Sabia onde ele estava, na varanda, como em todos os outros dias, esperando, pra que aceitasse recebe - ló, não queria o ver, se negava todos os dias, por que o aceitaria? Era culpa dele, toda a situação, os mestres curandeiros voltavam todos os dias para verificar a coluna partida, ela os agradecia, alguns tinham rostos bondosos, como o do seu avô, se sentia humilhada, ninguém fora Helga e Vlad aparecia, ela o ignorava, ele sempre se mantinha afastado, mas dessa vez não, ele se aproximou, ficando de pé ao lado da cama, ela não olhou para ele, encarava o próprio reflexo no espelho. O que teria para dizer que era diferente de todos os outros dias? Dias que ele havia passado apenas observando de longe, pensativo, como se estivesse fazendo a decisão mais difícil da sua vida.
" Você tem um dom" ele disse de forma contida, estava longe, nunca havia usado um tom de voz normal antes " o cinco círculos dentro de cinco círculos, cinco vezes" ele sentou nos pés da cama, ela ponderou, ou era louco, ou totalmente destemido, já que todos os outros Deuses haviam fugido " água, fogo, terra e ar, isso corre em suas veias" ele continuou falando.
Ela quis o responder, gritar, ao mesmo tempo em que queria o ignorar, se perguntou quanto tempo mais aguentaria ignorar a única pessoa que poderia lhe dar respostas.
" nenhuma rainha teve os quatro, mas você tem" a voz dele ficou séria " o quinto círculo e você, o centro"
"Idai?" Ela urrou, as costas doeram, e mesmo assim pode jurar, que algo o fez tremer, algo como alivio, e de fato era, ele estava aliviado, por alguns pensou que ela o ignoraria por meses, como quando ele a insultara com o objetivo de que ela se afastasse, e quando ela o fez, exatamente como ele previra, odiou, alguns dias pensava em a sacudir e a obrigar a responde-lo, a falar com ele, e ser ignorado de novo, não aguentaria.
"Nao pedi por isso " grunhiu levando as mãos ao rosto "confiei em você " ela deixou um soluço sair " confiei e você joga um amigo para morrer" estava entalado, transbordando " como posso ser tão estúpida? Me bate, me prende em um castelo, me machuca, machuca meus amigos"
"Nao" ele respondeu desesperado "eu não sabia que o conhecia " ele tentou tocar sua mão, ela não aceitou " Hades disse que teria um prêmio, admito que sabia que era um humano, mas não que o conhecia "
" Então uma vida humana é nada pra você?" Ela gritou
"Nao!" Ele respondeu em um urro, ficou de pé "vidas humanas nunca significaram nada para mim""Então me mata!" Ela tremeu sob a cama "me mata" disse deixando as lágrimas saírem "acaba com isso "
"Deixei que ele levasse um humano, pois sabia que se não tivesse algo pelo que lutar. Se deixaria morrer, e mesmo assim, mesmo com um amigo seu lá, ainda ponderou se morrer não tornaria tudo mais fácil"
"não sabe de nada sobre mim!"
" sei, sei exatamente o que pensa, eu não preciso ver você, conversar com você, ou vasculhar a sua mente, para descobrir o quanto acha a morte tentadora"
" por que não precisa, acha que somos tao íntimos assim?"
" porque eu penso nisso, o tempo todo" ele admitiu, a pegando de surpresa, desarmada, sem uma boa resposta para dar, para incitar uma briga
"E finalmente seria livre " ela suspirou deixando os ombros tremerem " eu não quero essas coisas para a minha vida, eu não escolhi isso"
"Não, não seria, olhe o que você é, o que fez, com quem você lutou" ele balançou a cabeça " olha a misericórdia que teve e se orgulhe disso"
"Não posso" ela o olhou "não tem nada de que eu me orgulhe "
"Pois eu tenho tantas coisas, para me orgulhar de você"
Ela enxugou as lágrimas
"Tipo o que? O meu corpo? Meus olhos, meu conhecimento de música, quando corro pra voce como um cachorro ansioso pelo dono?""Jamais a chamaria de cachorro ansioso pelo dono" ele riu
"Apenas de imunda? Nojenta?" perguntou tirando o sorriso do rosto perfeitamente esculpido em mármore branco.