Capítulo 18 (por Melissa)

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Estêvão tem estado estranho esses últimos dias, não sei se é porque não apareceu nenhum trabalho ou porque ainda não conseguimos achar uma saída para pagar a multa dele na Cabaré. Minha vontade é de matar o Henrique, mas contrato é contrato e a lei esta a favor dele.

O que temo é que mais dia ou menos dia Estêvão vai ter que voltar para lá e não sei como vou reagir a isso, quatro anos é muito tempo e por mais que eu acredite no Estêvão sei que Henrique não está errado sobre o Don, se o Estêvão voltar para lá o Don vai tomar o controle da situação e eu não sou forte o suficiente para isso.

─ Fiquei surpreso com a sua ligação.

─ Você me disse que se eu precisasse de ajuda podia te procurar.

─ Sempre poderá contar comigo Melissa.

─ É bom saber disso.

─ Mas me diga no que eu posso lhe ser útil.

Penso um pouco e não encontro nada plausível como desculpa.

─ Eu não tenho como te explicar...

─ Nunca tivemos segredos.

─ Eu sei... mas não sei por onde começar.

─ Por onde for mais fácil para você.

─ Não foi nada fácil te ligar, eu...

─ Precisa de dinheiro? ─ Consigo apenas balançar a cabeça concordando.

─ De quanto? Eu faço um cheque agora ─ ele se inclina pegando a carteira no bolso.

─ André, eu preciso de oitocentos mil ─ minha voz sai embargada e no mesmo instante ele me olha sério.

─ O que está acontecendo, Melissa? ─ na sua voz há espanto e preocupação.

─ Não da para explicar, André. Cinquenta mil eu consigo, preciso de 750 mil. Sei que é muito dinheiro, mas eu vou te pagar com juros.

─ Não estou preocupado em receber e sim no porque de você precisar de tanto.

─ Não da para explicar, André.

─ Você nunca me pediu dinheiro para comprar uma bala. Sempre foi orgulhosa, não tem como eu não ficar surpreso com você me pedindo tanto dinheiro.

─ Mas eu vou te pagar cada centavo com juros.

─ Tenho certeza disso, no entanto eu não consigo pensar em algo que faça você precisar de tanto dinheiro.

─ É complicado, eu já lhe disse. Se eu pudesse te explicaria, mas não posso.

─ Você está doente?

─ Não! ─ digo quase gritando ─ Não. ─ repito com o tom mais baixo ─ Estou bem, eu só...

─ Não pode me contar.

─ Preciso que você confie em mim, eu juro que vou te pagar tudo.

─ Eu sei que você não vai sossegar enquanto não terminar de me pagar. Você é honesta, Melissa. Essa é uma das razões pela qual me apaixonei por você. Te empresto, mas preciso de um tempo para levantar esse dinheiro.

─ Não sei como te agradecer.

─ Não precisa agradecer. Só espero que você não tenha se metido em nenhuma encrenca.

─ Tecnicamente não.

─ Eu vou levantar o mais rápido que eu conseguir. Vou falar com o meu gerente e agendo para fazermos a transferência.

─ Obrigada André, eu posso te pagar todo mês e vendo as minhas férias tem o décimo terceiro o prêmio no final do ano. Vai demorar, mas eu...

─ Falamos sobre como vai me pagar depois, ou melhor, você poderia começar me acompanhando em um jantar semana que vem.

─ André, não vamos misturar as coisas.

─ Podemos tentar novamente, Melissa ─ ele estende a mão tocando a minha sobre a mesa.

─ Meu horário de almoço esta acabando, eu preciso voltar ─ retiro minha mão debaixo da dele que me olha constrangido.

─ Eu te levo.

Estêvão não vai curtir a ideia, contudo essa é a única saída que vejo. Mas eu só vou contar para ele quando o crápula do Henrique já estiver com o dinheiro e o Estêvão livre da Cabaré.

***

─ Você está muito calada. O jantar não esta bom?

─ Esta uma delicia. Eu que estou um pouco enjoada.

─ Quer que eu busque alguma coisa?

─ Estou bem, não se preocupe. Alguma notícia sobre trabalho?

─ Amanhã eu vou em uma oficina que sempre levo a Charlene, estão precisando de um faz tudo.

─ Vai dar certo ─ digo me levantando da mesa levando meu prato até a pia.

─ Vamos torcer que sim. Algo precisa aparecer logo. Em breve teremos alguém correndo por esse apartamento dependo de nós dois.

─ O Henrique deu notícias sobre o prazo dele?

─ Não, mas eu vou falar com ele ─ Estêvão diz retirando as travessas da mesa.

─ Tentar um parcelamento?

─ Meu amor, mesmo que ele parcele será difícil pagar.

─ Então o que vai falar com ele?

─ Henrique sempre...

Estêvão é interrompido com o meu celular tocando, enxugo as mãos e caminho até a sala pegando ele ao lado da minha bolsa, no visor o nome e a foto do André, respiro fundo antes de atender.

─ Alô... ─ engulo cedo, Estêvão me olha por alguns segundo e se vira para a pia tomando o meu lugar lavando a louça.

─ Melissa, tudo bem?

─ Tudo sim e com você?

─ Acabei de sair de uma reunião com o meu pai e uma nova designer de joias ─ André faz uma pausa esperando que eu fale algo, permaneço calada. ─ Consegui falar com o meu gerente, marquei a transferência para quinta-feira da semana que vem, está bom para você?

─ Está perfeito, não sei como te agradecer.

─ Me acompanhando no jantar que tenho segunda-feira.

─ Podemos ver isso melhor amanhã? Eu te ligo.

─ Tudo bem. Boa noite, Melissa.

─ Boa noite.

Desligo a chamada e apago a ligação do histórico em seguida coloco meu celular dentro da minha bolsa. Respiro pesado e sinto meu coração acelerado quando olho para o Estêvão que permanece de costas para mim lavando a louça, conto até cinco e caminho na direção da mesa pegando a travessa de salada que ainda não foi retirada e me aproximo da lixeira da pia.

─ Está tudo bem?

─ Está sim, só a Julia me perguntando sobre um relatório de uma propaganda.

─ O que acha de brigadeiro e um filme?

─ Acho perfeito, enquanto você termina a louça eu faço o brigadeiro ─ Estêvão se vira me dando um selinho antes que eu vá até o armário pegar as coisas para fazer o brigadeiro.


8º Andar (Quando o amor fala mais alto)Onde histórias criam vida. Descubra agora