Capitulo 30

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Era difícil trabalhar pra um Herrera. Com a morte de Alexandre a AH Designs parou, e os funcionários foram dispensados. Então, numa manhã, do nada, receberam uma sms da chefe: “Estarei no ateliê em 30 minutos.” Sem mais, sem menos. A correria foi total. Os funcionários chegaram no ateliê as pressas, checando tudo, conferindo suas próprias roupas, cabelos e adereços, deixando tudo impecável e esperando em fila. Quando Anahí entrou, toda de preto e com um blazer grafite por cima, os olhos azuis cobertos por um óculos aviador escuro, a mudança foi notável. Ninguém sabia se devia dar os pêsames, ninguém se atrevia, então todos esperaram. Anahí nunca fora doce pra ninguém, mas podia se notar no modo de andar dela, na cor da pele: Algo havia morrido nela. 

Anahí: Eu quero um relatório do que houve na minha ausência, pra ontem. Liguem pros fornecedores, quero posicionamento sobre as amostras de tecido que ficaram pendentes. Tem 03 croquis que eu quero já um esboço em manequim antes do fim do expediente. – Entrou, falando, sem ao menos dar bom dia e nem tirar os óculos. Os funcionários a acompanharam, calados e ansiosos, engolindo cada palavra – E tirem essa faixa da frente do meu ateliê. – Encerrou.

Os funcionários se adiantaram, apressados, e logo o ateliê estava a pleno vapor. A faixa foi retirada da frente do ateliê. Anahí não saiu pra almoçar, trabalhando febrilmente. Só parou ao receber visitas, à tarde.

Madison: Como assim você decidiu ficar? – Perguntou, escandalizada.

Kristen: Tínhamos certeza de que você ia embora assim que se recuperasse. – Emendou.

Anahí: Não me foi dada escolha. – Disse, assinando um relatório e respirando fundo. – Não enquanto a empresa do meu pai estiver nas mãos daquele desgraçado. – Concluiu, apanhando outro papel. – Ele me criou pra ser forte, então eu vou ser.

Kristen: Anahí. – Disse, exasperada. Anahí a olhou, o branco do olho ainda irritado pelo choro, a iris azul parecendo fria. – Nada do que você fizer agora vai trazer seu pai de volta. – Anahí não se abalou.

Anahí: Eu sei. Mas se eu posso impedir que Alfonso pise no nome dele, eu vou impedir. – Disse, decidida – Senão eu o desonro. Senão o trabalho e a morte dele foram em vão. Senão o que Alfonso me fez ficará imune. 

Madison: E o que você pretende fazer? – Perguntou, ninando Clair. A menina olhava a paleta de amostras com tecidos coloridos, interessada, a mãozinha na boca – Alfonso não vai abrir mão.

Anahí: Sei que não. – Disse, baixando o rosto pro papel, e Madison revirou os olhos, erguendo Clair e pondo a menina no colo de Anahí, entre os papeis. Anahí amparou a bebê, por reflexo, e Clair riu, travessa, toda fofinha em um macacão rosa claro. Anahí encarou a menina, que costumava ser seu xodó no que pareciam ser vidas atrás, como se o riso inocente de uma criança fosse algo incabível nessa altura.

Kristen: Isso não é saudável. – Disse, tirando o cabelo do rosto – Ele não vai vender, você não vai desistir. Me mostre um modo disso ser possível. – Pediu, preocupada.

Anahí: Um passo por vez. – Disse, estudando Clair, que a olhava, muito a vontade.

Kristen: E o primeiro seria...? 

Anahí: Reconquistar a confiança do meu marido. – Disse, abrindo um sorriso pra menina. Não se refletia em seus olhos. Clair olhou, com uma desconfiança fofa – Fazer com que ele acredite que voltamos a nossa rotina normal. 

- Senhora Herrera? O carregamento de amostras chegou.

Anahí: Me dêem um minuto. – Disse, se levantando e entregando Clair a Kristen, saindo desfilando nos saltos. 

Kristen: Não gosto disso. – Disse, ninando Clair, aflita – Não gosto nada disso.

Madison: A paixão dela virou ódio. – Disse, observando Anahí que observava os empregados tirarem amostras de tecido com um olhar duro que lembrava o de Alfonso, ironicamente. 

Kristen: Nada bom. – Assinalou.

Madison: Se ele a tivesse amado de volta... Eles seriam invencíveis. – Disse, olhando Anahí – Mas agora que estão um contra o outro, no mesmo nível, é só uma questão de tempo até que se destruam. 

Como que para confirmar as palavras de Madison, uma estagiaria, nervosa, deixou escorregar uma caixa do lado de Anahí. Várias amostras de tecido caíram no chão, se desorganizando. Anahí pareceu não ver por um instante, olhando pra frente, então olhou a menina, que catava as amostras, nervosas. Seu olhar era gélido. A menina caiu no choro e se levantou, saindo as pressas. Anahí respirou fundo e voltou sua atenção pro representante, que ainda falava, e dois empregados foram organizar as amostras misturadas. Parecia que Alfonso havia encontrado um inimigo a altura.

Skyfall (Efeito Borboleta - Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora