Aqui vai mais um pedacinho dessa contagem regressiva para lá de angustiante...
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E a semana do evento mais aguardado do ano começava em LaViera.
A cidade borbulhava nos dias que antecediam o Grandioso Baile.
As costureiras, contratadas para confeccionar a luxuosa veste das felizardas senhoras e donzelas que faziam parte do seleto grupo de convidados, davam suas últimas agulhadas. Os alfaiates, super demandados nesse período do ano, ajustavam as últimas bainhas. Até mesmo chapeleiros, joalheiros e sapateiros tinham encomendas a ponto de não darem conta. Mal viam a hora do evento chegar para tirarem uns dias de folga, de tão sobrecarregados que ficavam.
Laila, não tão confiante, mas guardando alguma esperança de se ver livre de seu infame destino, colocou-se de pé, naquela ensolarada segunda-feira, e seguiu sua rotina.
Para sua infelicidade, Matheo a aguardava para topar com ela no momento que deixaria o Castelo para a aula.
Laila, intimidada e com um medo como nunca antes, pôs-se paralisada assim que o viu.
Matheo já estava se preparando para revidar o desprezo ou qualquer desaforo, quando percebe a mudança de atitude.
Eis que recua do tratamento hostil e vai se aproximando dela, cauteloso, como se quisesse testá-la se era aquilo mesmo ou ainda havia alguma "surpresa" guardada para o momento.
Laila, apavorada, exalava um medo indissimulável pela pele, que Matheo, por seu instinto ímpar de animal de caça, farejava no ar.
E estava surpreso.
Continuou se aproximando dela que, recostada à parede, parecia que ia integrar-se a grande coluna de pedra.
Já estava quase para desmaiar de pavor, quando ele a aborda, atipicamente delicado.
— Bom dia, Alteza. — já segurando sua mão para tascar um beijo no dorso.
Ela, parecendo diante da morte, devolve a saudação com um inaudível "Bom dia, senhor".
E Matheo estava boquiaberto.
Era a primeira vez que recebia o surpreendente tratamento cordial desde que impusera o infame pedido.
Aproveitando-se da aparente trégua e, sem soltar a mão de Laila, ele abre gentilmente a porta da carruagem, ajudando-a a se ajeitar dentro do carro e encerra sua abordagem com um educado "Boa aula, Alteza".
Laila meneou a cabeça em agradecimento, evitando a todo custo olhar para ele, que ficou exultante com a evolução.
Não é que Herbert tinha razão?... Ainda impressionado com a habilidade do amigo no lido com as mulheres.
Invariavelmente voltou a achá-la mais linda que nunca. Não dando a menor importância para a feição transfigurada de pavor quando o viu.
Foi para a reunião nos aposentos reais, num humor e paciência inéditos com o anfitrião.
O Rei, mesmo debilitado, pediu que Matheo viesse ao seu encontro. O rapaz proporcionava-lhe dos poucos momentos felizes do dia, uma vez que estava há quase dois, confinado em seu quarto por ordens expressas de dr. Euclides, em uma rotina maçante de recuperação do incidente.
Isaboh já estava preparada para cancelar o Baile da Primavera, caso Fernan não melhorasse até o meio da semana, o que o deixou furioso com tal hipótese.
Festeiro como era, iria se arrastando a seu evento predileto se não estivesse recuperado.
Pelo menos a Rainha conseguiu o que queria. Seu marido seguindo estritamente as recomendações do doutor para estar em boas condições na festa. Sendo elas: evitar caminhadas, escadas e qualquer esforço mais extenuante até, pelo menos, quarta-feira.
Matheo tinha descumprido a recomendação de Herbert de evitar Laila, na referida semana do Baile. Mas, para não colocar tudo a perder, dado a surpreendente reação dela pela manhã, por um lapso de discernimento, programou-se de ir embora antes que ela voltasse da Escola.
• • •
Assim que chegou, Laila atravessou, cautelosa, a porta dos serviçais, tentado identificar vestígios da presença de pessoas de fora, pelas vozes vindas de todos os lados.
Até então, sem surpresas.
Seguiu pela escadaria principal, apreensiva, direto para o quarto dos pais, já que estava desde domingo fazendo as refeições lá.
Na entrada do aposento, passou pela parede parcialmente destruída pelo soco dado a centímetros de sua cabeça, o que a arremeteu a uma das piores lembranças de sua vida, até então. Evitou olhar outra vez para as cavidades na pedra, só imaginando o que haveria de enfrentar no próximo sábado, caso não achasse algum escape daquele infortúnio.
Quando se aproximou da porta do quarto, graças aos Céus, os pais estavam a sós, numa conversa íntima e descontraída de um unido casal. Eles já ocupavam os lugares de uma mesa improvisada à beira da suntuosa cama.
— Boa tarde, minha filha! Como foi de aula?
— Bem, mãe. Sem muitas novidades.
Saborearam a refeição, proseando sobre amenidades.
Quando a Rainha começou a falar dos preparativos para o Baile, as novidades, os imprevistos de última hora, os convidados, as vestimentas, fofocas, etc, Laila mudou completamente o semblante, atormentada em lembrar-se que o temido evento já estava há cinco dias de acontecer.
Isaboh estranhou a filha. Tão participante e curiosa sobre os bastidores nas edições anteriores, parecia apática, com uma feição de pavor, o que a fez imaginar que ainda pudesse estar doente ou com alguma sequela do incidente de La Montagna.
Ficou preocupada, mas não falou nada. Nem para Laila nem para o marido.
Este sim, exalava felicidade.
E motivos não faltavam... A chegada do Evento que particularmente mais gostava, a parceria com seu protegido... Os mirabolantes planos que traçavam para a segurança do Reino.
Propôs um brinde de suco de uva, a bebida que tinha na taça, para comemorar a chegada do tão esperado evento. "Que venha o da Primavera e muitas outras belas festas para alegrar nossas vidas".
Laila, mesmo desmotivada, não iria contrariar o pai. Ainda mais naquele estado. Brindou a contragosto o "entusiasmante" Baile da Primavera.
Assim que terminaram a refeição, ela desceu para preparar-se para o treino com espadas. Mas, infelizmente, sem a motivação que lhe foi companhia inseparável na semana anterior.
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(COMPLETO) Laila Dómini - Livro 1
Fiction Historique**LEITURA RECOMENDADA PARA MAIORES DE 16 ANOS** **OBRA PUBLICADA E REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL** ***Laila é filha única, herdeira do Reino de LaViera e sempre levou uma vida previsível e trivial... Até que, num domingo qualquer, ela vem a ser...