Destiny Kelly O'Connor, filha única de pais separados, cresceu em um ambiente familiar abusivo, o que a levou a fugir de casa com apenas 19 anos, no início da década de 1980.
Perdida pelas ruas da caótica cidade de Los Angeles, totalmente só, ela s...
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DESTINY
GARFIELD, MEU PERSA laranja de nome clichê, escala minhas pernas enquanto eu descanso no sofá, assistindo a um filme trash com um cigarro na mão. Ele sobe em minha barriga, "amassa pãozinho" e mia, mimado e dengoso como sempre, pedindo carinho. Acaricio sua cabeça e suas costas macias e o pequenino deita enroladinho igual a um novelo de lã. Não sei o que seria da minha saúde mental se não tivesse adotado esse serzinho.
— Mamãe te ama, filho.
— Rrrrrrr... — a resposta é um doce ronronar.
Fecho os olhos, colocando o Dunhill na boca. Existe um vácuo doloroso no meu coração.
— Que bosta de final de semana... — bufo, pensativa. — Não ter família, não ter amigos, não ter namorado, não ter um filho da puta pra te fazer companhia é uma merda... — trago profundamente e baforo. Abro os olhos quando Garfield ronrona mais alto. — Desculpa, amor... Não esqueci de você... Sei que é minha companhia para todas as horas... Tenho você comigo... — continuo a acariciá-lo.
Solidão machuca, rasga a alma e a gente nunca se acostuma com ela. Há anos sou perseguida pelo sentimento de abandono, considero-me um erro ambulante e isso se acentua, fica ainda mais insuportável durante minhas crises existenciais. Quero ser feliz, mas não sei onde encontrar a felicidade. Nem sei se a felicidade existe. No passado, me amparava nas drogas... No presente, não tenho em que me amparar.
Respiro fundo e conto até dez.
— É claro que você tem em que se amparar, Destiny! Na sua missão! — concluo, dando voz à razão. — Ampare-se nas pessoas que precisam da sua ajuda! Nada do que você passou foi em vão!
Levanto, tirando Garfield do colo, apago o cigarro no cinzeiro transbordando de bitucas velhas e cinzas em cima da mesa de centro, dou uma mordida num pedaço de frango frito que estava dentro da caixa amassada do KFC e bebo alguns goles de cerveja Budweiser amanhecida. Desligo a TV, despejo ração e água fresca nos potes que ficam na cozinha, limpo a caixa de areia e sem mais, nem menos, tenho um flashback do que aconteceu dias atrás.
— Sou líder e baixista do Mötley Crüe.
— Líder?
— Sim, mesmo os caras da banda não me respeitando às vezes... Você sabe, liberdade é uma merda! Fazemos uma parada glam metal muito louca e saímos destruindo milhares de quartos de hotel por aí.
— Bom hobby!
— Viu só? Estaremos no Rainbow Bar & Grill nesse sábado às 21h00, dá uma passadinha lá!