Capítulo XLV

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LAISLA ON:                                                                            

A neve caía pesadamente e sem piedade, já na altura dos meus joelhos conforme eu puxava a corda do arco para trás mais e mais, até meu braço tremer. Atrás de mim, uma sombra espreitava... observava. Não ousei me virar a fim de olhá-la, para ver quem poderia estar dentro daquela sombra me observando, não quando o lobo me encarou do outro lado da clareira. Apenas encarou. Como se esperasse, como se me desafiasse a atirar a flecha de prata. Não, não, eu não queria, não dessa vez, não de novo, não... Mas não tinha controle de meus dedos, e ele ainda me encarava quando disparei. 

Um disparo — apenas um, direto naquele olho avermelhado. Uma pincelada de sangue espirrando na neve, o estampido de um corpo pesado, um suspiro do vento. Não foi um lobo que atingiu a neve, foi um homem, alto e bem constituído. Pisquei, então... então minhas mãos estavam quentes e grudentas de sangue..


Acordei em um impulso, o suor escorria em minhas costas, e me obriguei a respirar, a abrir meus  olhos e reparar em cada detalhe do quarto escuro como a noite. Real... aquilo era real. Mas eu ainda conseguia ver aquele homem com o rosto na neve, o rosto no qual eu não conseguia distinguir, com minha flecha lhe atravessando o olho, vermelho e ensanguentado.  Apenas um sonho disse a mim mesma enquanto recobrava minhas forças. Mesmo que o que eu tivesse feito, mesmo que o lobo, fosse... fosse... Esfreguei o rosto. Talvez fosse o silêncio, o vazio dos últimos dias, talvez fosse apenas o fato de eu não mais precisar pensar hora após hora, mas... era arrependimento e, talvez, vergonha que cobriam minha língua, meus ossos. Estremeci, como se pudesse atirar o sentimento longe, e chutei os lençóis para me levantar da cama em um impulso. Afastar aquilo, eu precisava afastar-me de tudo aquilo.

Percorrendo o quarto em busca de acalmar meus pensamentos, acabo chegando ao encosto da janela abrindo e percorrendo a distancia ainda restante para ficar recostada no parapeito. A brisa gélida da noite fazia meus cabelos voarem, soltando mechas que se desprendiam do trança e caiam sobre meus ombros. Aquela sensação, que por mínima que seja me tirava dos pensamentos, com olhos fechados para poder ampliar ainda mais o toque do vendo em minha pele, cada centímetro que era chocada com a brisa gelada, me trazia uma estranha paz. Inconscientemente, meus olhos vislumbram a noite que se estendia ao longo dos portões de ferro. 

Logo uma inquietação me invade, algo em mim gritava que havia alguém naquela escuridão que se seguia pelo jardim. Algo quem me deixará inquieta se permaneceu ali por segundos e desapareceu. Com isto, a dor invadiu meu peito como um sopro do vento, e tudo voltou a ser como era, cada sentimento de dor. Me faz pensar se eu realmente ficarei sozinha...

                                                                                       ⚜️

O dia que se seguiu, se fez cada vez mais insuportável, e tudo começou com minha irmã nos agraciando com sua presença e a de seu mais novo cachorrinho, a mesa de café. Não parando por ai, Kamil como mais novo membro da família teve sua primeira participação em reunião do conselho, e é claro que não foi comentado nenhuma das questões importantes, afinal, ele não passava de um inimigo que se juntou a nossa corte por livre espontânea obrigação.  Tudo ali parecia desabar conforme meu pai liderará a reunião, até o momento que Lórien se fez presente. 

A reunião chegou ao fim, e com isso todos se retiravam do salão. Kamil ja havia sumido entre as portas. Não podia deixar de sentir um certo aperto no coração.

Amarïe? - Sinto uma mão em meu antebraço, agradeço silenciosamente por me tirar de meus pensamentos. Com um movente leve, me volto a Lórien, que me olhava com ternura. Aqueles olhar, jamais merecerá olhar.. 

_ Lórien - Em um sussurro pronuncio seu nome, e sinto ele enrijecer o corpo a minha voz. 

_ Queria conversar com você Amarïe. Sinto tanto sua falta, a tanto que tenho a conta, a me explicar e pedir-lhe desculpas por todos esse anos e... 

_ Não precisa pedir desculpas, não me deve desculpas Lórien. Fui tola ao deixa-lo sozinho, e ao desistir de procura-lo. 

_ Procurou por mim? - Pergunta, com certo enigma em seus olhos, mas era Lórien. Meu Lórien, ainda estava ali.

_ Procurei por você 4 anos Lórien.. - o silencio irrompeu entre nós por longos segundos, até que o sinto me abraçar. Um abraço quente e doce. Como o que costumávamos ficar por longos minutos, e ali não era diferente. Pude sentir o mundo cair aos meus pés. 

Amarïe, a tantas coisas que preciso.. que preciso que você entenda, e que não posso contar agora. Mas, você.. você me daria uma nova chance? 











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⏰ Última atualização: Oct 25, 2022 ⏰

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