Capítulo 20

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Partimos para a casa do pai de Ryujin na noite do domingo. O jatinho particular onde estamos corta a mesma paisagem pela qual eu e Olívia costumávamos passar para ir ao litoral. Sempre adorei o litoral da Nova Inglaterra. Meus pais costumavam levar a mim e o Kai para a praia em Nova Jersey todos os anos. Ela fica abaixo da costa. A areia é um lençol dourado escaldante, e a água é azul-escura e gelada. Eu adorava os nossos verões lá, e acabando me esquecendo de passar protetor solar novamente e acabando, no final de todos os dias, queimada, bem vermelha, e com a pele tão sensível que ninguém podia nem encostar nela.

Porém, depois que ele morreu, tornou-se impensável voltar lá. Óbvio que não daria pra ir em nenhuma praia sem se lembrar de Kai, ele adorava construir castelos de areia com as crianças e sempre ganhava dos adultos no surf, então desde aí a gente não foi mais em nenhuma praia.

Ryujin está enrolada como uma bolinha e usa uma máscara de olho cirúrgica, lembrando bem aqueles tapa olho de anime, o casaco puxado sobre ela como se fosse um cobertor, ela estava com roupa estilo dark acadamy, ela disse que vai renovar seu estilo, e eu estou com um conjunto da Channel parecido com um da Jennie e uma boina francesa preta.

Olho para Ryujin e me pergunto quão longe estamos do destino.

Não pode faltar tanto assim. A viagem toda durava apenas algumas horinhas. Encosto a testa na janela, tentando ver além do meu próprio reflexo. O jatinho começa a diminuir a velocidade, estamos prestes a pousar em um aeroporto próprio para jatinhos. Chuto os pés de Ryujin, que solta um grunhido e acorda, apertando um dos olhos ao olhar para mim.

-Já chegamos?

Ela espia pela janela, com um dos olhos ainda bem fechado, o que a deixa com um estranho ar de pirata, especialmente por causa do tapa olho cirúrgico.

- Infelizmente, sim. Ela boceja, levando a bolsa até o ombro enquanto o jatinho para com tudo e o motorista anuncia o nome de chegada.

- Prepare-se.

Acompanho-a no estacionamento escuro, um pouco nervosa para conhecer quaisquer que sejam os seres humanos bizarros que deram à luz Shin Ryujin, mas, enquanto ela caminha sob as luzes brilhantes do estacionamento, com os All Star de cabo alto marrom escuro clicando no pavimento escorregadio, um homem com postura e cheio de energia vem e tenta erguê-la em um abraço de urso, - Ela está de volta! - O sujeito está radiante.

Ela se contorce para soltar-se dele e faz um gesto apontando-me de forma educada.

- Esta é Kim Hyunjin. Hyunjin, este é o meu pai.

Ele parece surpreso e muito satisfeito. Bem, isso é uma maravilha.

O homem estica uma das mãos para mim em um ângulo amplo, então não sei ao certo se ele vai me dar um aperto de mãos ou um abraço.

Opto pelo aperto de mãos.

- Sinto muito, sr. Shin, achei que estivessem esperando minha chegada. Lanço um olhar incerto para Ryujin, que balança a cabeça com vigor.

- Está tubo bem.

- Está mais do que bem. E pode me chamar de Hoseok diz o sr. Shin, retumbante. Ele me conduz até o banco de trás de uma bmw 320i reluzente e pula para o banco da frente. - Proxima parada, tranquilidade.

-Pai-diz Ryujin entredentes.

Olho para Ryujin com ar de questionamento. Ela só balança a cabeça. Quando chegamos, entendo. A casa não é uma casa, é uma mansão. E uma daquelas mansões tradicionais à beira-mar, montada em tons pastel, com dezenas de quartos com os quais nada poderia ser feito além de os decorar e contratar alguém para limpá-los constantemente enquanto se esperam os hóspedes que possivelmente nunca virão. No caso da Ryujin, imagino que eu talvez seja a primeira, embora, pelo que eu saiba, o pai dela seja ávido para entreter as pessoas. Definitivamente são falantes. Tranquilidade é o nome da propriedade que se lê em uma charmosa placa branca arrematada com uma corda vermelha e branca na caixa de correio, e novamente dentro do vestíbulo, que é bem grande. Ali, uma placa enquadrada em que se lê, escrito à mão, Seja bem-vindo à Tranquilidade, está pendurada sobre um livro de hóspedes com encadernação de couro, acompanhado de uma pena e de um tinteiro. Passo os dedos sobre as fileiras de nomes na página aberta do livro, perguntando-me se foi Ryujin quem fez a placa. A caligrafia é muito mais bonitinha do que a escrita que me lembro de ter visto no caderno dela e nas linhas de versos nas paredes de seu dormitório. A tinta nesta página está fresca e há muitos nomes ali, e todos casais; nenhum solteiro nem famílias. Ryujin fecha o livro em cima do meu dedo e recuo, sentindo-me culpada, a sensação de que fui pega bisbilhotando a gaveta de roupas íntimas de alguém.

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