3: jennie

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Eu havia conseguido entrar no carro com ajuda de Félix, ele também estava sujo de sangue mas não parecia se importar com isso. Girei a chave fazendo o carro funcionar e assim que olhei para trás todos estavam olhando pelas janelas como se algum zumbi fosse quebrar os vidros a qualquer momento.

Dei a volta com o carro e dirigi pelas ruas que agora só haviam zumbis e destruição, eu sabia que naquele momento a ficha deles tinha caído como a minha quando sai de casa, o mundo não era mais o mesmo e com certeza as pessoas na rua não eram as pessoas que eles haviam conhecido e que eles conversavam todos os dias, eu sei o que eles estavam pensando naquele momento... A vida deles havia acabado.

  —  Kai desce. — falei e o garoto me olhou assustado. — alguém tem que abrir o portão e você está na porta.

Eu sabia que eu não precisava que ele descesse, mas não tinha zumbis por perto e eu queria me vingar um pouco do que ele fez comigo. Passei anos da minha vida tentando ser mais legal porque jurava que gostar de vídeos games e ser uma nerd era uma merda, eu sabia que os outros no carro tinham tanta culpa quanto ele mas eu conseguia ficar com raiva dele e eu ainda não sabia a razão.

  — desce, aperta o botão e portão vai abrir. Espera o carro passar, aí você aperta o portão de novo e corre pra dentro. — expliquei e revirou os olhos já saindo do carro.

Os únicos zumbis que tinham nessa rua estavam um pouco distante, o que dava a ele tempo o suficiente para correr para dentro de casa. Kai desceu do carro e apertou o botão, eu dirigi o carro para a garagem e assim que vi ele passar para dentro vi um zumbi que havia conseguido entrar ir até ele, tiro a minha arma da cintura e aperto o gatilho acertando na perna daquele morto vivo fazendo ele cair no chão.

  — você está maluca, esse lugar não é seguro. — ele disse desesperado.

  — você que não fechou na hora certa. — digo e acerto outro tiro fazendo o zumbi morrer dessa vez.

Olho para Kai calmamente e então dou as costas para ele.

  — essa é a minha casa, ela é segura, mas nesse inferno nada é seguro por muito tempo então não se acostumem com isso aqui. — disse e vi os olhares deles na direção da minha casa.

  — você viveu nessa casa e nunca deu uma festa? — ouvi a voz de Momo.

  — não dá pra dar festas na casa de um policial. — falei. — ou sem gente na festa.

Digo a última parte baixo e então abro a porta, de casa revelando uma sala espaçosa e com várias fotos de família espalhadas pelo lugar. Eu fui adotada muito nova por uma família rica e em certa parte muito carinhosa e parte da minha vida me senti culpada por querer mais do que eu já tinha, mas era difícil viver em uma casa tão grande assim e mesmo assim se sentir sozinha quando seus pais iam trabalhar e sua irmã pra faculdade.

  — aqui é a sala, se ficarem aqui não façam barulho. — falo. — indo naquela direção tem a cozinha, a comida tem limite senão iremos morrer de fome.

Continuo falando e Minnie, Rosé, Félix e Jennie eram os únicos que realmente prestavam atenção, Momo estava mais concentrada e ver as fotos de família enquanto Kai tentava se distrair olhando para as próprias mãos.

  — lá em cima tem muitos quartos, mas hoje só tem três que podem ser usados. — digo e me viro de frente para eles. — amanhã a gente ajeita os outros, mas hoje vocês se dividem, entre os dois quartos.

  — e o terceiro? — Momo perguntou.

  — o terceiro é dos meus pais e eu vou dormir lá, nada de irem até lá sem minha permissão, é uma questão familiar.

Rapidamente eles entendem o que eu falei e começam a conversar sobre a organização dos dois quartos, eu estava cansada e tudo que eu queria era um banho, comer e dormir.

