Cap. 6 - Reviravolta (Parte III)

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Laila está determinada a fazer frente àquela berrarão. Mas... Será que só o treino com espadas será suficiente? Isso é o que vamos saber...

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O Treino

No início da tarde, Laila deu início aos preparativos para o primeiro dia do treino.

Mandou um recado para Jafé, através de Elisa, que preparasse o cavalo. Não se arriscaria a deixar o Castelo na carruagem que a servia, para não chamar atenção. Já que seus pais eram terminantemente contra a filha se embrenhar nesta natureza de atividade, totalmente fora de cabimento para uma exímia princesa como ela.

Escolheu uma roupa apropriada, que lembrava a vestimenta das destemidas guerreiras. Personagens quase místicos de tão raros, que se atreviam, naquelas terras dominadas por homens, a domar a arte da luta com espadas para se defenderem contra ataques de toda sorte.

Um vestido tecido em linho rústico, de tom natural, comprimento um palmo abaixo do joelho, portanto, mais curto que os tradicionais, era ainda finalizado por um corpete preto, fechado por grossos cordões na frente e nas costas, que delineavam sua fina cintura e tinha como objetivo protegê-la durante a prática da luta.

Por cima, Laila jogou uma capa preta com capuz, para não ser reconhecida quando deixasse o Castelo. Prendeu os cabelos em trança e calçou uma bota preta comprida até a metade da coxa, finalizando seu traje de guerreira. Estava incrivelmente charmosa naquela vestimenta, totalmente fora dos padrões para uma tradicional donzela à época.

Muito excitada para o primeiro treino, arrumou-se em minutos.

Ao sair, trancou a porta do quarto para que pensassem que ainda estivesse lá e tomou a escadaria de serviços que cortava o prédio principal de fora à fora em paralelo à escadaria principal.

Desceu correndo os três andares pela escada secundária, que desembocava em um corredor, também utilizado pelos serviçais, e seguia paralela às suntuosas passarelas do Castelo, direto até a grande cozinha. No meio do caminho, pouco antes de chegar à entrada da cozinha, tomou uma estreita passagem que interligava o corredor paralelo ao principal. Antes de sair jogou o capuz sobre o cabelo preso e seguiu para a porta de serviços.

Jafé já a aguardava, conforme sua irmã havia lhe instruído.

Assim que o viu, Laila precisou se identificar, pois o pajem não a reconhecera em seu traje peculiar.

Passado o pequeno susto, Jafé a ajudou a montar o cavalo. Um tanto nervoso, já que há tempos não conduzia Sua Alteza daquela forma, ajeitou-se no bicho e, logo depois, arrancou rumo ao portão principal.

A pequena estrada que servia o Castelo tinha uma vista linda.

Do lado esquerdo, enxergava-se o vale de LaViera e o Rio de mesmo nome que o cortava de fora a fora e desembocava no mar, ao lado direito. O vale era cercado por colinas e, àquela época, a bela primavera imprimia sua graça, estampando-as com as mais variadas flores da região.

Jafé levou a princesa até o sítio do ferreiro, onde Ariteu a aguardava.

Ao chegar, arrancou a capa e apresentou-se ao menino.

— Sua Alteza, quanta honra recebê-la em minha humilde casa. — Ariteu até havia se preparado para o momento, mas, praticamente travado, não sabia muito como reagir diante daquela presença ilustre. — Posso lhe servir algo? Talvez um refresco, uma água? Por favor, sinta-se em casa.

— Muito gosto conhecê-lo pessoalmente, meu caro. Quero primeiramente agradecê-lo por aceitar-me como aprendiz. Acredito que Elisa tenha comentado sobre meu interesse antigo em dominar esta habilidade.

— Certamente, Alteza.

— Agradeço a gentileza de suas ofertas, mas, se não se importar, gostaria de começar o treino agora mesmo. — e, não querendo perder tempo, ela já se posicionou, aguardando instruções de seu inexperiente tutor.

Ariteu, entendendo o recado, passou à princesa uma réplica de espada, forjada em aço, com uma lâmina cega e sem a ponta afiada, especialmente confeccionada por seu pai, o Ferreiro Martin Alcântaras, para pessoas da estatura de Laila.

O menino vivia no Sítio dos Alcântaras com os pais e dois irmãos. Era uma propriedade tranquila, pitoresca, incrustada entre dois morros e completamente isolada. Sendo, portanto, o lugar ideal para Laila praticar a luta com espadas, fora da vista de eventuais curiosos.

A casa era bem simples, mas de dimensões avantajadas para uma família de renda modesta, justamente por estar afastada da Vila. Era mantida pela mãe e pela irmã mais nova.

Ariteu e o irmão do meio ajudavam o pai com a pequena produção de artefatos de ferro, inclusive as elogiadas espadas.

No início, o menino ensinou à princesa as manobras básicas, juntamente com a posição correta do corpo em cada golpe.

Laila, ansiosa, tinha pressa em superar a etapa introdutória. Por isso, procurava fazer os movimentos com precisão, evitando assim demasiadas correções de seu tutor, que constantemente entusiasmava-se em seguir adiante.

O treino intenso seguiu até que a tarde começasse a cair, por volta das cinco e meia.

Assim que pararam, Laila foi assolada por um cansaço sem precedentes. Acostou-se em uma das pilastras, na varanda da casa, e ficou por minutos a recuperar o fôlego.

Estava tão determinada que nem se deu conta do esforço que imprimiu na atividade.

Ariteu, vendo seu aspecto, visivelmente fatigada, respiração curta, bochechas ruborizadas e suadas, aproximou-se, preocupado:

— Gostaria que eu lhe servisse uma água, Alteza? Ou talvez queira descansar um pouco, dentro da casa. — já bem encabulado com o estado em que a deixara.

— Não se preocupe, Ariteu. Estou bem. — ainda ofegante, recusou as ofertas gentis. Não queria incomodar, tampouco inibi-lo, a ponto de fazê-lo desistir das aulas. — Jafé, por favor, prepare o cavalo.

O pajem correu pelo pequeno caminho em aclive rumo ao tronco onde o animal estava amarrado, perto do portão de entrada do Sítio.

Laila vestiu sua capa e pagou Ariteu pelo treino e pela réplica da espada.

— Está confirmado amanhã? Mesmo horário? — ela se certifica, antes que Jafé desse o comando ao cavalo.

— Claro, Alteza.

— Está bem. Então, até amanhã. — e acenou para o jovem rapaz, simpática.

Assim que chegou, retornou a seu quarto pelas vias secundárias, para se preparar para jantar com os pais.

O treino com espadas a ajudara a recuperar parte da autoestima e a alimentar a coragem para enfrentar Matheo. Não iria desistir tão fácil, tão menos ceder ao desejo absurdo daquele homem horrível.

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(COMPLETO) Laila Dómini - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora