Nepente

❅ Indefesa ❅

25 de maio de 2018, 18:02.

Era ela. Era Celine em carne e osso. Mas por que diabos havia retornado neste momento? Certamente ainda lhe faltava um mês de prazo para retorno, e ela nem mesmo havia avisado que estava voltando.

Michael parecia uma verdadeira estátua. Seus lábios empalideceram um pouco, enquanto nem sequer era capaz de mover o próprio corpo. Estava tão bonita… do mesmo jeito que da última vez que realmente se viram, no ano passado. Mas seu olhar parece distante, sem o brilho tenaz que costumava ter. Algo estava diferente, ela não era assim… Seria possível que seu tempo fora a tenha transformado em uma pessoa diferente? Ou talvez ela apenas estivesse deixando transparecer quem ela realmente era sem máscaras, sem disfarces para tentar esconder seu espírito quebrado?

– Está bem? – ela perguntou balançando uma mão na frente do rosto de Michael, tentando de algum jeito tirá-lo daquele transe.

– E-eu… S-sim, eu estou… – Ela sorriu fraco pensando em como ele não havia mudado nada, mesmo tendo se passado quase um ano.

– Tem certeza? Parece ter visto um fantasma… – Michael parecia poder ouvir as engrenagens em sua cabeça se movendo e estalando na tentativa de fazer as peças de encaixarem.

– N-não, eu só… é você… não que você seja um fantasma, eu não quis dizer isso. Ah, suas folhas! – arrumou-as desajeitadamente com as mãos trêmulas e as estendeu para ela. – Me desculpe, eu não queria esbarrar em você. – suas bochechas coraram rapidamente assim que tentou pronunciar mais alguma palavra.

– Não se preocupe, foi só um acidente. – fixou o olhar no chão. Tentava não manter o olhar fixo em Michael e isso o intrigou.

Michael ainda parecia inerte. Anestesiado. Tantas dúvidas rodavam em sua mente e perguntas como: O que? Por que? Quando? Como? passavam diante de seus olhos como Ayrton Senna em uma corrida durante o tempo chuvoso. Mas se sentia tão feliz por tê-la novamente por perto. Se sentia tão sublime que poderia aprender a voar em apenas alguns segundos.

– Como…? – ele pronunciou em um fio de voz – Só Deus sabe o quanto eu senti a sua falta… – seus olhos pareciam brilhar ainda mais, denunciando algumas lágrimas que teimavam em tomar o seu lugar.

– Eu também… – apertou as folhas contra seu próprio peito – Acho que precisamos conversar, não é? – ele balançou a cabeça positivamente – Está indo pra casa agora, ou…?

– Sim, eu estava. E você?

– Estou sim. – engoliu seco e sorrindo tão fraco que por um instante pareceu imperceptível – Quer me acompanhar?

– Seria ótimo. – sorriu claramente derretido por dentro, seu mundo parecia ter ganhado mais cor novamente e já não se sentia mais tão só e nem mesmo cansado.

Então, assim ele o fez. Durante aproximadamente 5 minutos, eles andaram em silêncio, apenas aproveitando a companhia um do outro com o acompanhamento de um vento fresco, apontando chuva em breve. Assim como Michael, Celine estava feliz por vê-lo de novo, apesar de não ter demonstrado tanto e de maneira tão fria. Ela sentiu sua falta enquanto esteve longe, nem poderia descrever o quanto, de fato.

Ela olhou de relance para ele. Estava lindo como da última vez. Não havia mudado praticamente nada, e isso era maravilhosamente incrível já que imaginou vê-lo de barba quando voltasse.

– Hm? – ele cortou os pensamentos da ruiva com um murmúrio curioso.

– O que? – piscou duas vezes como se realmente não entendesse suas intenções.