

— Dormindo sentado? — Pai perguntou sentando-se ao meu lado. Desde o dia em que ele dormiu sentado em uma reunião com os subchefes, ele havia perdido o direito de me zoar. 

— É mais fácil para reagir em caso de ataque. — Dei de ombros com a ironia. Na verdade, eu só sentava ali quando estava tão cansado, mas tão cansado, que nem conseguia chegar a cama. 

— Que bom que você está me respondendo outra vez. — Meu pai comentou com uma risada irônica, mas havia alívio em seus olhos. O que eu mais gostava dele era o fato dele sempre me respeitar. Não quis conversar por dias depois daquele teste e ele entendeu, sem pressionar. — Sinto muito, filho. 

Deixei meu corpo pender para a esquerda e encostei minha cabeça no ombro do loiro. Era difícil ficar irritado com ele, principalmente quando a culpa não era, de fato, dele. 

— Eu só me senti mal. Eu não sabia que a arma estava descarregada. Eu teria matado uma criança simplesmente porque… — Respirei fundo, consternado. — Porque você pediu. 

— Eu nunca vou te pedir algo assim verdadeiramente, Lorenzo. — Meu pai prometeu, traçando meus cabelos conforme eu me apoiava ainda mais contra seu ombro. — Eu nunca vou te magoar dessa forma verdadeiramente, lembre-se disso, meu amor. Nunca. 

— De fato, você é o melhor pai do mundo. — Zombei, mas não era uma brincadeira. Nico Parisi era o melhor e mais digno homem que eu já havia conhecido. Era fácil ser leal a ele; ele era perfeito. — Você só veio saber se eu já tinha te perdoado? 

— Na verdade não, mas isso foi bom de descobrir. — Papai riu e depositou um beijo na minha testa. — Jhenifer quer sair com nosso soldado, Andrea e outros dois amigos: Lila e Thalys. Eu conheço Andrea e já chequei os precedentes dos outros dois, ambos sem ficha na polícia e notas excelentes na escola. Lila faz diversos trabalhos de caridade e Thalys é um exímio músico que toca na orquestra municipal. Mas, ainda assim, gostaria da sua opinião. Você convive com eles diariamente. Se não me engano, é deles que você falou naquele jantar, sim? 

Por um momento eu apenas encarei a sala de jogos, trilhando o caminho entre as mesas de sinuca, televisões com todos os tipos de videogames. Andrea havia chamado Jhenifer para sair em grupo ou usou o grupo para levá-la para sair porque sabia que ela nunca seria autorizada a sair só com ele? Talvez fosse isso que eu precisasse; vê-la com outro, saindo com outro, se apaixonando por outro. Assim eu me manteria longe dela, mesmo que tivesse certeza que o sentimento nunca passaria. 

— Eles são legais e Andrea é responsável. Jen está em boas mãos. — O apelido trouxe um gosto amargo a minha boca. 

— Porque você não vai com eles? — Papai perguntou. — São seus amigos, sim? 

— São, mas eu estou cansado demais pra isso. — Murmurei com desinteresse. De jeito algum eu sairia com Jhenifer. Quanto mais longe eu me mantivesse dela, melhor. 

Muito melhor. 

Horas mais tarde, quando a noite caiu e eu me cansei do sofá da sala de jogos, migrei para o sofá da sala de estar. O jogo de baseball estava interessante, mas não o suficiente para prender minha atenção. Principalmente quando Jhenifer desceu as escadas. 

CINZAS - Saga Inevitável: Segunda Geração. Onde histórias criam vida. Descubra agora