SEMPRE ASSIM (REVISADO)

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Chego em casa e assim que abro a porta sinto cheiro de álcool entrando forte em meu nariz, só de sentir eu já sabia o que tinha acontecido essa noite que estive fora. Andei pela sala vendo vários estilhaços de vidros quebrados, porta retratos estilhaçados no chão, fotos em família rasgadas... Respirei fundo tentando conter o meu choro. Andei até o sofá e vi meu pai deitado, tirei a garrafa de bebida da sua mão e respirei fundo tentando levantar ele. Ele me empurrou e eu cai com a minha mão em cima de um caco de vidro.

—Você não encosta em mim! -Ele se levantou cambaleando e apontando.

—Eu só quero te ajudar pai. -Me levantei fazendo pressão na minha mão que sangrava bastante.

—Fica longe, eu não preciso de você. -As lágrimas estavam quase caindo, pisquei algumas vezes tentando não chorar.

—Pai, vamos subir e você toma um banho. -Tentei me aproximar dele novamente.

Ele se afastou indo em direção a porta e saindo de casa, sai logo em seguida atrás dele tentando o trazer novamente para dentro. Mas em vão... Tentei segurar ele mas ele me empurrava, nesse momento eu já estava cheia de sangue e ele também.

—Eu já disse pra me soltar, Ruby. PORRA! -Falou gritando.

—Papai... Eu só quero te ajudar. Me deixa te ajudar. -Ele começou a falar e as palavras soavam como facas que iam diretamente no meu coração.

—Eu não quero nada de você. Você ainda não entendeu? Você tirou tudo de mim. -Ele se aproximou segurando meu rosto.

—Não fala assim... -As lágrimas já desciam em meu rosto.

—Tudo, Ruby! Você tirou tudo de mim. -Balancei a minha cabeça sentindo todo o ar dos meus pulmões fugirem.

—Me desculpa... Me desculpa! -Ele se afastou de mim.

—Suas desculpas não vão trazer ela de volta. -Ele se virou e foi para dentro de casa.

O dia que antes estava fechado, se tornou mais escuro e uma chuva forte começou a cair, mas eu nem me importava, minhas lágrimas caiam junto. Sentada na grama de casa, sentindo que da mesma forma que a chuva caia, o meu mundo se desabava. A dor que eu estava sentindo em meu peito era a pior de todas, saber que até mesmo meu pai me culpava pela morte dela. Se eu pudesse voltar atrás, eu nunca teria feito aquilo, eu teria entendido ela, eu me arrependo muito por ter sido tão egoísta.

Senti braços passarem em volta de mim e mesmo na chuva eu sabia quem era. Mas eu não conseguia parar de chorar, era como se eu precisasse tudo fugisse do meu controle. Meu peito doía muito, meus pulmões faltavam ar, minhas pernas tremiam e eu mal conseguia ficar em pé. Eu já não tinha mais raciocínio. Eu só queria que essa maldita dor parasse!

—Calma! Respira. Eu tô aqui, eu tô aqui princesa. -Escutar a voz dele me acalmava.

Ele me levantou do chão e foi andando comigo em direção a minha casa. Eu não queria entrar ali, eu não queria olhar no rosto do meu pai, mas infelizmente eu não conseguia tomar decisões por mim. Ele abriu a porta e olhou em volta vendo tudo quebrado. Jogado no sofá da sala meu pai dormia, Spooky me apoiou com o braço e eu fui subindo em direção ao meu quarto o guiando junto. Assim que entramos fui direto para o chuveiro, tranquei a porta e deixei que água quente caísse sobre o meu corpo. Os flash novamente passavam em minha mente, mas eu já não tinha forças para chorar mais. Assim que eu acabei, me enrolei na toalha e voltei para o quarto, peguei peças de roupas e entrei no banheiro me vestindo novamente. Terminando de me vestir sai vendo o Spooky escorado na minha cômoda todo molhado, um trovão muito alto ecoou pela casa fazendo as luzes piscarem e acabando tendo uma queda de energia.

Os donos da rua | OSCAR DIAZ Onde histórias criam vida. Descubra agora