8

934 91 7
                                    

Não, ele não podia fazer isso sempre que queria, a fazer desmaiar apenas balançando os dedos, isso era ridículo, e inadmissível, ela sentia tanta  raiva que podia jurar que o colar queimava junto, como se fossem um só, ficou encarando a porta do banheiro, como se pudesse explodi-la, ele precisava mesmo de tantas horas para um banho? Claro que não! Deu alguns passos pelo quarto, de um lado para o outro, sabia que ele não estava a evitando, porque não tinha motivo algum para isso, era ele quem estava no controle, ela sim deveria ter medo, cansou de esperar por uma briga que sabia que não ganharia, afinal, ele não achava mesmo que tinha feito algo de errado, ela calçou os tênis surrados e desceu as escadas, as pessoas estavam indo para a cidade, onde acontecia um pré festival do amor, Candence revirou os olhos, bateu a porta da pensão com força ao sair, mais força do que pretendia, e por isso apressou os passos pela estrada, só precisa seguir os outros pensionistas, alguns vestiam roupas de época, as mulheres com vestidos pesados, em tons café, ou verde e branco, nada exagerado, tranças com ramos no cabelo, era realmente muito típico, como se a cada passo, voltassem no tempo, para a surpresa dela, a cidade não era longe, apenas 20 minutos de caminhada, era bonita, e lembrava Santa Edwiges, embora não tivesse nada encantador, como um mirante, ou a praia de pedras, mesmo assim tinha um charme medieval, ela continuou seguindo as pessoas, um pouco diferente de santa Edwiges, pois não havia paralelepípedos e sim asfalto, tao lindo e limpo, nenhum prédio, apenas enormes casas, uma mais alta que a outra, sabia que estava chegando ao centro da festa, pois passaram por uma pequena ponte enfeitada com flores e fitas, ramos de vidreiras, era lindo, um pequeno lago passava por baixo, a agua carregava pétalas de flores, ela parou para olhar

" dizem que se jogar as pétalas no lago, elas irão de encontro com seu grande amor"

Ela olhou para trás e viu dona Margareth, pensou no que dizer em resposta, olhou para a aliança no dedo, fingia ser casada com ele, com o homem ao qual ela havia vendido a alma, a senhora percebeu que ela olhava a aliança e sorriu

" nem todos tem sua sorte" voltou a dizer, já era a segunda vez no dia que ouvia aquilo da dona da pensão, não passava de 17h da tarde, e o sol começava a ficar alaranjado, banhando o pequeno rio

" a senhora, por que não joga uma rosa então?" candence perguntou olhando para o cesto de flores que ela carregava, usava um vestido azul que disfarçava as gorduras acumuladas pela idade, a senhora corou

" acredite minha jovem, já tive toda a sorte que a vida poderia dar"

" ele se foi?" candence perguntou

" há muitos anos" a senhora suspirou " durante a guerra"

" mas então, a senhora era apenas uma jovem assim como eu"

" eu tinha 15 anos quando o conheci, nos casamos" a senhora parou ao lado dela, para ver a correnteza levando as pétalas dos desesperados por amor " quando é de verdade, você sabe, porque nada por te tirar o sentimento, nem mesmo a saudade, nem mesmo o tempo, nem outra pessoa, vivemos um bom tempo juntos, tivemos filhos, e então a guerra veio, eu o amo muito"

" não se casou novamente?"

" por que faria isso? Seria estupido da minha parte condenar alguém a passar a vida ao lado de uma mulher que jamais pertenceria a ele"

"nem todos tem a sua sorte, de achar um amor assim" candence disse se virando para ela, tinha uma pele extremamente marcada pelas linhas do tempo. " acha que ele faria o mesmo pela senhora?"

" eu não sei querida" a senhora suspirou, não parecia intrigada, nem chateada pela pergunta "acho que não podemos cobrar nada dos outros, principalmente o amor"

"obrigada" candence acabou respondendo sem saber o porque, não entendia o porque havia agradecido, mas a senhora a chamou para que caminhassem juntas pela cidade, fazia questão de dar uma rosa a cada jovem que vivia sozinha, ou a cada rapaz que encontrava, era muito gentil, e todos aceitavam, a cidade parecia bondosa, todos estavam trabalhando juntos para enfeitar, como se a maldade não tivesse chegado ali, nem a maldade, nem o tempo, uma musica melodiosa tomava conta da praça que estava adornada em flores, uma fonte com pequenos anjos gorduchos esguichava agua para cima, as pessoas faziam pedidos, candence não conhecia aquele tipo de canção, parecia antiga, ela procurou de onde vinha, a senhora Margareth apontou para uma moça que tocava arpa e cantava em um linha estranha, uma musica sobre os deuses, tinha os cabelos pretos e a pele branca, estava vestida como uma plebeia, modesta, porem linda, todos se enfileiravam para olhar, alguns turistas tiravam fotos, era lindo, não se demorou muito ali, pois logo ela começou a cantar uma canção de amor para os desesperados, e esse não era seu caso, achou um banco vazio, e observou enquanto a dona da pensão distribuía flores, levou os joelhos ate o queixo e abraçou as pernas, todas teriam adorado ver aquilo, ela pensou, a mãe, a irmã, sorriu ao pensar que Rebeca se vestiria como uma princesa, com alguma cor chamativa, e que a mãe teria algo relativamente importante para acrescentar a historia da época, de toda forma sabia, que elas teriam amado, ate mesmo a musica romântica, as flores, fechou os olhos e respirou fundo, as vezes temia ser consumida pela tristeza, temia não conseguir fazer o que ele queria, temia morrer, temia não voltar a ver Rebeca, se perguntou se sempre havia sido uma medrosa, não teve resposta, garotas se ofereceram para trançar seu cabelo com ramos, mas disse que não tinha dinheiro, as garotas responderam que não precisavam, então ela deixou, falavam muito entre si, e riam sem parar, como se Realmente fosse uma noite magica, a garota da arpa não parava de cantar, uma mais linda do que a outra, uma das que lhe fazia a trança disse

Chama-me do que QuiserOnde histórias criam vida. Descubra agora