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Ele se virou completamente para ela, o, sobretudo voava seguindo o vento, assim como os cabelos dela, ela não se virou para ele, mas ele sabia que não sentia medo, o que era novo, ele desceu da mureta, mas, ela continuou.

"gostaria cair" ela disse se virando para ele, sentiu o corpo ficar tenso, levantou o rosto para ela e foi pego de surpresa pelos olhos azuis, não tinha o costume de ser olhado nos olhos, as pessoas não levantavam a cabeça para o olhar, deviam se curvar, pensou ele, mas essa garota não faria isso, não tinha noção de quem era ou o que estava em sua frente, a lua parecia uma cama redondo de tao alinhada que estavam, e a luz brilhava tanto que ele se perguntou mais de uma vez, o que ela queria dizer com isso, ele queria que ela descesse dali, não era bom brincar com a vida da chave e ainda não sabia o que fazer com ela, então se aproximou e em um piscar de olhos a tirou de lá, e a colocou sobre um lugar seguro no centro do mirante, onde bancos de concretos estavam quase totalmente tomados por musgo ou areia da praia, foi a primeira vez desde que estavam ali que viu algo parecido com medo nos olhos dela, um receio da rapidez com a qual ele se movimentou para arranca-la de um perigo iminente, ela respirou algumas vezes e passou as mãos pelos cabelos rebeldes, olhou para ele com as sobrancelhas franzidas, parecia brava, ele pensou que talvez fosse a expressão normal que ela apresentava diariamente, afastou alguns passos, queria ficar o mais longe dela possível, apenas por uma fração de segundos, algo menor do que um piscar de olhos, foi esse o tempo no qual a tocou, e odiou sentir a pele macia dos pulsos dela sobra as mãos, odiou sentiu o amuleto irradiar fogo sobre sua pele, por isso a soltou o mais rápido que pode, estar perto dela o deixar com dor, e ele não tinha ideia do porque, continuou a encarando e ela fazia o mesmo com ele, não aguentando mais, ele virou de costas, deixou que ela ganhasse a batalha de quem suporta mais o olhar do outro, ele teria perdido de qualquer jeito, podia ouvir as batidas frenéticas do coração dela, tao humana, ele balançou os ombros e andou novamente ate a mureta, olhou tudo ao redor, precisava de respostas. Sobre o que fazer com a chave que era um empecilho entre ele e sua liberdade tão esperada por séculos, como desejou que não fosse ela, naquele momento, encostou os cotovelos na mureta ficando de costas para paisagem, ela ainda o olhava, então ele fez o mesmo, viu os tênis surrados, os cabelo que parecia tão revolto quanto o vento, as sobrancelhas grossas haviam voltado para o lugar e agora não conseguia decifrar o rosto dela, estavam longe um do outro, mas ele não precisava de proximidade para sentir a respiração dela, para ouvir seu coração, ou para ver seu rosto com clareza, continuou onde estava, e ela não levantou do banco de concreto, ela apenas puxou as pernas ate o queixo e as abraçou, olhou para o céu, logo iria amanhecer, foi ele que quebrou o silêncio.

"vá embora" ele se manteve serio, e ela pareceu surpresa, balançou a cabeça, mais para si mesma do que para ele, e segurou o que parecia um sorriso de descrença, as pessoas não costumam o desobedecer, elas nem se quer costumavam o ver.

"este mirante é seu "ela perguntou levantando apenas a sobrancelha esquerda "não vou "

"é o mais inteligente a fazer, porem, creio que inteligência não seja o seu forte" ele respondeu no mesmo tom insolente que ela usava, mas se manteve onde estava ela não pareceu desconfortável, nem mudou de posição, apenas contraiu os lábios como se achasse engraçado, então jogou o cabelo para trás e o vento travesso fez questão de lhe trazer o aroma com o impacto de um soco, agradeceu o muro atrás de si, e balançou a cabeça sem acreditar na pessoa a sua frente, ele precisou se lembrar de que não devia a matar, mas imagina a carne macia do pescoço enquanto sonhava em estrangulá-la, isso foi divertido por alguns segundos, ela parecia mais curiosa do que com medo.

Não, ela não queria ir embora, algo em seu corpo, sua mente, gritava para que corre-se, corra! Para longe dele. "corra!" gritava algo forte dentro de si, sentiu um puxão no corpo em direção a escada e precisou levar as pernas ate o queixo em cima do banco de concreto, ele não parecia reparar, ela abraçou as pernas e escondeu um pouco o rosto do vento, que parecia brincar com o cabelo dele, maldito cabelo! Ela se perguntou porque um cabelo podia brilhar tanto, refletia a luz da lua ao mesmo tempo em que voava com o vento sem nunca deixa-lo feio ou desgrenhado, ele se afastou e mantinha uma postura irreverente enquanto se encostava na mureta de uma forma que nunca havia visto alguém com um pouco de zelo pela vida fazer, mas ele não tinha, ela reparou, pareceu surpreso pela primeira vez quando ela disse que não iria embora, ate a voz dele, ela teve que admitir, era alta, grossa, como de um rei, e a ordem que ele havia dado, soava como a ordem de um, porem ela não foi, algo em seu corpo quis ir, mas em seu coração, sentia que uma chama acordava em cada segundo que ele a olhava, algo morto, ressuscitava, perguntou a si mesma quando havia sido a ultima vez que ela havia se sentindo assim e resposta era alta e clara, não, nunca havia se sentido viva antes, então sustentou o olhar dele o máximo que pode, porque queria mais, eram olhos assustadores, que a faziam tremer, mas ela botou na cabeça que era o vento frio, isso a fazia tremer, e não o par de olhos que brilhavam no escuro de uma forma sutil, de um verde tão vivo que ela nunca havia visto antes, tremeu quando ele abriu a boca para falar, se preparou para algo, qualquer coisa que pudesse a por em perigo, ele não falou.

Chama-me do que QuiserOnde histórias criam vida. Descubra agora