EU O PERDI (REVISADO)

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Já tinha se passado umas 3 semanas depois daquela noite, eu não sei o que acabou acontecendo com os caras já que a toda momento Oscar dizia que eu não tinha nada haver com isso. E ele dizendo isso a todo instante acabou me afastando um pouco dele e voltando para o meu foco inicial. Eu estava bastante focada nos estudos e nas apresentações de danças, iam sortear uma bolsa para uma das melhores faculdades de danças e eu precisava levantar as minhas notas para estar qualificada. Com tudo isso rolando eu acabei ficando um pouco sem tempo para muitas coisas. Mas acabei me aproximando do César que é um fofo, todas as vezes que me vê me dá um abraço e diz que o Oscar sente falta da minha presença. Mas na real? Eu estou aqui e ele poderia me procurar, mas não fez em nenhum momento. Brad e Kat continuam firmes, inclusive ele fez um pedido de namoro oficial pra ela em frente à escola, foi a coisa mais fofa do mundo e agora eles estão mais que super felizes.

A minha vida anda muito corrida, de manhã escola, a tarde trabalho e a noite aula de dança. Tá tudo um caos, mas eu amo essa rotina pesada. Inclusive eu ando treinando muito dança solo e em dupla pra assim eu conseguir tentar duas bolsas, porém pra escolher somente uma. No início eu não tinha um parceiro de dança, mas acabou que a minha treinadora viu o meu potencial e trouxe o Felipe, ele tem a minha idade, cabelos pretos, olhos azuis. Ele é extremamente educado, é um bom garoto, um pouco introvertido eu diria. Mas ele é muito esforçado e muito focado, as vezes é difícil até conversar com ele sobre algo de fora da dança. Mas é muito bom ter alguém que seja assim, me mantém nos trilhos.

Nesse momento estou colocando minhas coisas dentro da mochila para ir em uma apresentação pequena nossa. A gente precisava se acostumar com a pressão do público e a nossa treinadora resolveu chamar todo o bairro para uma festa de talentos, ia ser bem divertido. Coloquei meu colam, meus sapatos, uma roupa pra usar após a dança e algumas coisas que talvez eu precisaria. Comecei a arrumar meu cabelo e a Kat entrou no quarto, ela estava meio brava por eu não estar tão presente quanto antes. Mas vendo que eu não estava conseguindo arrumar o cabelo direito ela revirou os olhos e veio até mim. Dei um sorriso abafado e ela estava com a cara cada vez de mais brava.

—Você ainda está brava? -Ela deu um puxão no meu cabelo.

—O que você acha?

—Kat, desculpa... -Ela respirou fundo.

—Não tem que se desculpar, é a sua vida e você está indo atrás. Eu que estou sendo boba e ficando brava por você estar me deixando para trás. -Me virei pra ela.

—O quê? Eu não tô te deixando Kat! Eu nunca vou fazer isso, só é um passo muito importante pra mim e eu precisei focar muito. Mas não significa que eu tô te deixando. -Ela sorriu fraco e me abraçou.

—Eu sei, desculpa. Vamos pra essa sua apresentação e você vai arrasar.

—Será que ele vai estar lá? -Ela me encarou já sabendo de quem eu estava falando.

—Não sei, mas o Brad e o César sim. Disseram que vão ir pra te dar apoio, você é da família. -Eu sorri.

O celular começou a tocar me lembrando que eu precisava ir logo, me levantei termiando de me arrumar e sai com a Kat indo em direção à escola. Ao chega lá, Felipe me esperava do lado de fora querendo repassar algumas coisas. Fomos pra sala de treino e me vesti repassando a coreografia, terminamos e faltava uns 30 minutos para a nossa apresentação.

—Tá nervosa? -Me surpreendi com ele puxando assunto.

—Um pouco, é difícil voltar para os palcos. -Ele concordou com a cabeça me dando um abraço de leve e logo em seguida saindo da sala.

Ele era meio estranho, eu confesso. Sai da sala e fui até a plateia procurando a Kat que assim que me viu levantou os braços igual uma maluca. Mas não era somente ela que estava lá, Brad, César e a tia...Estavam todos lá. Minhas mãos não paravam de tremer e estavam muito geladas. Me afastei do palco indo na direção em que eles estavam, me aproximei da Kat a tocando no braço que logo percebeu o quanto eu estava nervosa.

—Tá nervosa? -Concordei com a cabeça.

—Não sei se eu consigo. -César me puxou para um abraço.

—Ei, você vai arrasar nisso. -Ele segurou meu rosto beijando a minha testa.