Suspirei baixinho imaginando que se tudo estivesse normal eu poderia estar no meu quarto com uma tela enorme de vídeo game enquanto esperava que minha mãe chegasse em casa gritando um "filha, estamos em casa", mas não era possível ter isso agora. Olhei para meus pés e logo os pés de Jennie me chamaram atenção, ela não conseguia por o pé esquerdo no chão por muito tempo e eu sabia que a dor tinha aumentado depois de hoje.

  — vem comigo. — seguro na mão dela e sinto a mão de Kai por cima da minha como se tivesse pedindo pra eu soltar a dela, mas o contrário do esperado Jennie soltou a mão dele raivosa e voltou a segurar a minha.

  — não fale comigo. — ela disse e eu fiquei sem saber o que fazer. — onde vai me levar?

Jennie estava de fato falando comigo agora, durante minha adolescência toda Jennie não dizia uma palavra quando estava na minha presença, eu não sabia se era porque os amigos dela me zoavam e ela não queria me defender pra se tornar alvo também ou se era porque ela só se achava superior demais para fazer aquilo comigo, mas ela nunca disse uma palavra contra ou a favor de mim.

   — eu vou cuidar do seu pé. — ajudo ela a subir as escadas até o segundo andar e assim que entro no quarto dos meus pais eu ajudo ela a sentar na cama, me sento no chão de frente para ela e noto que ela havia cortado o pé, provavelmente em algum pedaço de vidro na escola.

Abri a gaveta do lado da cama e peguei uma lanterna e uma pinça.

  — o que vai fazer com isso?

  —  só irei ver se tem vidro aqui. — disse e ela me olhou assustada.

Olhei em voltei a procura de algo de borracha ou macio para ela morder mas não encontrei, tirei minha jaqueta e limpei a manga.

  — morde. — falei e ela levou até a boca um pouco receosa.

Voltei a encarar o pé dela e notei que o corte não era tão fundo mas ela poderia sentir alguma dor, senti Jennie agarrar minha mão e por isso tive que segurar a lanterna com a minha boca. Tirei o pedacinho de vidro do corte e ela apertou minha mão fazendo esforço para não gritar.

  — pronto, eu vou só limpar isso agora. — Jennie assentiu e eu peguei tudo que iria precisar para limpar aquele corte, assim que terminei Jennie estava com os olhos cheios de lágrimas mas ela não havia soltado um grito sequer, ela era forte.

Fiz um curativo melhor no pé dela e então me levantei.

  — não é corte fundo, então aproveita que estamos bem por aqui e tenta não fazer esforço por enquanto. Temos mais ou menos um mês aqui antes de sairmos.   — digo e começo a guardar as coisas.

  — obrigada, lisa. — ouvi a voz dela e então dei de ombros. — por ter nos salvado também, eu sei que não queria ter visto a gente ali.

  — eu iria salvar qualquer um que estivesse ali. -— guardo o resto das coisas na gaveta e então me sento ao lado dela.

— mas escolheu salvar a gente, não foi?

  — só se sinta agradecida, Jennie. — encaro a parede do quarto por alguns segundos. — pode dormir aqui hoje.

  — e você?

  — eu irei dormir na sala, quando seu pé ficar melhor você se junta os outros. — me levanto da cama e ando pelo quarto ajeitando as coisas.

  — mas...

  — quem de vocês tem a mira pior? — perguntei, ter a mira boa era uma coisa incrível nesse momento do mundo, e eu nunca agradeci tanto ao meu pai ter me forçado fazer tiro ao alvo.

  — acho que eu. Minnie e Félix jogam basquete igual o Kai, a Momo e a rosé são as melhores no boliche...

  — então acorda cedo, vou te ajudar treinar a mira, a gente tem que se apoiar aqui dentro. — falo e ando até porta, coloco a mão na maçaneta. — não trás ninguém aqui, por respeito aos meus pais.

  —  eu não irei.

  —  obrigada.

a praga vivaOnde histórias criam vida. Descubra agora