LORENZO.
Anjos podem povoar a terra. Eu acho. Também acho que meteoros um dia irão cair na terra e que todos nós iremos morrer. Também acho que talvez Deus exista, na verdade eu acredito nisso, e que ele não gosta muito de mim. No entanto, porque Deus gostaria de mim? Não houve um dia em minha vida em que eu não estivesse com uma arma na cintura, matei pessoas, e também, tenho um caso sórdido com minha prima, sangue do meu sangue. Comecei a perceber que Deus não tem muitos motivos para gostar de mim. Naquela manhã, quando passei de frente para uma igreja, com centenas de fiéis saindo com seus terços em mãos, quando as cruzes metálicas brilharam no sol que de estendia no horizonte, eu me dei conta de que Deus não estava feliz comigo. Mas quem se importa? Eu também não estava feliz comigo.
Mamãe permaneceu quieta no banco do carona enquanto eu divagava sobre as possibilidades da vida espiritual/sobrenatural. Se houvesse mesmo um Deus, o meu lugar no inferno já estava garantido e não havia nada que eu pudesse fazer para mudar isso. Talvez eu estivesse pensando naquilo porque durante toda aquela noite, depois que meu tio levou um tiro, percebi o quanto a vida era curta. Um acidente de carro, um tiro que com certeza nem foi bem mirado ou um meteoro em direção à terra. Tudo poderia acabar com um estalar de dedos.
Tio Nino quase morreu e Jhenifer não gostava de estar viva. Isso deveria ser um choque que me faria viver cada segundo como se fosse o último, mas não aconteceu. Eu estava paralisado, morto de medo, porque no fim das contas, eu não tinha medo de morrer, eu tinha medo de perder quem eu amava. Facilmente eu daria minha vida por eles, facilmente eu entraria na frente de uma bala por eles, mas geralmente, a morte vinha sem escolhas, sem avisos. Geralmente eu não teria tempo de entrar na frente de uma bala, porque tudo acontece de um segundo para o outro.
— Eu nunca me conformei com essa vida. — Mamãe disse interrompendo meus pensamentos. Olhei para o lado a tempo de vê-la encarar a rua sem sequer piscar. Seus olhos azuis estavam arregalados, sua boca cerrada numa linha firme. — Se eu pudesse escolher, você não teria uma arma, você não se colocaria em risco. Mas acontece, Lorenzo, que eu não posso escolher. Eu não tenho escolha! O que eu faria? Diria para o seu pai que o herdeiro dele não seria o próximo Capo? Negaria à você seu direito de primogenitura? Porque por mais que Alessa esteja cega por sua proteção, todos podem ver que Luca não se conformaria em ser tirado de seu posto, você também não. Se eu fizesse um inferno na vida de Nico e quisesse que você saísse da máfia, se por um milagre ele aceitasse, você nunca me perdoaria. Porque vocês, meninos, foram criados para isso. E eu… Eu só queria… Que você soubesse… Que eu não sou uma mãe ruim… Eu…
— Mãe! — Eu a interrompi quando ela começou a chorar copiosamente, as palavras falhando. Coloquei minha mão sobre a dela e apertei-a firmemente, tentando não tirar os olhos do tráfego que se estendia. — Você não é uma mãe ruim. Você é maravilhosa, eu te amo. E você está certa, eu me ressentiria, assim como Luca irá se ressentir se tia Alessa continuar com isso. Eu amo a Camorra, eu estou bem com o que fazemos. Você não é uma mãe ruim. Porra. Você é maravilhosa. Gentil, compreensiva, mente aberta. Cuida de mim e de Anna o tempo todo, nos mima, eu não poderia ter pedido uma mãe melhor.
— Você jura? Você jura… Que eu… Que você… Que eu sou boa… Pra vocês…? — Mamãe perguntou entre soluços duros, apoiando sua cabeça contra a janela enquanto se encolhia no banco e apertava minha mão. Caralho. Nada no mundo doía mais do que ver a mulher que te deu a luz chorando.
— Mãe. — Chamei-a suavemente. Quando ela olhou para mim, abri um sorriso tranquilizador. — Você é a melhor mãe do mundo. Você e papai são exemplos. Se um dia eu for para os meus filhos metade do que vocês são para mim, eu vou ter vencido na vida. Eu amo você. Você é incrível, perfeita. Realmente perfeita. Não há nada que eu mudaria em você. Você é um exemplo de gentileza, amor e carinho. Nada, ouviu? Eu não mudaria nada em você, mamãe.
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CINZAS - Saga Inevitável: Segunda Geração.
Romansa» Esse é o quinto livro da Saga Inevitável, retratando a segunda geração, os filhos dos casais principais. Você precisa ao menos ler o primeiro e o segundo livro da saga para compreender esse, mas receberá spoilers dos outros dois. « Vida, morte e s...