❅ Existe ou é apenas um surto? ❅

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18 de junho de 2017, 14:15.

Mais uma vez aquele pesadelo a assombrava. De novo, estava sentada sobre a mesinha escrevendo algo em um papel, mas ela nunca conseguia terminá-lo, pois sentia que ao fazer isso, estaria se despedindo de alguma coisa ou de alguém em específico.

O nariz continuava a pingar sangue, mas gradativamente foi parando com a ajuda de papéis e mais papéis. Entretanto, sua cabeça ainda doía e essa dor a deixava tonta, sem dar trégua, portanto, às suas mãos ágeis que não deixavam aquele pequeno pedaço de papel em branco.

Estava tudo tão diferente... até a casa parecia diferente. As janelas estavam um pouco empoeiradas e o chão não estava tão brilhante quanto costumava estar. Além disso, o candelabro havia desaparecido, assim como as pilhas e pilhas de livros que ficavam bem ao seu lado. Tudo parecia estranhamente... triste e sombrio. No entanto, apenas uma coisa permanecia intacta. Uma foto antiga de todos os amigos juntos estava apoiada naquele criado mudo, sem nenhum grão de poeira sequer.

Era estranho ela estar ali, já que nem mesmo se lembrava dessa foto ter sido tirada. Alina e Benedict estavam centralizados bem ao meio e pareciam um casal apaixonado, enquanto Michael estava no canto direito rindo da ruiva fazer uma careta de desaprovação ao lado oposto.

Uma batida insistente na porta da frente fez com que Celine levantasse seu corpo da cadeira para atendê-la. A tontura desaparecera em um passe de mágica, como se nem mesmo tivesse estado presente. Mas, na realidade, agora sentia-se sentimentalmente mal por alguma coisa, talvez no fundo, ela soubesse quem era a responsável pela batida na porta e não quisesse atender para poupar-lhe a horrível visão de mal-estar que causava no momento.

Tudo começou a girar de uma maneira quase infernalmente insana de repente, fazendo com que caísse sobre a cama ao seu lado e apagasse por completo, mais uma vez.

14:19

Os olhos da ruiva se abriram pela primeira vez naquela "manhã", que na verdade já não era tão manhã assim. Seus olhos de aparência levemente esverdeada varreram todo o quarto em busca de qualquer sinal de que tudo aquilo não passava de um sonho do dia 16 de junho de 2018, e por sorte, isso se confirmou assim que voltou a ver o candelabro parado bem ao lado da porta, com o casaco vermelho e amarelo que Michael havia lhe dado uma vez.

As pilhas de livros também permaneciam ali, daqueles que iam da literatura inglesa de George Orwell e Jane Austen à literatura brasileira de Machado de Assis e Jorge Amado. Levantando um pouco seu tronco, olhou para o chão daquele belíssimo quarto. Os pisos estavam impecavelmente limpos como sempre foram, o tapetinho marfim ainda continuava sobre os pés da cama. A única coisa um pouco diferente do habitual, eram três caixas ao lado da cama - que guardavam outros objetos para que não corressem o risco de serem danificados, pelo tempo em que ficaria fora - e 3 grandes malas apoiadas bem ao lado das benditas.

Realmente, tudo aquilo não passava de mais um pesadelo estranho e sem sentido, de um dia completamente aleatório - ou completamente específico. Voltou a deitar-se na cama, aliviada, e pegou o celular. Não havia mensagens naquele momento, e estranhou esse fato, até dar-se conta de que o modem, não estava devidamente conectado à tomada. Além disso, ficou surpresa com o fato de ter dormido mais do que deveria naquele dia - talvez não devesse ter ficado conversando com Michael até tão tarde da noite...

Foi então que praticamente saltou da cama e ligou o aparelho à tomada. Abriu a janela também, e deixou o ar fresco entrar com um toque úmido dentro de seu quarto abafado. A essa altura, seu celular já não parava de vibrar por conta das mensagens que chegavam a todo o tempo, e pela data, já sabia até mesmo de onde elas poderiam estar vindo.

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