10. A ligação

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Mulher é que nem batom: você precisa experimentar algumas antes de achar a perfeita.
— Bianca

— E então, como vão os negócios? — Rafa estava jogada no sofá da "caverna masculina" de Marcela, matando zumbis no Xbox, enquanto as duas esperavam o restante dos amigos para uma noitada de bilhar. — Corridos?

— Sim. Você bebeu todas as cervejas da geladeira? Eu poderia jurar que estava cheia na semana passada.

— E estava. Mas tivemos a noite de pôquer. Você deve ter se esquecido.

— Não esqueci. Eu perdi mais do que cerveja naquela noite. — Marcela soltou um grunhido e se levantou. — Se você esvazia minha geladeira, tem que a encher de novo, ainda mais quando vai embora com metade do meu dinheiro, que nem da última vez.

Era uma troca fácil. Do tipo que já tinham feito centenas de vezes.

— Você parece se lembrar de que o esvaziamento da sua geladeira foi um ato coletivo e, aliás, como fui eu quem a encheu, você não pode reclamar. Hoje estou de mãos vazias, pois vim de moto. Posso ir ao restaurante buscar algumas coisas.

— Você roubaria de sua própria mãe? Você não tem consciência.

Tendo em vista que sua consciência era a única coisa que o impedia de transar com Bianca, essa acusação deixou Rafa irritada.

— Você quer cerveja ou não?

— Bem, pelo visto você não está com o melhor dos humores. TPM? — Marcela examinou o rosto da amiga. — Quer conversar? Ou quer ficar fazendo birra sozinha?

— Sozinha está bom para mim. — Rafa exterminou mais alguns zumbis.

— Então não vai contar o que tem de errado?

— Não tem nada de errado. E desde quando você me encoraja a falar sobre os meus problemas? Esse é o papel da Gizelly.

Marcela olhou séria para a amiga.

— Está bem, entendi. Você não quer falar sobre o assunto. E não se preocupe com a cerveja, temos o bastante para hoje à noite. Falei para a Bianca que eu ia levar a van para buscar o andaime para seu evento de amanhã. Posso aproveitar e pegar umas cervejas.

— Andaime?

— Elas vão montar uma peça central. Não te contaram? — Marcela franziu a testa. — Bianca achou um cenógrafo. Vocês não têm reuniões para discutir essas coisas?

Não, se ela pudesse evitar.

— Tivemos uma reunião no começo. Eu disse o que queria. Elas estão elaborando um plano que se adeque a isso. Ocasionalmente, dou uma olhada nos e-mails.

— Você não definiu nem uma verba?

— Deixei em aberto.

Marcela estremeceu.

— Você deixou uma verba em aberto nas mãos da Gizelly? Ela vai abrir uma conta na Bloomingdale's e esvaziar a loja. Pensei que fosse uma mulher de negócios.

— Deixei a Bianca livre para administrar a verba. Quero causar impacto. Vai valer o investimento, tenho certeza. — E deixar Bianca responsável por impressionar as pessoas mais importantes de Manhattan era algo que podia oferecer.

— Você está dizendo que não sabe dos detalhes?

— Pra que comprar um cachorro, se você mesmo late?

— Você está chamando minha irmã de cachorro?

— Não. — Rafa se tornou ainda mais agressiva com os zumbis. — Estou dizendo que sei como delegar funções. Não me importo com os detalhes do bufê, desde que meus convidados comam e quem satisfeitos. Não estou nem aí para o tipo de cogumelos que serão servidos, e disse isso a Gizelly quando quis discutir as minúcias comigo. Ela é especialista em gastronomia. Deixei nas mãos dela.

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