13. Porque eu quis

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O amor é que nem chocolate: parece uma boa ideia na hora, mas você se arrepende depois.
—  Manu


—  Eu pensei que você ia me matar. Se soubesse que ia ser tão bom, teria jogado minha ética e força de vontade pela janela há muito tempo. — Os olhos de Rafaella estavam fechados e Bianca ficou aliviada por ela ser a primeira a falar alguma coisa, porque não fazia ideia do que dizer depois do que tinha acabado de acontecer.

Como pensou que poderia ser só sexo?

Era muito mais do que apenas sexo. Toda a proximidade entre elas voltou e não somente por conta daquela nova situação física. Intimidade não se resumia a sexo, percebeu Bianca. Era conhecer alguém. E Rafa a conhecia.

Rafaella abriu os olhos e virou a cabeça para olhá-la. Sem dúvida, estava tentando entender o silêncio.

Provavelmente, ela deveria responder com algum comentário leve.

—  A gente devia ter feito isso anos atrás. A culpa é sua. — Foi o melhor que Bianca conseguiu dizer, mas deve ter sido suficiente, pois Rafa retribuiu com aquele sorriso de canto de boca que sempre a balançava.

—  Transar com a irmã adolescente e virgem da minha melhor amiga? Querida, risco é uma coisa, suicídio é outra bem diferente.

—  Perdi minha virgindade quando eu tinha...

—   Não quero saber. Eu teria matado o cara ou a garota, sei lá. — Rafa fechou os olhos novamente. — Se tivesse ficado com você naquela época, eu não teria vivido para fazer isso agora, e pensa no que nós duas teríamos perdido.

Bianca virou um pouco o corpo para poder admirar a vista. Manhattan inteira se esparramava diante delas.

Apesar de se conhecerem há tantos anos, quase nunca havia visitado o apartamento de Rafa. A primeira vez foi com Marcela, e a lembrança que tinha daquela visita era de ter ficado rondando a porta enquanto ela e Rafa discutiam planos para a área externa.

Originalmente um armazém têxtil, o espaço foi transformado em vários lofts bem iluminados. Rafa estava no andar de cima, com vista para o centro de Manhattan e para a Ponte do Brooklyn. A paisagem era linda de noite e estonteante de dia.

Naquele noite, estava próxima da perfeição.

Ou talvez Bianca estivesse vendo as coisas de forma um pouco diferente. Deitada ali, na segurança dos braços de Rafaella, o mundo parecia um lugar mais gentil e bom.

—  Nós perdemos muito tempo. E talvez eu tenha que te matar depois do que aconteceu.

—  Desde que você faça lentamente e escolha um método que inclua sexo, por mim tudo bem. Faça o que quiser. Você tem suas malícias. Pode me acorrentar. Pode me torturar. Qualquer coisa seria boa, desde que você use sua boca maravilhosa como arma letal. — Rafa deslizou a mão para trás da cabeça dela e a puxou para mais perto. — Meu novo hobby é tirar o batom da sua boca.

Ela estava tão próximo que ambos respiravam o mesmo ar, o que agradava Bianca.

—  Sou viciada em batom.

—  Tirá-lo com a boca vai ser o meu vício. — Rafa quase não se mexia, mas a sua boca tomou a dela em um beijo que emitiu ondas de desejo, fazendo a pele de Bianca se arrepiar. 

Sonhara com aquele dia havia tanto tempo que acreditava ter fantasiado a situação a um nível que não condizia com a realidade. Ainda assim, no final, tinha a impressão de que sua imaginação havia produzido apenas uma versão insípida da verdade.

É assim que são feitos os sonhos: sedimentados em esperança.

Ela sempre disse que queria viver no aqui e agora, e se tivesse que escolher um momento para perpetuar, seria aquele.

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