— Vai ficar calado Matheus? Me fala logo o que tá acontecendo com o Hariel cara, ele tá muito machucado?
Eu estava tão nervosa que mal conseguia raciocinar direito, minhas mãos já estavam suadas e frias o que significava que em breve eu teria uma crise forte de ansiedade ou até mesmo uma crise asmática forte por conta da respiração ofegante e o sereno que eu havia tomado.
Namoral, sai com tanto desespero que nem me preocupei com porra nenhuma, por mais que estivesse ventando nem frio eu conseguia sentir mais porque no fundo o medo que eu sentia era maior e mais forte do que qualquer outra coisa.
— Cacete Matheus, não me faz ficar pior do que eu estou não, por favor, só fala como ele está!?
— Primeiro tu fica calma tá ligada? Fica relaxada aí tem motivo pra surtação não.
— Não tem motivo? Não tem porque ele não é nada teu, por isso você tá tranquilo desse jeito.
Meu ódio só triplicava junto com meu medo, apesar de ser meu amigo desde a infância, Matheus tem esse poder de me fazer odiá-lo em situações como essas.
É sempre essa merda, ele faz de tudo pra me enganar pra poder ganhar tempo o suficiente até o Hariel conseguir se safar das merdas que ele mesmo se metia.
— Tu não vai me dar paz né não Nina?— neguei com a cabeça enxugando as lágrimas.
— Eu só quero saber como ele tá, eu não posso perder ele menor, Hariel é uma das poucas pessoas que eu tenho na vida, nem meu pai eu tenho direito mais.— voltei a chorar mais ainda.— Me fala só como ele está por favor.
— Eu não sei muita coisa Nina, tudo que eu sei é que o Alemão foi tirado da comunidade onde ele estava cheio de furo de bala, o patrão tava malzão sacô?
Eu tentava me acalmar mas ficar calma era quase impossível, Hariel já tinha tomado outros tiros mas não tantos de uma vez e muito menos ter tomado a iniciativa de me mandar mensagem.
Eu só conseguia pedir a Deus pra que aquilo não fosse uma despedida porque eu não podia ficar sem o cara mais importante que Ele colocou em minha vida.
— Pra onde levaram ele?
— E pra que tu quer saber?
— Eu vou lá!
— Você tá é maluca Catarina, volta pra casa da tua vó caralho, fica suave por lá e quando eu souber de algum bagulho eu aviso.
— Avisa o caralho Matheus, fala logo on...
Fui silenciada com o barulho do radinho dele tocando.
"Qual foi Menor, brota na barreira pra ajudar a carregar os caras feridos pro posto, tá geral fodido até o patrão."
Menor me olhou na hora, ele sabia que eu não ia esperar a boa vontade de ninguém pra me dar notícias sobre o que eu queria saber.
— Inventa não Catarina, inventa não!
Quando ouvi falarem dele nem esperei mais nada, tava pouco me fodendo para o que o Menor falava, sai correndo morro abaixo igual uma maluca pedindo do fundo do meu coração a Deus que ele estivesse bem.
— Corre porra, faz alguma coisa nesse caralho tá vendo o mano morrendo aí não?
Mesmo inconsciente conseguia ouvir a voz do Carioca ao fundo, o mano é bandido mas sempre foi medroso pra essas paradas.
Um falatório do caralho, meu coração batendo lento no peito e uma sensação ruim da porra. A van parou em algum lugar, aquela sensação nunca falhava pô, sabia que eu tava no meu morro, ouvia os caras falarem sem parar mas os olhos mesmo eu não conseguia abrir, tava fraco pra caralho já e pra ser sincero nem sabia como tava vivo ainda.
— Fica sussa irmão o bagulho tá esquematizado, tu não vai partir agora pô, aguenta Alemão, aguenta carai.
Papo reto, nada mais me mantinha "acordado" tinha nem força nem vontade de continuar ali todo fodido
Aos poucos fui perdendo o resto da consciência que havia me restado, só não consegui deixar de ouvir a voz dela me gritar no fundo.
— Hariel, Hariel fica aqui, tu não pode ir agora, ainda tem muita vida pela frente cara, não me deixa aqui sozinha.
Eu queria responder ela, queria mandar ela voltar pra casa e por uma roupa de frio por causa da asma dela mas nem isso eu conseguia.
Me forçava a falar mas era uma situação fodida, só consegui sentir uma parada esquisita pra cacete como se eu deixasse meu próprio corpo tá ligado?
A brisa era tão forte que parecia maconha dos parças do México, mó brisa torta.
Eu escutava as paradas ao meu redor mas não estava ali, eu via a Nina sentada do meu lado segurando minha mão e com a cabeça apoiada no meu braço mas não conseguia fazer porra alguma.
— Porque você faz essas coisas com sua vida Hariel? Porque hein?
Perguntava chorando baixinho sem soltar minha mão igual quando ela era pequena.
— Pô menor, sei nem que porra é essa que tá acontecendo cara.
Parei do lado dela tentando fazer ela me escutar mas ela nem me olhou, só se arrepiou e olhou pros lados mas nem me viu.
É mermão, eu já tinha partido daquela pra uma bem pior...
A parada só foi piorando, tudo a minha volta começou a escurecer e nem a Nina eu conseguia enxergar mais, só escuta gritos de desespero tá ligado? Aquilo ali era o inferno, nem me surpreendi pô já esperava vir pra cá mermo.
— Seu lugar não é aqui meu filho, o umbral não é um lugar pra você.
Porra, eu sabia de quem era aquela voz, meus olhos encheram de lágrimas na hora papo reto.
Os gritos nem dava pra ouvir mais tá ligado? Aquele clima ruim pra caralho sumiu sendo substituído por uma paz terrível, coisa que nunca bandido nenhum vai ter.
Tava no paraíso rapá, aquela voz era da minha vó, não ouvia a voz dela desde que ela e meu vô foram mortos no dia que minha menor nasceu.
— Que parada é essa vó, eu tô morto?— ela sorriu pra mim tá ligado? Mó saudade da velha.
— Tá não meu filho, tem coisas na vida que não dá pra entender mas isso que você está passando é pra te fazer entender certas coisas e concertar o que estiver errado.
— Que coisas vó? Minha vida tem concerto não pô.
— Tudo na vida tem concerto Hariel, te deram uma luz à 17 anos atrás você só não encontrou ela da forma que deveria.
— To entendendo nada.— falei confuso.
— A partir de agora você vai entender, vai na fé meu filho, daqui eu cuido de você.
Beijou minha testa e sumiu, minha mente tava confusa pra caralho.
Namoral que porra é essa que tá rolando mermão?
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Caso Imoral • livro I | Degustação
Fanfic"Baby, só me diga porque não agora? Tem vez que a gente briga e perde a razão Tu sabe como eu fico se eu te vejo chorar E quem perde com isso é nossa relação..." |Nina e Alemão|