As Cartas Sem Destino

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Narradora POV

 4 meses depois, Guali, Colômbia. 02:05 a.m.


"Meses que se parecem anos nesse inferno. A vida virou totalmente de cabeça para baixo, no sentido mais negativo possível. Eu não sei como vim parar aqui, só sei que me esforço para sobreviver todos os dias, como se fosse meu último.

 Os guerrilheiros protegem os narcos e eles financiam a nossa matança. Somos marionetes desestabilizadas dando nossa vida em prol de nada. Apenas pessoas frágeis, dopadas e instáveis, ligadas a partir de tortura psicológica ou drogas.

 Nos ensinaram a descarregar sem hesitar, seja a uma pessoa forte, se avistar um inimigo, precisamos agir. Já não sou a mesma. Meus dedos falham todas as vezes que vejo inocentes implorar por misericórdia, e eu não posso ceder. 

 Não poder fazer nada, meu coração se quebra em mil pedaços.

 O pouco de esperança que me resta, se mantém forte em mim, mas já estou tão cansada. Eu acho que nunca mais poderei voltar a viver ao normal."


 Sentada em um banco, dentro da tenda, Andi terminou de escrever sua carta, mais uma das milhares que ela escrevia quando tinha tempo. Para quem? Não tinha destino, era a única maneira de expressar seus sentimentos. Era um loop, ela escrevia, sentia, lia a carta e as dobrava, guardando-as em sua caixinha secreta.

 — O que temos para hoje, escritora? - um de seus amigos, John, se aproxima, sentando ao seu lado no banco, questionando-a 

 — Pensamentos e sentimentos. Tudo aquilo que você já sabe - Andi diz calma - Todos os dias eu penso como a minha vida virou em um trezentos e sessenta maluco

— De todos nós - ele diz bebendo água - Eu estava desenhando uma casinha feliz com a minha filha...eles entraram, me bateram e me arrastaram até aqui

— Como chegou aqui? - questionou ele

— Não sei, eles me apagaram - ele respondeu chateado - Isso aqui é tudo uma loucura, nós colocamos nossas vidas em jogo, pelas brigas dos grandes chefes do narcotráfico

— Coragem deles colocarem usuários de drogas para brigar

— Na visão deles nós somos um nada - ele diz - Somos animais que podem morrer e ninguém sentirá falta...mesmo que isso seja uma enorme mentira, muitos aqui como eu, tem família...

— É horrível pensar que as coisas no mundo estão acontecendo e nós estamos no meio de uma guerra... - Andi disse pensativa - As pessoas estão em casa, tranquilas, felizes e do outro lado tem pessoas morrendo e matando 

— UM, DOIS TRÊS. UM, DOIS, TRÊS - um homem chega gritando  interrompendo a conversa deles - Eles tem tudo planejado, uma, duas e três vezes, e então ele nos pega! Isso tudo vira rotina ele entra nas nossas cabeças

— O que esse maluco está falando? - John questiona rindo - Um, dois e três? Mas que merda é essa?

— Espera, fala de novo - Andi diz tentando compreender - Acho que eu entendi ele

— Ele entra nas nossas mentes, transformando tudo isso em rotina e nós nem percebemos. Um, dois e três. - o homem diz fazendo milhares de gestos com as mãos - Não posso falar mais que isso, adeus amigos

 O homem fala e vai embora, ainda gesticulando e falando sozinho. Atraindo olhares e risadas dos outros guerrilheiros. Deixando os dois confusos.

— Ele estava falando do Edgar e suas sessões de tortura psicológica, acho que é isso - Andi diz e John parece compreender

Amor de Verão (Endi) - Segunda TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora