20. As palavras certas

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Não esconda um esqueleto no armário, a não ser que tenha certeza de que ninguém vai pegar suas roupas.
— Gizelly

O olhar de Rafaella percorreu Bianca da cabeça aos pés, captando as bochechas coradas e o fato de estar nua debaixo da toalha.

— O que está acontecendo aqui? — A voz de Marcela soou baixa e fatal, seu rosto não sorria. — Rafa?

Bianca deu um passo à frente, desejando poder desaparecer em um buraco no chão. Achava que sua vida não podia ficar pior.

Não era a melhor forma de contar a Marcela, mas com certeza não queria que a irmã descobrisse assim..

A última coisa que queria na vida era magoar a própria irmã. E, naquele momento, mal conseguia reconhecê-la. Marcela sempre estava calma e comedida. Forte. O tipo de mulher que resolvia os problemas não com raiva, mas com a cabeça no lugar e palavras cuidadosamente escolhidas.

— Marcela...

— Estou falando com a Rafaella. — A voz soou fria como gelo e Bianca recuou. Ela nunca a interrompia desse jeito. Nunca era nada além de bondosa e protetora.

— Marcela, eu posso...

— Você está transando com a minha irmã? — Toda a atenção estava fixa em Rafa. — Você tem Manhattan inteira aos seus pés, mas escolheu farrear com a minha irmã? Há quanto tempo isso está acontecendo?

— Há algum tempo.

O rosto de Marcela empalideceu.

— Você bebeu cerveja comigo, jogou algumas partidas de bilhar e se esqueceu de contar que está transando com a minha irmã?

— Não me esqueci. — O tom de voz de Rafa soou estável. Ela não recuou nem balbuciou. Não pediu desculpas. Nem mencionou as vezes em que tentou convencer Bianca a deixá-la contar tudo para Marcela..

—   Quem mais sabe? A Manu? A Gizelly? — Ela lançou um olhar demorado a Bianca e uma dor atravessou seu rosto. — Você contou a elas. As suas amigas sabem. Todos sabem, menos eu.

Saber que tinha magoado a irmã era o pior de tudo.

— Elas adivinharam, mas...

Marcela sequer ouviu. Toda a atenção dela estava voltada a Rafa.

— Você tirou vantagem...

— Ela não tirou vantagem. Não sou uma adolescente vulnerável. — Bianca entrou na frente da irmã, forçando-a a olhar para ela. — Achei que você não fosse querer saber dos detalhes, mas como está tirando conclusões precipitadas sem ter qualquer base em fatos, vou te contar. Rafa se manteve distante de mim. Todos esses anos, se manteve longe. Fui eu quem me aproximei. Eu que mostrei a porta. Eu que dei a escolha.

Marcela emitiu um som de desgosto.

— Aposto que ela resistiu muito.

— Não, mas estava preocupada com as mesmas coisas que você. Com a minha vulnerabilidade, preocupada em me magoar... — Bianca engoliu seco— ... e eu disse tudo o que sempre te digo. Que sou adulta. Que não preciso ser protegida.

— Eu te conheço. — Marcela lançou um olhar demorado à irmã. — Você quer amor e um final feliz. Algo que Rafaella não tem a oferecer. Toda semana ela sai com uma mulher diferente. Não tem como oferecer a você o tipo de relacionamento que quer e merece.

Bianca não apontou que o que tinha acontecido entre eles já perdurava por mais de uma semana.

— Isso é problema meu, Marcela.

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