Estêvão tem estado estranho esses últimos dias, não sei se é porque não apareceu nenhum trabalho ou porque ainda não conseguimos achar uma saída para pagar a multa dele na Cabaré. Minha vontade é de matar o Henrique, mas contrato é contrato e a lei esta a favor dele.
O que temo é que mais dia ou menos dia Estêvão vai ter que voltar para lá e não sei como vou reagir a isso, quatro anos é muito tempo e por mais que eu acredite no Estêvão sei que Henrique não está errado sobre o Don, se o Estêvão voltar para lá o Don vai tomar o controle da situação e eu não sou forte o suficiente para isso.
─ Fiquei surpreso com a sua ligação.
─ Você me disse que se eu precisasse de ajuda podia te procurar.
─ Sempre poderá contar comigo Melissa.
─ É bom saber disso.
─ Mas me diga no que eu posso lhe ser útil.
Penso um pouco e não encontro nada plausível como desculpa.
─ Eu não tenho como te explicar...
─ Nunca tivemos segredos.
─ Eu sei... mas não sei por onde começar.
─ Por onde for mais fácil para você.
─ Não foi nada fácil te ligar, eu...
─ Precisa de dinheiro? ─ Consigo apenas balançar a cabeça concordando.
─ De quanto? Eu faço um cheque agora ─ ele se inclina pegando a carteira no bolso.
─ André, eu preciso de oitocentos mil ─ minha voz sai embargada e no mesmo instante ele me olha sério.
─ O que está acontecendo, Melissa? ─ na sua voz há espanto e preocupação.
─ Não da para explicar, André. Cinquenta mil eu consigo, preciso de 750 mil. Sei que é muito dinheiro, mas eu vou te pagar com juros.
─ Não estou preocupado em receber e sim no porque de você precisar de tanto.
─ Não da para explicar, André.
─ Você nunca me pediu dinheiro para comprar uma bala. Sempre foi orgulhosa, não tem como eu não ficar surpreso com você me pedindo tanto dinheiro.
─ Mas eu vou te pagar cada centavo com juros.
─ Tenho certeza disso, no entanto eu não consigo pensar em algo que faça você precisar de tanto dinheiro.
─ É complicado, eu já lhe disse. Se eu pudesse te explicaria, mas não posso.
─ Você está doente?
─ Não! ─ digo quase gritando ─ Não. ─ repito com o tom mais baixo ─ Estou bem, eu só...
─ Não pode me contar.
─ Preciso que você confie em mim, eu juro que vou te pagar tudo.
─ Eu sei que você não vai sossegar enquanto não terminar de me pagar. Você é honesta, Melissa. Essa é uma das razões pela qual me apaixonei por você. Te empresto, mas preciso de um tempo para levantar esse dinheiro.
─ Não sei como te agradecer.
─ Não precisa agradecer. Só espero que você não tenha se metido em nenhuma encrenca.
─ Tecnicamente não.
─ Eu vou levantar o mais rápido que eu conseguir. Vou falar com o meu gerente e agendo para fazermos a transferência.
─ Obrigada André, eu posso te pagar todo mês e vendo as minhas férias tem o décimo terceiro o prêmio no final do ano. Vai demorar, mas eu...
─ Falamos sobre como vai me pagar depois, ou melhor, você poderia começar me acompanhando em um jantar semana que vem.
─ André, não vamos misturar as coisas.
─ Podemos tentar novamente, Melissa ─ ele estende a mão tocando a minha sobre a mesa.
─ Meu horário de almoço esta acabando, eu preciso voltar ─ retiro minha mão debaixo da dele que me olha constrangido.
─ Eu te levo.
Estêvão não vai curtir a ideia, contudo essa é a única saída que vejo. Mas eu só vou contar para ele quando o crápula do Henrique já estiver com o dinheiro e o Estêvão livre da Cabaré.
***
─ Você está muito calada. O jantar não esta bom?
─ Esta uma delicia. Eu que estou um pouco enjoada.
─ Quer que eu busque alguma coisa?
─ Estou bem, não se preocupe. Alguma notícia sobre trabalho?
─ Amanhã eu vou em uma oficina que sempre levo a Charlene, estão precisando de um faz tudo.
─ Vai dar certo ─ digo me levantando da mesa levando meu prato até a pia.
─ Vamos torcer que sim. Algo precisa aparecer logo. Em breve teremos alguém correndo por esse apartamento dependo de nós dois.
─ O Henrique deu notícias sobre o prazo dele?
─ Não, mas eu vou falar com ele ─ Estêvão diz retirando as travessas da mesa.
─ Tentar um parcelamento?
─ Meu amor, mesmo que ele parcele será difícil pagar.
─ Então o que vai falar com ele?
─ Henrique sempre...
Estêvão é interrompido com o meu celular tocando, enxugo as mãos e caminho até a sala pegando ele ao lado da minha bolsa, no visor o nome e a foto do André, respiro fundo antes de atender.
─ Alô... ─ engulo cedo, Estêvão me olha por alguns segundo e se vira para a pia tomando o meu lugar lavando a louça.
─ Melissa, tudo bem?
─ Tudo sim e com você?
─ Acabei de sair de uma reunião com o meu pai e uma nova designer de joias ─ André faz uma pausa esperando que eu fale algo, permaneço calada. ─ Consegui falar com o meu gerente, marquei a transferência para quinta-feira da semana que vem, está bom para você?
─ Está perfeito, não sei como te agradecer.
─ Me acompanhando no jantar que tenho segunda-feira.
─ Podemos ver isso melhor amanhã? Eu te ligo.
─ Tudo bem. Boa noite, Melissa.
─ Boa noite.
Desligo a chamada e apago a ligação do histórico em seguida coloco meu celular dentro da minha bolsa. Respiro pesado e sinto meu coração acelerado quando olho para o Estêvão que permanece de costas para mim lavando a louça, conto até cinco e caminho na direção da mesa pegando a travessa de salada que ainda não foi retirada e me aproximo da lixeira da pia.
─ Está tudo bem?
─ Está sim, só a Julia me perguntando sobre um relatório de uma propaganda.
─ O que acha de brigadeiro e um filme?
─ Acho perfeito, enquanto você termina a louça eu faço o brigadeiro ─ Estêvão se vira me dando um selinho antes que eu vá até o armário pegar as coisas para fazer o brigadeiro.
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8º Andar (Quando o amor fala mais alto)
ChickLitSequencia do livro 8º ANDAR (O AMOR MORA NO ANDAR DEBAIXO) O que você faria para reconquistar o amor de sua amada? Eu errei com a Melissa, mas depois de todas as minhas burradas acredito que finalmente entendi que o amor não supera tudo. Agora eu t...