8. Sapatos vermelhos

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Confiança é que nem maquiagem: muda sua aparência e ninguém precisa saber o que há por baixo.
— Bianca

Rafa vestiu um conjunto de terno da Dolce & Gabbana no banco de trás do carro, vindo do aeroporto, sem interromper a conversa ao celular.

— Você precisa checar como está o fluxo da informação e pensar no usuário final. — Abotoou a camisa e jogou a gravata fina e delicada ao redor do pescoço, deixando para dar o nó apenas no último minuto. Odiava tanto usar gravatas que tinha apenas duas, uma à borboleta e essa, que formava um laço fino e delicado caído. Essa era uma da Tom Ford, que ganhou de presente de uma garota com quem saía e quis deixá-la mais elegante para um dos vários eventos que visitava.

As estradas estavam engarrafadas. Na hora em que o motorista encostou do lado de fora do prédio, Rafa já estava atrasada.

Ela entrou na recepção, passou pela segurança e viu Bianca andando em frente aos elevadores com seus saltos finos e pontiagudos sobre o chão de mármore polido. Trajando um vestido preto simples, ela parecia ter classe, elegância e eficiência. Pronta para trabalhar.

Até ela olhar com mais cuidado para os sapatos. Eram do mesmo tom vermelho do batom dela e os saltos eram altos como um arranha-céu de Manhattan.

Merda.

Ela estava sexy.

Um dos seguranças claramente estava pensando a mesma coisa e Rafa entrou na frente dele, bloqueando sua visão e acabando com sua alegria.

Também considerou arruinar outras coisas para aquele cara. Como sua habilidade de andar em linha reta ou de manter todos os dentes na boca até ficar velho.

— Bianca?

Ela se virou.

— Você chegou!

A calorosa espontaneidade da saudação tirou o equilíbrio de Rafaella. Era raro vê-la de guarda baixa e, sem a habitual postura defensiva, ela também acabava com o jeito defensivo dele. Por um instante, Rafa não conseguia mais se lembrar do que a impedia de fazer o que queria. O carro ainda estava lá fora. Poderia jogá-la no banco de trás, tirar toda a roupa, deixá-la com aqueles sapatos vermelhos e provar cada centímetro dela.

Por que não?

Bianca então lançou aquele sorriso aberto, lindo e amigável que era só dela.

E Rafa se lembrou por que não.

Transar com Bianca nunca seria algo simples.

Não importava quão sensual, intenso ou satisfatório seria o momento, ele terminaria, como terminam todas as transas. Rafa aprendera desde cedo que o amor era passageiro e imprevisível. Era algo que poderia ser tirado de você tão facilmente quanto poderia ser concedido. Seu jeito favorito de lidar com isso era manter-se emocionalmente desapegado. O que era um dos motivos para Bianca estar além de seus limites.

Bianca era um risco que ela não estava pronta para assumir. Além disso, havia a promessa que fizera a Marcela...

— Estou atrasada. O trânsito estava péssimo. — Ela abrandou o tom. — Desculpa.

— Pelo trânsito? Acho que nem você seria capaz de controlar isso. E não tem problema. — O sorriso de Bianca diminuiu um pouco. — Você é a cliente. Tem permissão para chegar atrasada. Está pronta?

Cliente. Isso mesmo, era cliente dela. Rafa ficou mais tranquila.

Tudo o que precisava fazer era colocá-la decididamente na caixinha de "Negócios" em sua cabeça. E esquecer aqueles sapatos vermelhos sensuais.

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