7: irmãzinha

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Depois de alguns minutos em que eu estava sozinha no quarto, Jennie voltou com duas xícaras de café, e mesmo que tivesse pouco café, eu sentia falta de tomar isso enquanto estudava. Na verdade, nunca pensei que fosse sentir falta de estudar todas as tardes para alguma prova da escola, eu nunca pensei que sentiria falta de nada desse lugar.

O mais surpreendente é o fato de agora eu estar tomando café sentada ao lado de Jennie. A garota concentrada ao meu lado olhava para o mapa como se tentasse pensar em alguma coisa apenas para me ajudar, já que nem ela sabia exatamente o que eu estava pensando. Tentar tirar eles daqui podia salvar nossa vida em poucos dias, mas eu não sabia se era realmente um caso de vida ou morte estar aqui.

  — droga. — ouvi Jennie murmurar enquanto eu pensava, e quando eu a olhei, ela estava tirando sua blusa.

  — o que está fazendo? — a encarei confusa fazendo meus olhos continuarem em seu rosto.

  — derramei café na minha blusa, podia me queimar e já não basta o pé machucado. — ela explicou e eu balancei a cabeça entendendo. — primeira vez que tiro a blusa na frente de alguém e a pessoa continua olhando no meu rosto.

  — o que?

  — esquece, onde eu encontro outra blusa? — ela perguntou se levantando da cadeira que havíamos colocado em frente a cama.

Eu apontei para a mochila que arrumei com roupas que eu achei que iriam caber nela que estava no canto do quarto. Jennie andou até lá e eu segui com meu olhar, ela sabia que eu a olhava porque eu não fiz questão nenhuma de disfarçar, e assim que tirou outra blusa de dentro da mochila ela se virou de frente pra mim e deu um sorriso enquanto vestia a blusa.

  — sabe, você me deixou muito curiosa hoje.  — tomei o resto do café na xícara da minha mão. — qual foi a pergunta que Momo fez?

  — quem da rodinha eu pegaria. Eu só falei o primeiro nome que veio na cabeça, não pegaria nenhum de vocês.

  — e por que?

  — porque nenhum dos caras fazem meu tipo e as garotas não são meu foco agora. — expliquei enquanto levantava da cadeira evitando contato visual com ela agora.

  — seu foco é viver?

  — esse não é o seu?

  — era meu foco nos cinco primeiros dias, agora meu foco é não atrapalhar ninguém. — Jennie parecia pensativa enquanto falava isso.

  — acho que tentar viver nesse mundo não é atrapalhar.

  — e porque viver nesse mundo é tão importante? Eu não tenho mais família, meus amigos podem viver sem mim tranquilamente... E você ainda tem esperança que o mundo vai voltar a ser o que era? — Jennie dizia e eu sentia seu olhar em mim.

   — não saberemos se não tentarmos viver. — digo. — e... Morrer por um zumbi não é uma opção para mim.

  — nem para mim, mas eu também não quero morrer de fome ou de sede.

  — e não... — finalmente a olhei de novo e dessa vez Jennie tinha os olhos cheio de lágrimas. — o que foi?

  — lisa... — meu nome saiu arrastado em sua voz e então eu me aproximei dela tocando em seu rosto enxugando a lágrima solitária que escorria pela sua bochecha.

  — calma, jen, nada vai acontecer com ninguém. — eu deixei tudo de lado e me sentei na cama a trazendo para o meu lado e a abraçando.

  — eu estou com medo. — sua voz era baixa e eu sentia o tom choroso.

  — prometo que nada vai acontecer com você, eu não vou deixar.

  — por que você é tão bondosa comigo sendo que eu nunca tratei você como eu merecia? — ela olhou nos meus olhos e eu senti meu coração amolecer naquele momento, por deus eu sou fraca, eu sempre soube que eu seria fraca, eu me apego rápido demais e isso no apocalipse é como dar uma arma ao seu inimigo.

  — eu sou bondosa porque eu sou fraca. — falei e fiz ela deitar a cabeça no meu ombro devagar para que eu não precisasse olhar em seus olhos.

Tirei meus tênis assim que entrei em casa e os joguei com força no meio da sala, olhei para a rodinha do meu skate destruída e então senti meus olhos cheios de lágrimas mas logo tratei de desfazer a cara de choro quando vi meu pai entrando na sala.

  — o que aconteceu com você? — ele perguntou com uma feição séria mas eu sabia que no fundo havia preocupação.
 
  — quebraram a roda do meu skate e meu celular descarregou, então eu tive que andar da escola até aqui porque o ônibus não parou pra mim. — falei sentindo agora a raiva.

  — você não disse que as provocações haviam acabado?

  — eu pensei que a Minnie realmente estivesse sendo legal comigo no laboratório.

  — lisa, quantas vezes eu tenho que dizer que não se torna amigo de quem te machuca? Foi ela quem fez isso?

  — não, mas foi o kai, amigo dela. — respondi e ele se abaixou um pouco para me dar um abraço.

  — está na hora de deixar essa fraqueza, Pran.

  Sai dos meus pensamentos quando Kai entrou no quarto sem mesmo bater na porta, eu o olhei e vi seu olhar vir até minha mão nas costas de Jennie. A garota ainda abraçada a mim sequer fez questão de me soltar quando olhou para o namorado, ela apenas enxugou as lágrimas e continuou com as mãos em volta da minha cintura como se buscasse segurança.

  — tem uma garota lá no portal, cabelo escuro baixinha e também está com um cara alto. — ele disse e soltei Jennie aos poucos para não assustar ela.

Eu estava perplexa, ela não seria capaz de fazer algo assim mesmo depois de eu falar que ela não deveria fazer, quais eram as chances de ela ter me desobedicido, se bem que a desobediência dela fazia parte de quem ela era a muito tempo.

  — porra, eu não acredito que ela fez mesmo isso. — digo e me levanto da cama, saio do quarto e sinto os dois virem andando atrás de mim, eu praticamente corri até o portão ainda não vendo ninguém. — cadê ela?

  — do lado de fora, você disse que não deveríamos deixar ninguém entrar. — Momo falou segurando uma faca em uma das mãos e eu sorri, pelo menos ela estava começando a me ouvir.

Corri até o portão e apertei o botão vendo a porta de metal se abrir e ela cair no chão com o zumbi tentando morder, chutei o corpo podre daquele parasita e o vi cair para o lado e depois disso ouvi o disparo de uma arma e um furo na cabeça do zumbi.

  — lali! — aquela voz.

  — fecha! Fecha a portão agora! — gritei e Félix correu para fechar o portão.

Os dois estavam dentro agora e eu não podia conter a minha saudade naquele momento.

  — porra Lalisa não dava para mandar seus súditos abrir antes não? — sua voz rabugenta ainda era a mesma e eu ri um pouco quando ela levantou do chão limpando sua bunda do chão sujo de areia.

  — nós não... — Momo começou mas logo desistiu de terminar.

  — eu cheguei irmãzinha. — jisoo falou e eu olhei para Bambam atrás dela com um sorriso sem graça pois ele sabia que eu havia dito para ela ir para um lugar seguro e não atravessar a cidade atrás de mim.

  — eu tentei convencer ela....

a praga vivaOnde histórias criam vida. Descubra agora