5. Duas semanas

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O céu é o limite. Se ele estiver longe demais, coloque saltos mais altos.
— Bianca

Com Gizelly e Manu, Bianca desabou em uma cadeira em seu canto favorito no Kalimann's, tentando formular um plano C, já que os planos A e B tinham dado errado. Fazia duas semanas e ainda não tinham conseguido nada.

O cheiro reconfortante de alho e ervas vinha flutuando da cozinha e, através de uma janela aberta, Bianca pôde ver sua irmã falando com um cliente pelo celular.

Era noite de sexta-feira e aquele jantar havia sido sugestão e convite da Marcela, mas seu celular não parara de tocar desde que se sentara.

O telefone dela, por sua vez, estava depressivamente silencioso.

Ninguém atendeu suas ligações ou retornou as mensagens que ela deixara. Não era isso que tinha imaginado quando sonhou em abrir seu próprio negócio.

Bianca havia prometido a si mesma que, um dia, seria bem-sucedida o bastante para pagar um milhão de jantares para a irmã. O celular dela iria tocar tanto que teria que contratar alguém para atender. Tinha esperanças de que esse dia não estivesse tão distante.

— Vocês passaram a semana inteira numa correria. — Genilda trouxe os pratos de massa com seu tradicional molho de tomate. — Precisam de comida. Buon appetito.

— Daqui a pouco não vamos mais ter como pagar pela comida — disse Bianca sombriamente. — Vamos ficar revirando os sacos de lixo que nem vira-latas.

— A Garrinhas já foi um gato de rua. — Manu pegou o garfo. — Hoje em dia, come que nem uma rainha.

Genilda lhe deu um tapinha no ombro.

— Vocês podem vir comer aqui todos os dias. Eu adoro recebê-las no meu restaurante.

Carlo, que por acaso estava passando, balançou a cabeça em concordância.

—  Com vocês três sentadas perto da janela, garotas, o nosso negócio decola.

Parecia que o negócio de todo mundo decolava ultimamente, menos o delas.

Bianca olhou em volta do restaurante lotado. Não havia um lugar vazio sequer.

Normalmente, o simples fato de estar no Kalimann's era suficiente para aumentar seu apetite. Ela adorava o elaborado trabalho em metal das mesas e as fotos da Sicília penduradas na parede. Havia, dentre elas, o familiar cume nevado do Monte Etna, a bela cidade de Taormina com suas sinuosas ruas medievais, um barco pesqueiro sacudindo no mar azul e borbulhante.

Risadas e conversas ecoavam pelo salão. Todos estavam se divertindo.

Quer dizer, todo mundo menos as integrantes da equipe da Gênio Urbano.

Bianca era a encarregada da motivação da empresa e, até aquele momento, estava fracassando.

— Estamos só no começo. — Ela estava fazendo um esforço sobre-humano para permanecer otimista. — Há muito mais negócios lá fora.

Manu lançou um olhar para ela.

— Você fez 104 ligações e os únicos negócios que fechamos foram para pegar a roupa de alguém na lavanderia e preparar o bolo para a festa de aniversário de 90 anos de uma mulher.

— Ela se chamava Mitzy e era um amor de pessoa. — Gizelly enrolou o macarrão no garfo. Aparentemente, seu apetite não havia sido afetado pelas pressões do novo empreendimento. — Sabiam que ela pilotou um avião militar na guerra?

—  Não. — Bianca franziu a testa, distraída. — Como eu poderia saber disso? E como você sabe disso?

— Sei porque conversei com ela quando fui entregar o bolo e tivemos uma conexão. Mitzy me mostrou umas fotos incríveis, um dos netos apareceu e ela me convidou para ficar e tomar uma xícara de chá.

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