2. ℳ𝒾𝓎𝒶

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Acordei no domingo com uma baita dor de cabeça. Ela latejava de uma forma sobrenatural. Sentia que existiam milhares de pessoas martelando dentro dela. 

Me sento na cama e resisto a vontade de vomitar. Merda de ressaca. Mas a noite anterior foi incrível. Não que eu me recordasse de muita coisa, mas, a maior parte, sim. Eu acho. Foi o último dia da minha semana de férias, afinal. Tinha que aproveitar já que segunda começo a dieta e a rotina tudo de novo. 

Mas gosto da profissão que escolhi, é divertida. É o meu sonho. Então, de qualquer forma, não é ruim. O que é ruim, é esse mal-estar. Me levanto devagar e vou até o banheiro do jeito que estou. De cueca box. Só. 

Vantagens de morar sozinho. 

Escovo os dentes e jogo uma água gelada no rosto. Depois volto para meu quarto e abro a gaveta da minha mesinha de cabeceira e pego um remédio para dias como esses. Pego também a cartela de comprimidos de dor de cabeça e, com a sorte que tenho, tinha acabado.

Resmungo um palavrão indo até a cozinha. Jogo a cartela vazia e tomo o outro comprimido depois de encher um copo de água. 

Me hidrato e viro para trás olhando o relógio. Uma e cinquenta e cinco da tarde (13:55). Geralmente eu correria — mais cedo obviamente, tipo umas sete da manhã — mas, hoje eu realmente quero me fundir com o sofá.

Fico olhando mais algum tempo para o relógio com o cenho franzido.

— Eu estou esquecendo de alguma coisa... — murmuro.

 Repasso a noite de ontem na cabeça. Era tudo em pequenas partes e fleches. Minha cabeça estava começando a doer cada vez mais pelo esforço, até que me lembro e arregalo os olhos. O vizinho novo veio e bateu na minha porta a noite. Um vizinho absurdamente lindo que não é um velho de mil anos como o outro. E eu chamei ele de gracinha...

 Meu Deus, eu chamei o vizinho de "gracinha". — Logo a consciência bate. — Porra que merda. Só faço bosta bêbado. Nem pra ser um apelido melhor. E se ele for casado? E se ele for um assassino? Ou pior... e se ele for hétero?! 

Começo a andar de um lado para o outro pensando e murmurando baixo.

— O que eu faço? Ou será que não faço nada? Ou-... — A campainha toca.

Vou até a porta e à abro vendo uma figura igual a mim.

— Atsumu! Vai colocar uma calça! — Ele coloca a mão na frente dos olhos depois de fechar a porta. — E se não fosse eu aqui? — Esqueci que estava só de cueca.

— Outra pessoa iria ser agraciado por uma visão minha apenas de cueca. 

— Vai colocar uma roupa.

— Estou na minha casa.

— Atsumu! 

— Tá bem, tá bem. — Vou até meu quarto e coloco uma bermuda e uma camiseta. Que ultrajante, não posso nem vestir o que quero na minha própria casa. — Satisfeito?

— Muito. Agora... que cara péssima é essa?

— Ressaca. 

— Não é isso. Está preocupado. Somos gêmeos Atsumu, eu convivo com a sua presença desde que éramos "porra". O único momento de paz que eu tive foi quando você nasceu antes de mim e eu pude ficar 3 minutos sozinho no conforto do útero da nossa mãe. 

— Isso me faz 3 minutos mais velho que você. O que significa que eu não tenho que te falar nada. 

— Atsumu... — alerta. Respiro fundo, e logo começo meu surto de novo. Foda-se. 

O perigo entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora