1

3.4K 139 5
                                    

A garota de cabelos castanhos, de um fio tão espesso e brilhante, andava distraída, porem com muita pressa em meio a multidão, não havia como não reparar, parecia odiar algo, algo que estava a sua frente, mas não havia nada a não ser a multidão de pessoas indo para seus respectivos empregos, andava com determinação e as feições um pouco coléricas a transformavam em um Leão selvagem em meio a multidão, a garota parou de supetão ao olhar para o outro lado da rua, e encarou uma cafeteria, provavelmente aquele era seu destino, ele pensou, observava tudo, e todos, do mirante onde estava, se perguntou o porque uma cidadezinha era tão movimentada as oito da manha, as pessoas não andavam de carro, caminhavam para o trabalho, e embora a cidade fosse pequena, parecia estar lotada, como se estivesse temporada para alguma coisa qualquer e não no meio de setembro, mas não era turistas e sim pessoas locais, ele observou a garota entra na cafeteria, ele a observou enquanto esperava impaciente na fila, se estava com tanta pressa, então porque havia parado para tomar café, ele se perguntou, mas não quis se demorar muito com ela, talvez fosse porque todos pareciam iguais na maldita cidade, todos eram muito brancos embora a cidade fosse de sol e praias, os cabelos pareciam sempre os mesmos, ou loiros ou ruivos, quase todos de meia idade, outros acima do peso, alguns passavam correndo de um lado para o outro com suas roupas de ginastica enquanto ouviam musica com seus fones de ouvidos, ignorando tudo ao redor, alguns carros passavam na rua, era estreia e completamente feita de paralelepípedos, o que era arcaico, pensou ele, quando finalmente a mulher conseguira comprar seu café, saiu em disparada pela multidão, empurra outras pessoas que talvez julgasse não estarem andando rápido o bastante para ela, os sapatos pareciam extremamente desconfortáveis, ele se virou, e caminhou ate a outra extremidade do mirante que ficava no centro da cidade, dali poderia ver tudo, as casas, os prédios, as pessoas na rua, ficava entediado com facilidade mesmo depois de tantos anos, mesmo estando em sentido oposto ao que ela estava agora, a moça de cabelos castanhos apareceu dando a volta na rua estreita e com poças de lamas, era outra coisa ruim sobre a cidade, úmida demais, como um pântano, ele encostou os braços contra a o pequeno muro de pedras que o separava da queda livre ate o chão, uma queda considerável, teve que admitir, a garota era rápida, já estava a três ruas da qual ele havia visto a poucos minutos, ela parou mais uma vez, e foi tao repentino como da primeira, de supetão, como se apenas tivesse decidido parar, olhou algo na rua, que pelo ângulo ele não conseguiu ver o que era, e então voltou a trotar sobre os sapatos, ele observou do outro lado da rua, um homem alto e gordo passar correndo também, era grande demais na região superior em relação as pernas, um péssimo guerreiro sem sombra de duvidas, ele riu com escarnio ao pensar no gordo em um campo de batalha, alguns generais excediam o peso depois do tempo e do desuso ao corpo, mas ainda assim eram homens fortes, por isso odiava caminhar entre as pessoas, era impossível não as julgar, ele viu os caminhos do homem gordo com terno atarracados, os botões lutando para se manterem firmes, e a garota um pouco apressada ainda com seu café pela metade em punhos, e foi rápido ate para seus olhos imortais, em um segundo os dois se chocaram um contra o outro em uma virada de esquina, os dois sem atenção alguma no mundo ao redor a não ser eles mesmos, e por isso haviam caído no chão, a garota se dera mal nessa, estava suja, a blusa arruinada pelo café de um marrom escuro, tão escuro que ele imaginou o gosto amargo que aquilo devia ter, o homem levantou com pressa, se segurando em um poste para tentar se recompor, alguns botões do terno haviam perdido a luta, pois nem mesmo ele sabia onde haviam ido parar, as garota um pouco atordoada ainda permanecia no chão, o homem não ofereceu ajuda, de certo que não tinha um pingo de cavalheirismo no corpo, ele grunhiu algo para a moça no chão, e ela lhe estende