Morgan Davis
Eu obedeci, eu nunca obedecia ninguém, bom, não por pura e própria vontade pelo menos, mas isso foi diferente, foi como se não fosse uma ordem e sim uma forma de me proteger, o que deixava tudo ainda mais confuso, eu não consegui fingir que estava tudo indo como sempre...
A minha mente queria mais, eu queria mais, eu não quero ter algo que dure - talvez - algumas noites e depois, surpresa! Me cansei de você, faça o favor de deixar toda a sua esperança na porta e pode seguir se caminho, cheia de bagagem emocional que por sinal, vão continuar para sempre marcadas a ferro na sua alma.
Meu pai estava aqui, ele estava realmente aqui, eu não o quero por perto, mas ele está aqui, sempre me mostrando como eu sou ou como eu não posso evitar ser um erro, ele nem sequer quis me reconhecer, ele preferiu fingir que não era meu pai.
Megan nunca entenderia tudo que eu já passei, ela nunca entenderia como é difícil fingir que ele é um pai de verdade e que ele nunca deixou nada faltar, porque o mais importante sempre faltou, e sempre vai faltar, porque ele não é capaz de demonstrar... não comigo.
O amor é a pior dor.
Um aperto toma o meu peito, meu coração parece estar sendo estraçalhado, eu queria ter certo tipo de apoio, eu queria ter um pai, que me amasse, porque isso me livraria de várias coisas, eu por exemplo não teria entrado em tantos relacionamentos abusivos, por ser dependente.
Mas isso serviu para me ensinar a não ser... hesito, eu só posso estar enlouquecendo, meu pai está bem na minha frente, e sua cara não é das melhores...
- então você esteve esse tempo todo bem embaixo do meu nariz? Brincando de casinha, quanto você ganha por foder com ele? - levanto a cabeça, eu tenho que ser forte, mesmo que por pouco tempo, afinal alguém deve aparecer em breve.
Com o indicador, ele enrola uma mecha solta do meu cabelo entre os dedos, antes da sua mão agarrar o meu couro cabeludo, me puxando para perto, sinto o bafo de cigarro e cerveja misturados, a bile sobe pela minha garganta.
- nenhuma resposta? Você fica tão educada quando está em outro território, mas não deixa de agir como uma puta, o que é uma pena, já que você não é nada além de um brinquedinho sujo - sua mão acerta o meu rosto.
Fecho os olhos, esperando o próximo golpe, mas ele não vem, quando volto a abrir os olhos, meu pai não está mais lá, sinto algo quente escorrer pelo meu rosto, mas não são lágrimas, eu não choraria aqui, no meio do corredor, eu sou mais forte que isso.
Puxo minha mão, vejo o sangue manchar os meus dedos, o desgraçado tirou sangue de mim, mãos sacodem meus ombros, meus olhos estão sem foco, mas escuto meu nome, a voz está longe, muito longe, longe demais para me fazer voltar.
Eu estou no meu lugar seguro, o lugar que eu construí, para quando o meu pai levantasse a mão, eu estivesse em um lugar seguro, sem sentir dor, sem me importar com o que era feito, eu estou... eu não sei.
- Morgan! - escuto Meyer e Matheo gritando, mas eles estão longe de me salvar.
- Morgan! - Vitória também está aqui e é ela quem me trás de volta.
Agora percebo que não estou mais no corredor, estou sentada na borda de uma cama, Gabriel também está no quarto, Vitória está ajoelhada na minha frente, suas mãos agarram as minhas, como se ela fosse o meu bote salva-vidas.
- o que aconteceu com você? - ela sussurra, tentando passar firmeza na voz, mas a sua voz falha.
Olho para Meyer que está apertando a mão entorno de uma lâmina, seu sangue escorre entre os dedos, Matheo tem os nós dos dedos em carne viva e Gabriel puxa o cabelo.
Eu achei mesmo que poderia fugir do meu pai? Porque eu fui tão tola?
