Ventava muito, uma tempestade, a neve batia contra a janela, provocando socos, o vento frio assobiava ao passar pela fresta das portas e janelas, ela se perguntou se existia inverno tão rigoroso assim na Europa, talvez ainda estivessem lá, mas era difícil de dizer, o castelo era diferente de tudo que já havia visto, lindo, como se o tempo nunca o tivesse degradado, de longe podia jurar, que o castelo ate brilhava, como se existisse diamantes na construção de concreto e mármore, exuberante, assim como jardim e as estatuas, as flores que continuavam coloridas e vividas mesmo com a neve as cobrindo, as congelando, eram tão persistentes por resistir ao inverno, Ela não sabia como havia ido parar na própria cama, não se sentia cansada, e ate mesmo se espreguiçava sem dor alguma, olhou o próprio reflexo no espelho que havia feito Helga amarrar na cama, levou as mãos aos lábios para controlar o grito que ousava sair, se perguntou como havia acontecido tal coisa, a dor se fora, e ao passar a mão nas costas, contra o tecido fino da camisola, percebeu que já não havia edemas nem talas, estava livre, como se nunca tivesse sido partida ao meio por um Deus profano, mas, ainda tinha as lembranças do quanto real aquele torneio havia sido, porem não mais um monstro, onde antes haviam duas cicatriz que lhe cortavam a pele em uma queloide vermelha inchada e alta, com dois centímetros de espessura, algo feio, que fazia o estomago embrulhar de fato, ela mesma havia se sentido enjoada de tanto olhar, havia passado uma noite inteira se perguntando qual era pior, a que lhe cortava o queixo ou a que lhe cortava o braço, chegou a conclusão de que a do queixo era pior, pois era seu cartão de visita, e todos olhariam para a monstruosidade antes mesmo de ver o azul de seus olhos, era um tormento, de certa forma, ela não ligava muito para os elogios que recebia, e os achava exagerados na maior parte das vezes, mas agora, não teria nada para se elogiar nela, e isso a deixava solitária, uma desgarrada, sem beleza, e sem expectativa de vida, um martírio, porem, agora o reflexo era outro, não era apenas sua coluna que estava reformada, mas onde antes estava a horrenda cicatriz no braço, agora uma linha fina e esbranquiçada tomava conta, algo que se podia confundir com a pele, ainda era visível, mas, já não dava vontade de virar o rosto, se não fosse a cor e o pouco de profundidade que ainda existia, ninguém saberia que era uma cicatriz, estava ate mesmo delicada, porem era a do seu rosto, a que lhe cortava do queixo ao esterno, estava tao fina quanto a do braço, talvez mais, como se alguém tivesse trabalhando nela com todo esmero e amor que tinha, pois nem mesmo a profundidade havia sobrado nessa, era uma leve linha fina e branca, claro que todos veriam e iriam perguntar, mas então ela poderia sorrir e dizer " isso foi a primeira de muitas vezes que os Deuses irão se ajoelhar aos meus pés" porque era verdade, havia gostado da sensação, ate mesmo achado certo, era aquilo, o ver vulnerável ao seus pés, mas, devia se acostumar com isso, já que o sangue jorrando e a humilhação de ter o cortado os chifres, sem duvidas fariam com que ele pudesse se vingar, algo que temia, porem. Não iria fazer com que ela perdesse o sono, não mais, não mais sentiria medo. Os acontecimentos da noite passada começaram a danças em sua mentes, como bruxas dançavam há meia noite, não que ela já tivesse visto, mas, estava escrito nos livros que havia lido, ali também estava escrito que um Deus em completo poder, poderia curar-se e a quem quisesse, sem esforço algum, pelas possibilidades que tinha, só havia uma conclusão sobre o seu bem feitor, e ele não era nada misterioso, ela levantou da cama, com dificuldade, havia passado tanto tempo deitada, esquecido como era ter uma coluna reta que a obedecia, se apoiou na mobília luxuosa do quarto para chegar ate o banheiro, era um alivio finalmente tomar banho, sentir toda a sujeira a deixando, se olhou no espelho por quase uma hora, pela primeira vez percebia o quanto a aparência importava para ela, não estava perfeita, mas, afinal quem era. Trocou de roupa rápido demais, vestindo as habituais calças de couro e colete, prendeu o cabelo em um rabo de cavalo, estava muito grande para deixar solto, não esperou o café da manha, saiu andando pelos corredores, o procurando por toda parte, ele não estava, e Helga não havia lhe visto, se deveria agradecer, faria isso agora, se deixasse para depois, o orgulho não deixaria, foi ate o jardim, ate o lago, não estava, pelo menos abraçou o cervo, lhe contou algumas coisas, ao caminho de volta para o castelo, um senhor com uma grande túnica roxa brilhante, olhava em direção ao castelo, ela havia o reconhecido, como um dos Mestres druidas curandeiros, esse em particular, havia gritado para que ela não o queimasse algumas vezes, embora isso fosse tudo que ela lembrava, talvez devesse pedir desculpas, o a agradecer, ela parou há alguns passos de onde o homem estava, e ele não deixou de fazer o que fazia, que na verdade era nada, parecia parte do próprio jardim ,e podia ser uma flor, se o cabelo não fosse tão grande e branco, e a barba não parece em seu umbigo, fora isso, podia ser uma flor, embora a pele parecesse um maracujá azedo e apodrecido, não que ela fosse expor tais pensamentos, isso nem se quer a incomodava, mas que parecia, parecia, e candece adorava analogias, e aquela manha, estava particularmente feliz, abriu a boca para dizer bom dia, mas o senhor interveio