19. Silêncio

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A vida é um misto imprevisível de sol e chuva: portanto, carregue sempre um guarda-chuva.
— Bianca

Bianca cumprimentou o porteiro do prédio de Rafaella e foi em direção ao elevador. Seus braços estavam tão carregados de sacolas que mal conseguia ver para onde ia.

Sentiu o peso da chave no bolso. Não só o metal, mas o significado dela.

Saber que Rafa lhe dera a cópia da chave deixava Bianca tonta.

Tinha certeza de que ela nunca dera a chave a outra mulher antes. Isso devia significar alguma coisa, não é mesmo?

Estava na cara que confiava nela, que era importante para ela.

Bianca agora só tinha a intenção de descobrir quão importante. Ela talvez não tivesse expressado sentimentos mais profundos, mas a relação tinha mudado: Bianca sabia disso. E não apenas pelas confidências que trocavam, mas porque estavam sempre juntas.

O que tornava a relação especial era o fato de se conhecerem tão bem.

Uma já sabia de tudo da outra.

E uma coisa que sabia sobre Rafa era que amava comida italiana, motivo pelo qual seus braços carregavam as sacolas com tomates maduros e suculentos, manjericão fresco e um bom azeite de oliva.

Havia passado tempo suficiente no Kalimann's para que Genilda pudesse ensinar a ela um truque ou outro e Bianca estava pronta para exibir suas habilidades. Rafa não era a única capaz de preparar uma refeição deliciosa.

Equilibrando as sacolas, saiu do elevador, abriu a porta do apartamento de Rafa e entrou no espaçoso loft. Era um local pouco decorado, mas aconchegante, onde couro macio e madeira polida eram cercados pelos vidros que iam do chão ao teto e que ofereciam uma vista tão espetacular que faria qualquer cidadão de Nova York parar e suspirar.

Ela sabia quanto Rafa trabalhara para chegar ali e admirava tudo o que ela havia conquistado.

Bianca parou por um instante, admirou o brilho dourado do rio Hudson e as luzes cintilantes da Ponte do Brooklyn. Então, colocou as sacolas sobre o balcão da cozinha e começou a desempacotar. O amor de Rafa por tecnologia estava evidente no ambiente em que morava. As luzes, a temperatura e o sistema de som eram acionados por um controle central que ela podia programar de qualquer lugar do mundo.

Sorte sua que compartilhavam o fascínio por tecnologia, pensou Bianca, senão não teria ideia de como acender as luzes, sem falar em ligar o fogão para fazer o molho de tomate com manjericão para a massa fresca que tinha acabado de comprar no mercado.

Colocou a garrafa de champanhe para gelar. Aquela noite ia ser romântica. Especial.

E quando fosse o momento certo, diria a Rafa o que sentia.

Ela estava picando o alho e um maço de manjericão quando a porta se abriu e Rafa entrou.

A luz do sol brilhava sobre o cabelo dourados e os olhos cintilavam com um verde-acinzentado. Mesmo vendo-a com frequência, Rafa ainda fazia Bianca perder o fôlego.

Ela jogou as chaves na superfície mais próxima, livrou-se das botas e ela soube imediatamente que havia algo errado.

— Teve um dia ruim?

Rafa lançou-lhe um olhar e, então, à comida quase pronta sobre o balcão.

— Você está cozinhando? Pensei que a gente ia sair para comer.

— Imaginei que seria legal ficarmos aqui. Foi uma semana longa e estamos cansadas. De qualquer jeito, te devo uma refeição. Você cozinhou para mim na semana passada. — Bianca sabia muito bem que não
devia pressioná-la a dizer o que estava acontecendo. Se Rafa quisesse contar, contaria. Ela estava ciente de que havia partes do passado sobre as quais ela não queria falar e Bianca respeitava isso. — Também tem champanhe na geladeira.

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