LORENZO.Todo dia eu acordo e meu primeiro pensamento é você.
|Eu estou triste porque vocês não estão comentando. Vocês não me amam mais, é isso? Tá bom, já entendi. |
— Isso é tudo? — Tio Thomaz perguntou dando por encerrada nossa reunião semanal.
— Sim. — Manoel Giordano respondeu secamente. Não havia nenhuma semelhança que dissesse que ele era meu tio, irmão de sangue do meu pai, exceto pelos olhos cinzas. Seus cabelos eram pretos, o exato oposto dos Parisi, mas isso não era uma surpresa. A cabeleira loira havia sido herdada de meu avô e Manoel era filho apenas de minha avó. Eu não cheguei a conhecer nenhum dos dois e pelas histórias, eu estava feliz por isso. Antes que alguém mais pudesse responder, Manoel desligou a ligação, assim como sua Consigliere, Liliana. Apesar de serem meus tios, eu os chamava apenas pelo nome.
— Ele ainda está irritado com a morte do filho. — Samael comentou arqueando as sobrancelhas. Meu tio mais novo era uma incógnita. Em um momento, engraçado e descontraído, segundos depois irritadiço ou sério demais. Eu desconfiava que ele tinha bipolaridade, mas nunca falei isso em voz alta. Não havia espaço para problemas psicológicos para homens na máfia.
— Não deve ser fácil perder um filho. — Tio Nino murmurou com um olhar perdido. — Fico pensando… Seria melhor se ele soubesse que tipo de criança criou?
— Não. — Thomaz afirmou. — Ele tentaria achar formas de se enganar, dizer que é mentira. É o que os fracos fazem quando não querem ver a verdade.
— Então você acreditaria sem titubear que Devon tentou estuprar uma garota? — Eu perguntei sem sequer pensar sobre isso. Do outro lado da sala, sentado longe para que nossos microfones não dessem eco, meu pai me lançou um olhar mortífero.
— Claro. Eu conheço meu filho. Ele é homem feito e nem sempre o que os pais ensinam entra na cabeça de crianças criadas para o crime.
Eu lancei um olhar indignado em direção a tela. Tio Nino franziu os lábios e Samael revirou os olhos, mas papai continuou inexpressivo. De longe, eu pude ver ele torcer as mãos sob a mesa de seu escritório, um tique nervoso que ele tinha quando se sentia profundamente desconfortável.
“O que o monstro do nosso pai fez com você, passou. Não importa. Já fazem vinte e cinco anos, Nico. Você precisa parar de se sentir mal por isso. Você era uma criança, a culpa não é sua dele ser um fodido pedofilo!”
Até hoje, um ano depois, eu me lembrava exatamente das palavras que escutei sem querer ao passar pelo escritório e ver papai curvado contra meu tio numa crise de pânico. As crises haviam aumentado ao longo dos anos e ficavam piores depois que ele visitava o tanque de tubarões para torturar molestadores. Eu desconfiava dos seus motivos para ser tão cruelmente criativo com os abusadores, mas as palavras de Nino confirmaram tudo.
Estuprado. Quando criança. Pensar nisso me trazia enjôo. Principalmente quando tio Thomaz estava insinuando que Devon seria capaz de tal coisa.
— Se Devon fizesse algo assim, isso diria que você não o criou direito. — Disparei. — Isso diria que você não lhe mostrou princípios e senso de humanidade. A culpa seria sua!
VOCÊ ESTÁ LENDO
CINZAS - Saga Inevitável: Segunda Geração.
Romance» Esse é o quinto livro da Saga Inevitável, retratando a segunda geração, os filhos dos casais principais. Você precisa ao menos ler o primeiro e o segundo livro da saga para compreender esse, mas receberá spoilers dos outros dois. « Vida, morte e s...