CINZAS - Saga Inevitável: Segunda Geração.

14. Summertime Sadness.

JHENIFER.

Kiss me hard before you go
Summertime sadness
I just wanted you to know
That baby, you the best.

Enquanto me preparava para o embarque, feliz por passar algum tempo em família, principalmente na época natalina, eu apurei meus ouvidos para a conversa que papai e tio Nico estavam tendo ao subir com as pesadas malas de suas esposas. Segui atrás deles em passos lentos. 

— Rick Stolen morreu no último sábado, um tiro na cabeça. — Papai disse. — E depois que o senador mandou o garoto para longe de Las Vegas, imagino que a Camorra tenha algo a ver com isso. 

Meu coração gelou. Rick era o cara que tinha brigado com Lorenzo na festa e me chamado de puta. O sorriso assombroso no rosto do meu primo prometia vingança, mas semanas haviam se passado e eu nunca mais havia ouvido falar dele. 

— Ele desrespeitou Lorenzo e Lorenzo pediu para lidar com o assunto. — Tio Nico encolheu os ombros. — É o que acontece com quem se mete com a Camorra. 

— E você acha que o senador… — Parei de ouvir quando os homens chegaram no deque principal e começaram a falar mais baixo, se distanciando de mim. 

— Você parece chateada. — Lorenzo disse se aproximando de mim com sutileza. Minha mãe e tias estavam conversando próximas a borda do iate e eu não estava vendo nenhum dos meus primos ou irmãos, por tanto, me virei para Lorenzo cruzando os braços. 

— Você matou Rick? — Perguntei baixinho. Lorenzo arqueou as sobrancelhas em surpresa.

— Não. — Uma pontada de alívio me tomou, mas logo foi massacrada. — Eu mandei mata-lo, é diferente.

— Você… Você… Oh meu Deus! Você perdeu a cabeça? — Praticamente gritei, atraindo olhares curiosos de minhas tias que logo voltaram a conversar normalmente, provavelmente achando que era alguma briga idiota entre primos. — Porque você fez isso? 

— Porque ele mereceu. — Lorenzo disse friamente. — Eu acho que você se esquece de quem eu sou, Jhenifer. 

— Um assassino? — Ralhei. 

— E muito mais. — Lorenzo falou com tanta frieza que meu coração errou uma batida. — Jamais se esqueça de quem eu realmente sou, Jhenifer. 

Sem nenhuma outra explicação, Lorenzo deu-me as costas e caminhou para longe.

Jamais se esqueça de quem eu realmente sou. Um assassino, um homem nascido e criado na máfia, no sangue. Eu havia me deixado iludir pelo seu lado mais suave, até mesmo doce, mas agora percebia que isso havia sido um erro. Ele podia ser cruel, maldoso. Ele matava e não se arrependia disso. Isso deveria me assustar, me deixar com medo de me aproximar dele, mas o susto mesmo veio quando percebi que eu sequer ligava. Eu também havia crescido na máfia, não como ele, não treinada para matar, roubar e enganar, mas ainda assim… Havia nascido na máfia. Eu sabia desde pequena o que os homens que eu amava faziam. Meu pai implacável, respeitado, sem escrúpulos. Tio Nico era considerado insano, um Capo capaz de tudo. Meus outros tios… Não ficavam atrás. Cada um letal a sua maneira. 

— O que você está fazendo de pé aqui, olhando para o nada? — Mamãe perguntou em sua habitual voz distante. Seus cabelos vermelhos como os meus estavam presos num rabo de cavalo severo e sua expressão estava neutra. Os olhos verdes me fitaram em um escrutínio atencioso.