- Marina está te esperando no banheiro - Meyer falou, sua voz rouca e com uma pontada de culpa.
Me levantei, sem olhar para nenhum deles, segui até o banheiro, reconhecendo o quarto do Gabriel, eu não faço ideia de como eu cheguei até aqui e eu não faço ideia de como eu resolvi expor o meu lado mais sensível e triste para todas essas pessoas de repente.
Encontro Marina encostada na parede, ela me olha, mas seus olhos não demonstram nada além de preocupação.
- porque você permite que ele te machuque? - ela pergunta, em tom normal, nenhum sussurro, nenhuma piedade.
- não é como se eu me colocasse na frente dele e pedisse um tapa ou um soco - olho meu rosto no espelho, mas me arrependo no mesmo instante, minha bochecha está cortada, e com um tom azulado, sangue seco se mistura com sangue recente.
- você sabe atirar...
- você está sugerindo que eu atire no meu próprio pai?
- ele não é seu pai, nenhum pai agiria assim.
- só... faça logo o que você tem que fazer - me encosto na pia enquanto ela limpa o ferimento, em algum momento, ela comentou que eu não precisaria de pontos e que foi superficial.
Nada mais, nada menos.
Sai do banheiro logo depois de ouvir Marina bater a porta do quarto, eu não estava no meu quarto, então eu não poderia fingir que o quarto era meu, mas eu precisava...
Abri a porta do banheiro sem saber do que precisava, mas descobri que precisava do Matheo, só percebi, quando ele me abraçou apertado, mas eu não chorei, eu não choraria, eu não demonstraria fraqueza na frente de mais ninguém.
- eu juro, que eu vou matar quem quer que tenha feito isso com você - ele murmurou unindo nossas bocas, engolindo qualquer protesto que eu tenha pensado em fazer.
Me afastei: - você só está com o ego ferido, por ter acontecido algo com o seu novo brinquedinho.
- de que porra você está falando?
- estou cansada, Matheo. Não torne tudo pior - andei para a porta do quarto.
- tudo pior? O que? Que merda você está falando?
- estou falando que você está agindo dessa maneira comigo, só porque ainda não fomos para a cama, ou então você já teria me colocado de lado...
Uma lágrima escorre involuntariamente pela minha bochecha, me fazendo retesar o corpo para trás.
- não quero te arrastar para a minha confusão.
Antes que eu me dê conta, Matheo está bem na minha frente, suas mãos seguram a minha cintura, me puxando para colar nossos corpos, mas seu olhar segura o meu, me fazendo ficar petrificada, me mexo, desconfortável com a forma que ele me olha.
Com ele parece ser tudo tão simples, mas eu não posso realmente fingir que ele vai ser o meu príncipe encantado que vai vir me salvar em um cavalo branco, até porque não consigo nem imaginar Matheo vindo me resgatar.
Minha mente acha que ele está aqui para me afundar mais ainda, e isso pode ser bom, dependendo do ponto de vista.
- você está até o pescoço com toda a minha merda, não vou fugir de você por causa de um trauma, quem você pensa que eu sou?
Um cretino, cafajeste, que muda de mulheres por semana, ou até por dia e que não deveria estar agindo como se realmente se importasse comigo.
Porque o meu coração acredita, ele vai acreditar que você realmente gosta de alguma coisa em mim, e isso vai me destruir.
- vamos mesmo passar três dias aqui? - pergunto apoiando o meu queixo no seu peito.
- não temos escolha, mas prometo a você, que vou te tirar desse inferno na primeira oportunidade que eu tiver... e prometo não sair do seu lado.
Isso realmente supera as minhas expectativas.
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Empresário imprevisível - livro 3 da série: Os Mendonça
RomanceMorgan finalmente mostrará como é difícil ser livre em uma sociedade opressora, com o coração cheio de cicatrizes, ela voltará para o jogo do amor, mas não exatamente com quem ela deseja, muito menos com quem ela espera. Lidar com os pais nunca pare...