—Eu só fico pensando na minha mãe, eu sinto que eu vou cair lá no meio. E eu me lembro daquela noite... Droga! -A Kat me segurou.

—Eu tenho certeza que ela está orgulhosa de você, de ver a filha dela voltando a fazer o que ela tanto sonhou. -Kat passou a mão no meu rosto.

—Tem razão... -Eu sei que se ela estivesse aqui estaria extremamente orgulhosa.

—É claro que eu tenho. Vai pra lá que em 15 minutos já é sua vez.

Voltei para atrás do palco e o Felipe já estava lá pré esquentando o corpo, me apoiei na parede também me exercitando um pouco. Depois de uns 15 minutos escutando as músicas das outras apresentações, chegou nossa vez. Logo a treinadora parou do nosso lado sorrindo, ela é um amor de pessoa e uma ótima treinadora. Até digo que foi a melhor que eu já tive.

—Não esqueçam do final da apresentação, vai ser o tchan pra vocês ganharem. -Franzi a minha testa.

—Achei que isso já estava fora de questão. -Ela sorriu.

—Eu confio que vocês conseguem. -Ela saiu.

—Não...

Eu ia atrás dela porém ouvi nós sendo chamados, respirei fundo fechando meus olhos por 5 segundos, senti alguém segurando minha mão e era o Felipe que sorriu com carinho para mim. Eu não estava pronta para ele me levantar e ela deveria saber disso. Ele foi me puxando para o palco e quando foquei a minha visão por alguns segundos era como se eu estivesse revivendo aquela noite. Felipe soltou a minha mão, se aproximou do meu ouvido sussurrando:

—Eu não vou te deixar cair. -Ele colocou as mãos em minha cintura e apertando me passando confiança.

—Podemos mudar fazer a outra coreografia? Eu não me sinto pronta isso ainda. -Ele concordou e correu para o lado do palco falando com a treinadora.

Nós dois passamos algumas semanas treinando dança contemporânea e me trazia uma leveza a hora da dança. Tirei meus sapatos ficando só de meia, de longe vi a nossa treinadora sorrindo, eu sabia que ela iria gostar mais já que passou a semana insistindo para fazermos essa. Ela foi até as pessoas que estava colocando as músicas e trocou e mandou uma beleza para a gente. A música começou a tocar, Let it Go. Uma das minhas músicas favoritas da vida e sempre ouvia ela quando estava chateada com algo e me fazia me sentir melhor. A dança começou e a cada passo que eu dava, a cada curva que o meu corpo fazia, eu me sentia livre. A cada vez que o Felipe se aproximava e me fazia girar e girar, era como se o meu corpo estivesse em total sintonia comigo mesma. E por incrível que pareça a minha mente ficou limpa por minutos, o que eu não sabia desde aquela noite.

Em um certo momento abri meus olhos e foquei na plateia, ela estava ali, sentada na primeira fila e sorrindo. Aquele sorriso perfeito que somente ela tinha, eu ajoelhada em frente o palco a vendo sorrir e me dizendo para seguir em frente. Senti o braço do Felipe me puxando para me levantar outra vez e a dança fluía em nossos corpos. O giro final chegou e ele me colocou no chão, nossos corpos colados e respiração acelerada. Com escanteio do olhar vi a treinadora passando confiança para eu fazer o que ela tinha dito. Mas eu não poderia fazer isso, por mais que fosse só... Antes de concluir meu pensamento Felipe aproximou nossos rostos e colou nossos lábios, ele me abaixou até o chão ficando por cima de mim e encerrando a nossa dança.

Os aplausos começaram, ele se levantou e me ajudou a levantar. Olhei em direção onde a Kat estava e vi ela segurando o Oscar que me encarava com um sorriso de leve, mas eu sei que tinha decepção no fundo, César me lançava um olhar que era indescritível e Kat balançava a cabeça negando. Me soltei do Felipe tentando descer do palco, mas algumas pessoas me paravam e me puxavam para um abraço. De longe vi o Oscar virando as costas e indo embora, eu queria muito ir até ele e não deixar ele ir, mas por um breve momento eu parei, simplesmente parei e deixei ele ir. Somente abaixei minha cabeça tentando segurar o choro e agradecendo todos os aplausos, todo o carinho do público. Eu não quis fazer isso e se soubesse que Felipe ia fazer, eu não teria aceitado. E que droga, eu o perdi.

Os donos da rua | OSCAR DIAZ Onde histórias criam vida. Descubra agora