o dedo do meio com maestria enquanto revelara ter a boca tão suja quanto a de um soldado, aquilo tirou um meio sorriso de seus lábios, mesmo não estando ali para distrações, mesmo em meio a cena cômica que testemunhara, ainda não sabia o porque fora arrastado ate a maldita cidade, o amuleto em seu pescoço faiscava desde que havia colocado os pés em Santa Edwirges, a cidade cheirava a peixe, e madeira apodrecida, o amuleto nunca brilhava tanto, ele tinha de admitir, porem também não havia mudado de brilho desde que ele chegara, apenas brilhava, e não sabia o que procurava, segurou o amuleto com raiva, aquele haviam lhe prometido que levaria ate a chave, que o levaria ate seus planos, voltou a procurar a moça com os olhos, estava caminhando, mancado, e não correndo como antes, molhada de café, com a blusa antes branca, grudado ao corpo pelo tecido molhado, era quase digna de pena, ele não soube dizer de inicio se o salto dela estava quebrado, ou o tornozelo, mas ela seguiu, e entrou onde talvez fosse seu destino, alguns minutos depois ela saiu com os saltos na mão, e a blusa um pouco mais seca, e olhou para o céu, ainda na frente da loja onde estava minutos antes, caminhou com dificuldade ate a costa da praia, e se deteve na calçada olhando de longe, parecia manter uma distancia segura da areia e do mar embora olhasse com adoração, ele era um cavalheiro, ou talvez fora um dia, mas não se lembrava como fazer algo do tipo, quando a moça levantou o rosto, olhando diretamente para o mirante onde ele estava, jurou para si mesmo que ela podia velo, talvez estivesse louco, mas ela olhou, não como todos os outros olhavam, não admirando a vista do belo e imponente mirante do centro da cidade, olhava diretamente para onde ele estava, os olhos dela, eram do mais profundo azul, como o mar, mas não esse que estava a sua frente, um mar mais antigo, mais impetuoso, que ele vira uma vez nas ilhas do sul, o azul dos olhos dela eram aquele azul, o rosto da jovem continuava enfurecido , mas os olhos estavam caídos e triste, e nada felinos como antes, ele olhou de volta, mesmo sabendo que era louca, que ela não podia velo, ele a encarou de volta, a expressão enfurecida no rosto da jovem talvez fosse sua expressão habitual, as narinas dilataram um pouco quando ao fundo ela respirou e inspirou, ele se perguntou se parecia tão ridículo quanto ela, ou tão enfurecido quanto, enquanto olhava para todos de cima para baixo no alto onde estava, e talvez a resposta fosse sim, porque algo repuxou nos lábios da moça e não foi um sorriso, parecia uma expressão de descontentamento, ou ela havia dito algo horrível bem baixinho, ele não sabia identificar, ela sustentou o olhar um pouco mais antes de virar de costas e sair mancando com o tornozelo inchado o qual começava a ficar muito vermelho, as pessoas na rua pareciam não oferecer ajuda, não porque não queriam, a olhavam como se quisessem oferecer seus serviços, mas todos que lhe lançavam tal olhar de sinceridade eram recebidos por um rosto felino pronto para atacar com chamas nos olhos azuis, quanto mais mancava, mais seu rosto se contraia em rosa e vermelho, ela virou em uma rua que parecia esquecida ate pelas almas que viviam nela, onde só haviam casas velhas, talvez abandonas, sem jardim, sem pintura alguma no lado de forma, o lugar parecia morto, quando chegou a frente da casa mais feia, a que parecia ter sido atingida por um tornado, e velha o suficiente para cair, com madeira apodrecida e nenhum resquício de tinta, sem jardim, talvez fosse as casas de filmes de terror os quais ele ouvira falar, ela voltou a olhar para o mirante bem ali, em frente aquela casa abandonada, e dessa vez parecia não o ver, pois não olhava para nada especifico como fizera antes, a garota balançou a cabeça, deixou os saltos em cima do pequeno muro feito por pedras e coberto de musgo que separava a casa da calçada, ela prendeu os cabelos espessos com um elástico que estava em seu pulso, tentou varias vezes e falhara, mudar a expressão do rosto, antes de entrar na maldita casa velha, ele observou o que podia ser a decima tentativa dar certo, e então ela ultrapassou