12. Atitudes

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A vida é curta demais para esperar que outra pessoa tome a iniciativa.
—  Bianca


Rafa arrancou o blazer e jogou-o na cama.

Como foi que se meteu naquela conversa? Como? Ela baixou a guarda por um momento e Bianca entrou com seus questionamentos e honestidade desconcertante.

Lá fora, um raio dividiu o céu noturno em dois, mas Rafa não conseguia pensar em outra coisa além de Bianca pedindo desculpas por ter "entendido errado" uma situação que ela tinha entendido perfeitamente.

Rafa devia tê-la cortado na hora. Em vez disso, também despejou uma dose de honestidade. Honestidade demais.

Houve uma batida forte em sua porta e ele praguejou baixinho, sabendo que só podia significar uma coisa.

Com as desculpas na ponta da língua, escancarou a porta.

Bianca estava diante dela com o cabelo preto encharcado pela chuva e o rímel escorrendo pelo rosto.

Dividido entre bater a porta na cara dela ou arrastá-la para dentro, Rafa a olhou como quem olha uma droga que não deve tocar. Antes de conseguir se decidir, Bianca passou por ela e entrou no apartamento.

Merda.

Com o cérebro e os reflexos funcionando em câmera lenta, ela trancou a porta.

Não sabia o que Bianca tinha que a deixava tão ansiosa, mas sabia que precisava que ela sumisse de seu apartamento.

Como não conseguiu, ela mesmo precisava sair do apartamento. Estar no mesmo lugar que Bianca não era nada bom.  

Ainda mais quando estava tão bonita e soltando fogo pelas ventas daquele jeito. Só de ver o jeito como mexia o queixo e o castanho escuro de seus olhos, Rafa sabia que ela estava fumegando de raiva.

Com esse humor, Bianca era perigosa e capaz de fazer coisas de que se arrependeria mais tarde.

Ainda estava de salto alto e camisa da Gênio Urbano, o que dava a entender que tinha ido diretamente do evento para lá.

Ela devia ter passado três trancas na porta e colocado mil alarmes.

—  Como você passou pelo porteiro?

—  Sorri para ele.

Rafa poderia demitir aquele cara, caso não admirasse o poder do sorriso de Bianca.

E percebeu que ela não estava sorrindo agora.

—  A noite está horrível. Você devia estar em casa.

—  Há coisas que preciso dizer.

Rafa sabia muito bem que não se tratava de nada que quisesse ouvir.

—  Bianca, já é tarde e...

—  Desde quando isso incomoda você? Você não é de dormir tanto. Muito menos eu.

Naquele momento, ela queria ser qualquer coisa que a tirasse de seu apartamento.

—  Você está molhada.

—  Então estou melhor aqui dentro do que lá fora, na chuva. — Bianca jogou a bolsa na cadeira mais próxima e tirou os sapatos. — Sabe o que me deixa louca da vida?

Rafa abriu a boca para responder, mas percebeu que ela não estava esperando resposta.

Tratava-se de um monólogo e Bianca esperava que Rafa a ouvisse de boca fechada, por isso ela decidiu esperar a tempestade passar. A tempestade de dentro do apartamento, não a de fora. Ficou observando atenciosamente enquanto Bianca caminhava até a parede de vidro com vista para o centro de Manhattan.

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