Nepente

❅ Aquela maldita pergunta ❅

22 de abril de 2017, 14:02.

Eram duas da tarde daquele dia. O sol lá fora era quase avassalador, estava muito, muito quente. Porém, dentro daquele SPA com tons rosê, o ar condicionado acariciava as duas mulheres sentadas sobre os puffs pretos da sala de espera.

Uma pequena parte da sessão já havia se encerrado. As unhas das mãos e dos pés de ambas as mulheres estavam perfeitamente pintadas e limpas, pareciam novas em folha.

A mulher ruiva encarava as unhas das mãos que ainda estavam por fazer, pensando em sabe-se lá o quê. Já a mulher morena encarava a amiga com um olhar estreito e completamente curioso. Era de suspeitar já que o sorriso estampado no rosto de Celine, não desapareceu sequer um segundo naquele dia.

– Ei? Cê tá bem? – a morena perguntou.

– Claro que sim. Por que eu não estaria?

– Eu não sei, você não é de sorrir desse jeito, fica com a cara fechada a maior parte do dia.

– Não fico não! – franziu as sobrancelhas como se tivesse acabado de ouvir o maior absurdo de todos os tempos – Eu sou muito simpática, tá?

– Eu não disse que você era antipática, só disse que vive emburrada. Sério, você precisa ver a cara que você anda na rua… – Celine revirou os olhos – Mas sério, porque está sorrindo tanto? Juro que nunca te vi desse jeito.

Celine olhou para frente e logo após, para o teto branco como a neve. Suspirou mais uma vez e acidentalmente - ou não - um sorriso bobo se desenhou em seus lábios, fazendo seus olhos brilharem tanto ao ponto de parecerem ter lágrimas.

Ah Michael… a partir daquela noite, mesmo sem saber, nunca mais sairia dos pensamentos da jovem mulher. Todo instante, todo mísero segundo que ao menos pensasse nele, sua pele se arrepiava, como se pudesse o sentir perto.

Todas as vezes que umedecia os lábios com a ponta da língua, podia sentir vividamente o sabor adocicado do chocolate do bolo misturado com as uvas fermentadas e antigas do bom vinho. Os lábios dele eram tão macios e quentes que lhe traziam uma estranha sensação de paz e conforto.

– Tá vendo só? Você tá viajando e rindo pro nada! Não vá me dizer que você vê fantasmas…

– Não, óbvio que não. – riu – eu só estava pensando.

– Em quê?

– Estava pensando… Em mudar meu cabelo. – mentiu.

– Jura? Eu tenho pensado nisso também. O que acha de passarmos em um salão antes de voltarmos para casa?

– Claro, com certeza. Tô vendo suas pontas duplas daqui.

– Isso, zoa mesmo, espertinha. – a morena revirou os olhos enquanto sorria largo – O dia em que eu tiver o cabelo mais hidratado que o seu, farei questão de jogar na sua cara.

Celine riu colocando a mão sobre a boca. Embora Alina tenha sido inconveniente algumas vezes na noite passada, Celine não conseguia ficar com qualquer tipo de raiva. Até porque, ao final da noite, conseguiu o que queria, e estava mais do que radiante por isso.

A porta pesada de madeira clara se abre, e duas mulheres com os sobrenomes bordados no tecido branco de suas roupas entraram. Eram as massagistas, que carregavam um belo sorriso no rosto enquanto pronunciavam com graça a melhor parte de toda aquela coisa de SPA.