o portão, pegou os saltos velhos e gastos do muro, e caminhou pela pequena estrada de pedra ate a casa, haviam plantas mortas ao redor, o que talvez um dia tentara ser um mini jardim, ela viu subir a escada apodrecida, e uma garotinha muito menor sair em um vestido rosa tao vibrante que podia o ter deixado cego, um pingo de cor em meio a toda a escuridão que aquela casa representava, a mulher de olhar felino balançou a cabeça para criança em negativa de algo, e a menina hesitou antes de entrar, ele viu a moça respirar fundo e em seguida entrar também, o amuleto se apagou, a chama ficou fraca, ele podia sentir, que estava longe do que procurava, " por que me trouxe aqui" ele queria perguntar, se não iria dar indícios de que estava perto do que procurava, porque precisava da droga do amuleto então, raiva lhe subiu pela garganta. Olhou em direção a praia uma ultima vez antes de abandonar aquela vila esquecida pelo mundo, era pequena demais para chamar de cidade, talvez fossem melhor " aldeia" ou " vilarejo", desceu do mirante o mais rápido que pode e caminhou preguiçosamente pelas ruas, as pessoas continuavam andando de um lado para o outro, risonhas e felizes como se todos eles tivessem mil motivos para acordar todas as manhas, e isso o deixou irritado, ficou grato por não poder ser visto por eles, aquelas pessoas pareciam boas demais para existirem, ate seus cheiros exalavam o quanto estavam felizes com a vida pacata, mães passeavam com seus filhos, crianças e seus cachorros, lojas de doces abertas, se perguntou o que tinha a cidade de tão especial para que todos parecessem tão animados, então ela surgiu, mas uma vez apressada, virando em esquinas sem a menor atenção, e ela reparou ele, era a única pessoa na cidade que não parecia do lugar, tinha cabelos castanhos enquanto todos eram brancos e gorduchos, era um pingo de escuridão em meio a luz, agora usava uma calca jeans tão folgada que só estava presa ao corpo pelo cinto, e uma camiseta preta, que também não era justa, os cabelos estavam presos e um tênis gasto e manchado, com aparência tão velha quanto a senhora de idade que passava do outro lado da rua, ele se encostou contra uma barbearia, não podiam velo, e não queria ficar ali, apenas se encostou para que a moça passasse por ele, assim poderia a ver de perto, ele a viu caminhando com pressa e pensou que teria que ser rápido para olhar para ela, pelo jeito que ela andava mesmo mancando, tinha uma faixa pressa ao tornozelo, apertada, muito apertada, e ele olhou para o alto da íngreme rua, talvez estivesse indo para a farmácia ou a um medico, ele podia sentir o cheiro dela em meio o da multidão, era algo como flores campestres, mas ainda sim forte, podia sentir os tons de eucalipto em seu cheiro, ela se aproximou olhando a subida que era a rua, a cidade era repleta de subidas e descidas, não colocava muito peso sobre o pé ruim, e então foi assim que ela passou por ele, não precisou ser rápido, porque algo na moça a fez caminhas lentamente enquanto passava pela fachada da barbearia com paredes verdes, algo a festa parar e olhar diretamente para o lugar que ele ocupava na parede, de braços cruzados e destemido, ali, algo nele parou também, não conseguia se mexer, não com ela tão perto, mesmo sabendo que nada ela via, a garota olhou para dentro da barbearia e então para a rua ao redor, voltou a fixar o olhar na parede onde ele estava, olhava para ela catatônico, algo nele ainda podia se chocar, o que era divertido e nada entediante, mas foi o calor em seu pescoço que o tirou do transe, o colar queimava em vermelho e verde, com chamas tão fortes em seu interior como nunca antes, ele nunca esteve tão perto, o que era um azul fogo agora era de todas as cores, as chamas ficavam mais intensas, a garota olhou uma ultima vez e então um vento contrario, vento que ele soprara para ela, lhe jogou uma brisa sobre o rosto, ela pareceu atordoada, e então voltou a mancar, subindo a rua o mais rápido que podia, o amuleto voltou aos poucos a ficar azul, uma chama fraca em seu centro, então ele soube o que procurava 

Chama-me do que QuiserOnde histórias criam vida. Descubra agora