É impossível definir esses poucos segundos que levo até chegar a barraca da Brenda armada em baixo do pé de manda no jardim da minha mãe.
Sobre o que um pé de manga faz no jardim? Eu diria que ele sempre esteve ali com os seus quatro metros de exuberância. Claro que contra a vontade da mamãe, mas o que ela podia fazer em relação a um projeto escolar do meu irmão em que ele teria que acompanhar o crescimento da arvore durante todo o seu ano letivo? Absolutamente nada, ela bem que tentou sugerir um Ipê ao qualquer árvore de flores, mas ele prontamente bateu o pé querendo plantar o pé de sua fruta favorita. Mamãe no começo queria morrer com tantas flores e plantas e entre suas roseiras que ninguém sabe como sobreviveram ter um pé de manga que quando está na época e minha mãe não vence dar manga para os vizinhos e as moscas fazem a festa com as que caem no chão.
- E então o que tem ai? – Brenda disse me olhando parada na porta da cozinha.
Não sei quanto tempo eu levei para responder, acho que falei que era apenas um cartão de natal.
- Eu achei que era uma carta de amor. – Brenda falou triste em um tom normal de voz retorcendo um pouco a boca para o lado.
Continuei olhando o papel na minha mão sem saber o que fazer, meu respirar estava tão pesado e tão doloroso, minha boca seca, meu coração descompassado, os pés fora do chão.
- Eu vou voltar para a barraca – ela falou triste, acho que havia muita esperança nela, Brenda gosta muito da Melissa.
- Brenda faz um favor para mim?
- Claro. – ela falou animada.
- Dorme com a mamãe e o papai? – falei olhando para ela.
- Sim – ela abriu um sorriso enorme – Você vai dormir na barraca com a Mel?
- Vou conversar com ela.
- Você devia era lascar um beijão desses de novela mexicana nela e mostrar para ela que você a ama e dizer que ela não pode coisa nenhuma terminar com você que você que manda nesse negocio e fim de papo. – falou mandona e brava e eu queria sorrir para ela, mas não consegui.
- Você não acha que é muito pequena para dar concelho amoroso? – falei me aproximando dela bagunçando o seu cabelo.
- Já sou adolescente. – cruzou os braços fazendo cara de brava.
- Eu sei. – falei distante em palavras.
Brenda não disse nada, no fundo ela sabia que eu precisa de um tempo, um tempo tão curto e ao mesmo tempo tão longo. Brenda sorriu e se encaminhou ao corredor que vai para os quartos.
Eu me lembro que ainda com o envelope nas mãos eu caminhei, andei passando por todos os cômodos chegando a porta da sala abrindo e me sentando nas escadas da varanda, olhei para as quatro barracas armadas no jardim e lá em baixo o pé de manga a barraca da Brenda com uma luz iluminando ela por dentro.
Não sei quanto tempo passei ali, um segundo, uma hora, aquele restante de madrugada inteira. Não consigo me lembrar se quer de como eu me levantei e caminhei pelo jardim chegando até a barraca. Estou pensando em tudo que eu fiz para me trazer a esse momento.
Eu pensei que havia sido o dia que conheci a Melissa, mas não foi esse dia que me levou a esse momento. O que me levou a estar aqui parado em frente a barraca dela foi o dia que eu fui ao apartamento de solteiro do Ian concordando em ir falar com o Henrique na Cabaré e aceitar a proposta de emprego que me tornou o Don.
Foi nesse fatídico dia que me levou a hoje e enquanto fico parado penso em tudo que fiz na minha vida, não me arrependo de ter vendido tudo que eu tinha para pagar a cirurgia e tratamento da minha mãe e no final a minha falta de dinheiro levou ao Edifício Leopoldina que me trouxe os melhores dias da minha vida, acho que o dia em que tive Melissa nos meus braços foi quando eu de fato comecei a viver e morri ontem no momento em que ela saiu da boate acreditando ter deixado o Don atrás do balcão.
VOCÊ ESTÁ LENDO
8º Andar (Quando o amor fala mais alto)
ChickLitSequencia do livro 8º ANDAR (O AMOR MORA NO ANDAR DEBAIXO) O que você faria para reconquistar o amor de sua amada? Eu errei com a Melissa, mas depois de todas as minhas burradas acredito que finalmente entendi que o amor não supera tudo. Agora eu t...