6. Hora de engolir o orgulho

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Quando você cometer um erro, não tenha medo de comer da torta da humildade:
ela não contém calorias.
— Gizelly

Rafa olhou para a tela.

Havia algum tempo que encarava a tela. Poderia fechar o laptop. Ela poderia...

Praguejando baixinho, seus dedos deslizavam pelo teclado enquanto procurava pela informação que queria.

Para alguém com suas habilidades, era fácil de encontrar.

Rafa leu as notícias atrás de alguma coisa e viu que ela tinha um novo trabalho. Havia recebido uma promoção. Tudo estava do mesmo jeito.

Ela ainda vivia em uma mansão de estilo neo-Tudor no interior do estado de Nova York. Ainda estava alegremente casada, tinha dois filhos e um cachorro.

Levava uma boa vida.

Praguejando baixinho, fechou a página. Que merda estava fazendo?

Para essa pergunta Rafaella tinha a resposta. Genilda havia lançado a ela seu olhar de "é hora de você se arranjar". Sempre que a mãe fazia isso, Rafa sentia necessidade de lembrar a si mesmo por que não conseguia.

A porta da sala se abriu e, com a testa franzida, lançou um olhar irritada por ser incomodada.

— O que foi?

Dani a olhou inquisitivamente, mas não disse nada.

— Tem alguém aqui que quer ver você.

— Não tenho nenhuma reunião marcada para hoje.

— Ela se chama Bianca. — Dani se apoiou contra a porta. — É estranho, chefe. Ela ficou dez minutos de pé, lá fora, decidindo se entrava ou não. Foi embora e voltou duas vezes. A gente ficou apostando se ela ia reunir coragem ou não. Talvez seja alguém te perseguindo. Quer que eu a mande embora?

Dani achava, é claro, que se tratava de uma das ex-namoradas dele que tinha aparecido para arranjar problema.

— Não precisa.

— Você sabe por que ela veio aqui?

Não, mas podia arriscar um palpite.

Rafa não sabia o que o incomodava mais: se era o fato de Bianca finalmente ter ido atrás de ajuda ou como isso claramente a incomodava.

Ela se levantou e fechou o laptop. Sentia-se grata pelo que tinha visto na internet. Cada informação naquela tela era um lembrete para que fosse cautelosa em seus relacionamentos.

— Mande ela entrar.

Não precisou nem pensar por que Bianca tinha ido embora duas vezes.

Ela detestava ter que pedir ajuda. Ainda mais ajuda dela.

O que não entendia era o que finalmente havia levado Bianca até sua porta.

Rafa pensava que as coisas estavam indo bem para a Gênio Urbano. Ela e Marcela tinham se encontrado para tomar uma cerveja poucos dias antes e a amiga não mencionou nada.

Enquanto esperava, andou até a janela e olhou para a cidade, para os penhascos de concreto que se estendiam da Canal Street à Lower Manhattan.
O que uma vez antes fora uma terra arrasada de galpões industriais havia sido transformada em um dos endereços mais caros do país, um bairro fervilhante de fluxos criativos e talento para finanças. Foi por isso que escolheu viver e trabalhar naquela região. Isso e o fato de ali se localizar o coração do distrito financeiro.

— Rafa? — A voz dela veio da porta. Forte. Feminina. Era como ser acariciado por uma luva de pelica.

Ela se preparou. Tudo o que precisava fazer era tratá-la como a irmã mais nova da sua melhor amiga. A irmã mais nova. Repetia isso mentalmente como um mantra.

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