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Ela dormiu por três dias, foram longos e intermináveis, ele sabia que além da muralha do castelo, havia se passado apenas três horas, mas isso não era relevante, já que o tempo ali era o que realmente contava, ficou com um cachorro esperando o dono, e quando se imaginava nessa situação, saia, ia para o bosque e tentava dominar a nevoa que sempre vencia, acabou temendo machucar os animais, não queria isso, eram seus, cervos brancos estavam sentados na beira do lado, seus chifres majestosos estavam cada vez maiores, havia se reproduzido muito, o que o pegou de surpresa, quase sempre esquecia que o tempo ali era acelerado, observou os esquilos correndo para as arvores, e se sentou em uma raiz grande e forte, era um costume do povo ao qual pertencia, se comunicar com a natureza, principalmente nos dias de tristeza, e ele havia tido tantos, que se sentia melhor ali do que em qualquer outro lugar, o lago era transparente, mas sua agua o deixava desesperado, o que antes era um alivio para os olhos, agora era apenas agua da cor dos olhos dela, agora entendia porque havia sido atraído por seus olhos assim que a viu, eram tao azuis quanto a agua do seu lago favorito, um cavalo dourado sentou-se do outro lado, era bonito, seu pelo brilhava a luz do sol, talvez tratasse melhor seus animais do que os próprios súditos, mas esse era o seu papel no mundo, cuidar do que eles valorizavam, ser um bom Rei, não tinha culpa se a família não entendia isso, ali passou toda a tarde, em silencio, tão quieto que parecia fundido ao tronco da arvore na qual se encostara, ao anoitecer voltou, sem esperanças de que ela tivesse acordado, era ruim para uma humana dormir tanto, precisava comer, de agua, isso o incomodava, tentara de tudo durante os três dias, tudo para a acordar, mas seu sono não parecia normal, um transe tao profundo, que nem mesmo ele podia desperta-la, mas para sua surpresa, ao voltar, a viu sentada na cama, debilitada era pouco, para a aparência que exibia, ficou calado, Helga a ajudava a tomar um ensopado, outra novidade, agora ela conhecia os empregados, e eles lhe davam comida na boca, se ele pudesse respirar, teria feito de forma profunda, se aproximou da cama com passos lentos, quando perceberam sua presença, Helga levantou e lhe fez uma reverencia exagerada

" majestade" disse ela sem jeito " se soubesse que estava de volta não estaria aqui"

" não se preocupe Helga, sei o quanto esse bebe chorão pode dar trabalho" ele respondeu olhando para Candence que não tinha expressão alguma no rosto, parecia um fantasma

" não brigue com ela" disse com a voz fraca " eu implorei por uma sopa"

Ele a viu trocar olhares com Helga, e soube que talvez candence estivesse ganhando uma aliada, pegou a tigela das mãos de helga, que tremeu ao seu toque e lhe disse.

"pode ir Helga, tire a noite de folga, eu cuido dela"

"majestade, não pode dar sopa para ela, o senhor é o Rei"

" sim, e como rei, posso fazer qualquer coisa"

Ela olhou para candence alarmada e que murmurava algo sobre não querer ficar sozinha com ele, mas helga não questionou, apenas saiu como sempre, desaparecendo sem usar a porta. Ele sentou na cama e segurou a tigela de sopa fumegante

"dormiu três dias, e ainda pediu por comida na boca, você é uma vergonha" zombou levantando uma colher de sopa, ela o olhou sem saber o que fazer, não tinha certeza se ele devia lhe dar sopa.

"posso comer sozinha" disse levantando as mãos para tirar a sopa dele, ela viu para onde ele olhava, era difícil agora discernir sua pele das manchas vermelhas que cobriam o corpo, queimaduras, que indicavam onde a nevoa estava dias antes, estava se curando rápido, e por isso agradecia ao amuleto no pescoço, o que antes parecia um fardo, estava se tornando um alívio, porém, não sabia se chamar aquilo de névoa era certo, sentia mãos,  areia, e agua, tudo de uma vez, se moldava a seu corpo e lhe entrelaçavam, molhada e fria, como gelo, talvez não fosse fumaça, não fosse névoa, nem areia, nem água,  não era como fogo, mas como gelo, lhe rasgando de dentro para fora,  e se ele não conseguia controlar, já não tinha certeza se estaria a salvo nos cinco meses que se passariam.

Chama-me do que QuiserOnde histórias criam vida. Descubra agora