"- Quero que lembre quem você é, apesar de todas as coisas ruins que estão acontecendo com você. Porque essas coisas ruins não são você. São apenas coisas que aconteceram com você. Precisa aceitar que quem é e o que acontece com você são duas coisas diferentes."
Colleen Hoover, "Um caso perdido"
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Amo a sexta-feira, mas não pelo mesmo motivo das outras pessoas. Não me importo se amanhã é sábado e não temos aula, não é como se eu fosse aproveitar e sair para beber como fiz no meio da semana.
A verdade é que meu sábado vai ser completamente igual a todos os dias da semana, a diferença é que vou estar em casa, e o domingo não vai ser muito diferente. Eu preciso dar um gás no projeto em parceria com o curso de engenharia, ou juro que vou ter um treco antes do fim do semestre.
Eu achava que havia sido um exagero da coordenação dar início a esse projeto no semestre anterior, mas agora, que retomamos as aulas e faltando o ainda semestre inteiro para entregar, sinto que vou terminar em cima do prazo. Não sou burra, nem estou tendo muitas dificuldades com o projeto, mas, ei! Estamos no último ano de faculdade, tem muita coisa acontecendo!
Por sorte meu trabalho de conclusão está tão adiantado que até o momento eu não preciso mexer nele, pelo menos não até o meu orientador me apontar todos os erros. Já corrigi tantas vezes que estou começando a acreditar que aquele professor está inventando coisa onde não tem, porque não é possível.
Mas voltando às sextas, gosto desse dia porque o Cosy Bear Café oferece desconto em boa parte do cardápio e eu amo a torta de morango deles. Então é quase sagrado para mim sempre passar lá todas as sextas depois da aula, sozinha ou acompanhada, faça chuva ou faça sol, todas as sextas entre as 15:00 e 16:00 eu estarei lá.
Hoje, por exemplo, não estou sozinha, muito embora note que já faz um tempinho desde que Dani parou de me ouvir.
Pego uma borracha que esqueci no bolso da calça e jogo nela, que se assusta por um momento até notar o que a atingira.
- Ai que susto! - exclama, mas logo se recompõe. - Ai, desculpa Mel. O que você disse?
Ela me pergunta, colocando o cotovelo na mesa e apoiando o rosto na palma da mão dedicando a mim sua completa atenção.
- Eu não disse nada. - respondo pegando a borracha de volta. - Mas já que agora está ouvindo, queria saber por que você tá tão aérea desde a segunda-feira.
Percebo sua coluna enrijecer e um sorriso forçado tomar o seu rosto numa tentativa de dispensar a minha pergunta, bem, não funcionou nem um pouco. Ao contrário de mim, Dani é uma péssima mentirosa.
Uma mentira não é somente algo dito, é algo que também precisa ser expresso. Ou seja, seu corpo também tem que mentir, ou ele vai acabar te entregando.
