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Ela deitou no chão frio, era a única coisa que podia aguentar o calor de seu corpo, não dormiu, nem por um segundo,  a cada dia que saia do quarto, sorria par Vlad, e o tratava como rei,a cada dia que treinava com Nick, sorrindo e fingindo cada palavra, cada olhar, a cada dia que empurrava um carrinho ou fingia ler um dos livros os quis eles lhe davam, a cada dia que evitava Alaquias desesperadamente, para que sua mascara não caísse diante de todos, a cada dia que passava, sentia o fogo crescer a queimar por dentro. Ela ria, usava roupas que apenas lhe cobriam o que a separava da nudez,  vestidos que simplesmente apareciam no guarda roupa, as cores eram sempre vibrantes, e o tecido quase transparente,  ela podia sentir o Deleite que elas apresentavam diante de tanta submissão,  uma vez eles lhe pediram para tocar,seguir uma partitura de uma música a qual não conhecia, não errou, porém ele a obrigou a tocar a flauta o dia inteiro, quando terminou, ,nem mesmo agua fez saliva retornar os lábios,  foi obrigada a tomar um tônico, e até mesmo em sonhos se lembrava da música, que não era animada nem triste, mas continua como uma história. Nick a obrigou a ficar no lago congelado, durante horas, aprender a se equilibrar sobre a camada fina de gelo, ele lhe jogava espadas, ela as impedia de rachar o gelo,  nos treinos, sempre dava preferência as roupas de couro, quentes e confortáveis, aprendeu a segurar a espada, e muito mais do que isso, aprendeu a ouvir,  agora que não os respondia e não torcia o nariz para tudo que lhe diziam, ela aprendia mais, estava calma, mesmo que de forma forçada, não montou o cervo para que eles soubessem o quanto estava disposta a seguir tradições, aprendeu a sorrir,  cada sorriso levava mais falsidade do que o outro,   recebeu o convite para tocar durante suas refeições, então ali estava,  a noite banhava o jantar a luz de velas, a prataria mais bela e brilhante sobre a mesa, pratos com adornos em ouro, candelabros imensos, a toalha de mesa era tão fina, e branca, ela pensou nunca ter visto um tecido tão bonito antes, Vlad se sentava na cadeira da ponta,  maior e mais imponente,  Nick e Alaquias em lados opostos,  pareciam apenas tolerar uns aos outros, ela tocava até saber que ficaria sem voz, por algum motivo, Helga sempre levava um tônico a seu quarto, um que lhe fazia sentir - se melhor, que a fazia dormir,  começou a ir até a floresta durante a noite, gostava da escuridão; de como estava acostumada com ela, ficava no mais absoluto silencio, ouvia os animais, o vento, a floresta. Estava aprendendo, queria aprender, precisava sobreviver.

"Você sumiu" ela ouviu a voz que vinha das arvores
"Você me procurou?"  Candece perguntou sem se mexer, continuou deitada na raiz da árvore, o vestido de seda era branco, pedra brilhantes adornavam o tecido que apenas caia solto pelos ombros, poda sentir a madeira contras as costas que estavam totalmente nuas,  a calda do vestido repousava sob a grama, ela  controlou o tom da voz, e a respiração, ao ver a névoa negra se materializar em um homem que a cada dia se tornava mais forte e viril.
"Sim, procurei" não existia humor em sua voz"deveria estar em seus aposentos"
"Me pergunto se talvez não seja do  seu agrado que o calabouço se torne meus aposentos " ela rebateu após um mês inteiro de sorrisos e aceitações, viu o humor se contorcer em seu rosto branco como o reflexo da lua, os olhos verdes brilhavam na escuridão, ele estava tão a vontade quanto ela
"Acredite, nem mesmo eu quero ver algo tão belo nas masmorras"
"Algo belo" ela ironizou
"No que tanto pensa ?"
"No quanto o odeio"
"Adoro seus sorrisos falsos, mas a carranca ainda é minha expressão favorita " ele zombou ao se aproximar, estava bonito, pela primeira vez usava um colete preto sobre a bata branca, calçava botas, o cabelo, uma mistura de breu e brilhantes, que pareciam esconder - se entre os fios.
"Se continuar me olhando assim,  serei tentada à  testar seus limites" ela brincou deixando a alça do vestido cair pelo braço esquerdo, algo brilhou nos olhos verdes, e não foi nojo, nem incomodo, como pensou que seria, pensou que ele a repudiaria, e que se divertiria em incomoda - lo, mas existia desejo ali, algo que ao contrário do que pensava,  a deixava incomodada, alerta, desesperada
" ao contrário de você, não tenho limites" ele respondeu a puxando pelos pulsos, a alça do vestido deslizou mais, quase deixando seu seio a mostra, um leve mexer de ombros, e estaria com a dignidade no chão
"Não me provoque, se não pode levar adiante "
A voz era calma como sempre, beirava o assustador, algo que um dia lhe dera medo, a fazia tremer as pernas, agora era apenas uma malícia perturbadora, cada palavra soava como uma promessa, algo doentio se escondia nas sílabas,  ela havia prestado atenção nos três, de todos, Nick ainda parecia o menos agressivo, mas quando se tratava de vlad ou alaquias, tinha dúvidas de qual era mais nefasto.
" É uma honra que se junte a minha inferioridade para aproveitar a noite de inverno, alteza" tentou dizer sorrindo, para esconder a ironia na voz, o medo que as mãos frias em seus pulsos a causava, tentava o olhar nos olhos, mas eram verdes demais, brilhantes, tão intensos que doíam
"porque se encontra aqui fora neste frio?" Quis saber ao encostar a boca na orelha congelada
"Pois saiba que o frio é  um acalento para minha alma, assim como a natureza" tentou se manter calma, mas a proximidade a fazia falhar
"Então deveria aprender a caçar " sussurrou
"Não" ela proferiu repudiando a idéia " não desejo fazer mal aos animais"
"Não deve fazer " levou uma das mãos ao queixo, brincando com os lábios vermelhos, ela sentiu o sangue voltar a circular no braço direito o qual largara "caçar vai além de matar, significa rastrear, surpreender, saber o que te cerca, estar dois passos a frente, encontrar,  identificar, é útil em qualquer situação"
"Nao me sinto confortável de pedir isso a ele" ela ousou olha-lo, para ver sua expressão, nick era um animal quase todas as noites, desde o dia em que o vira com uma mulher na cama, ela afastou os pensamentos, tentou se afastar, mas a mão ainda estava firme no seu pulso.
"Nem deve, ficaria ofendido, alaquias também não é qualificado para a situação "
"Então? "
"Eu ensinarei"
" e porque Alaquias não é confiável para isso?" Quis saber, talvez fosse melhor ficar com ele do que com vlad
"Ele já nasceu um animal, e deseja a sua morte "
"Ainda deseja minha morte?"
" se mantenha afastada" avisou - a
" o Rei? Ensinando uma escória como eu?"
Pela primeira vez ele, ele sustentou o olhar que ela lhe lançava, não respondeu, a puxou de onde estava sem esforço algum, e a sentou em seu colo, ela tentou correr mas não conseguiu, algo a prendia nele, como um imã, suas costas contra o peito frio e músculos, ele deitou sua cabeça no próprio ombro, e colocou a alça do vestido de volta no lugar, como um cavalheiro faria, o gesto de certa forma, pareceu doce, candece engoliu em seco, não tinha humanidade ali, ,não tinha calor no corpo, nem a leve ondulação da respiração, era como sentar em uma rocha, não entendia o porque ele havia a puxado,só queria levantar, correr, gritar, não o fez.
"Vim avisa - lá que em alguns dias, uma comitiva virá para festejar conosco"
"Que tipo de comitiva?" Perguntou tentando nao parecer a beira de um colapso
" Deuses caídos, anjos renegados, criaturas, monstros, seres rejeitados" vlad deu de ombros, se encostou contra a árvore com preguiça a apertando contra si, passou o braço por sua cintura a alisou a pele nua das costas com o dedo, candece fez o possível para não transparecer o que sentia
"Monstros e criaturas, demônios" ela tremeu ao dizer tais coisas " me chama de suja, de imunda, escória, e tais abominações são teus convidados"
"Não iria me rebaixar a tanto se não fosse preciso"
" e o que farei? Terei de conviver com tais coisas?  Me Farão mal?" Tentou não parecer apavorada e falhou
"Pense que fará parte do treinamento, lidará com coisas que talvez tenha que enfrentar lá fora, servirá para que se mantenha esperta"
"Obrigada por me avisar majestade" respondeu em seu tom frio, ele continuou em silencio  a sentindo,  como conseguia? Ele se perguntava, como usava uma veste tão fina e não se deixava tremer com o inicio da neve que caía, como relaxava  contra seu corpo, sem tremer de medo, de forma que fazia a cama parecer ser feita de pregos, e por que a cada dia que se passava se tornava mais forte e bonita? Estaria criando um monstro? Lhe dando poder com os livros e treinamentos?  O azul de seus olhos, a cada dia se tornava mais profundo,  como um mar no qual se podia nadar, a pele clara quase não contrastava com o vestido, a não ser pelos cabelos espessos, agora maiores.
"Terá que fazer coisas as quais nao vai querer fazer, e que também não quero que o faça "
"Nao entendo"
"Quando meus convidados chegarem, ficaram hospedados por três dias, você fará de tudo para se proteger, tudo que eu disser, e que eles a aconselharem "
"Que tipo de coisa?"
"Não irá  gostar" a voz era um sussurro " terá que nos obedecer, de verdade, fingir devoção,  tentaram de todas as formas chegará até você, terá que ser ardilosa, e entrar em todo tipo de teatro criado por minha família "

Chama-me do que QuiserOnde histórias criam vida. Descubra agora