Capítulo 2 - O começo do declínio

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Sua cabeça latejava de dor. Ela abriu os olhos, e uma luz ofuscante queimou suas retinas por um segundo. Lentamente ela abria e fechava os olhos até conseguir se acostumar, para então conseguir se localizar.

O cheiro de velho e mofado logo subiu às suas narinas. Logo mais percebeu que se tratava de um porão. Fora a lâmpada branca pendurada no teto por uma corrente e uma escada velha de tábuas de madeira que subia para a saída, não tinha nada de memorável ali, apenas umas estantes velhas lotadas de quinquilharias, e algo que parecia ser uma cortinha marrom pesada que caía de cima de uma das paredes, como se escondesse uma janela ou algo do tipo. Não sabia onde estava.

Então, aos poucos, sua memória voltava na forma de flashs dolorosos sobre a noite anterior. Se lembrou da chuva, do beco escuro, da sensação de estar sendo perseguida, da dor que sentiu ao cair no chão... E do olhar e sorriso sedutores de seu sequestrador, momentos antes de apagar. Olhou para seu corpo e percebeu que ainda vestia o uniforme de garçonete, agora seco e quente. Tentou se mover e sentiu resistência nas mãos e nos pés, e então viu que cordas grossas a prendiam em uma viga de sustentação, com muitas marcas de cortes, raspões e arranhões.

De repente, Rebecca ouviu um ranger e um estalo de dobradiças claramente velhas e desgastadas, e o alçapão acima da escada se abriu. Ela viu uma figura descendo as escadas, e sua imaginação voou, tentando imaginar quem desceria aquelas escadas, mas a resposta era mais do que óbvia. Era o seu sequestrador.

-Ora, vejo que está acordada – ele sorriu, e ela o odiou por isso.

-Quem é você? O que quer de mim? Onde eu estou?

-São tantas perguntas – ele se aproximou. Sua voz era ainda mais profunda e ecoante no porão -Você sempre foi assim, não é mesmo... Rebecca

Ela gelou. Seu rosto ficou pálido e seu coração acelerou.

-Como sabe...

-Seu nome? – completou – É simples. Eu sei tudo sobre você. A doce Rebecca Myers. – Ele se aproximou perigosamente de seu rosto, seus narizes apenas a um palmo de distância um do outro - 1.65 de altura, pais mortos num acidente de carro quando tinha 10 anos e morou com a avó até os 16. Não completou o ensino médio pois engravidou do idiota do capitão do time de futebol e fugiu com ele para ter uma vida melhor. Você sofreu um acidente e acabou abortando, e o amor da sua vida a culpou por isso, então a abandonou sozinha num apartamento precário. Trabalha na Lanchonete perto de sua casa, gosta de dormir durante as tardes de domingo, assiste futebol toda a semana, guarda rancor do ex-namorado, é do signo de Peixes e sua cor favorita é preto, por mais que diga para os outros que é azul.

Ela se surpreendeu. Tudo aquilo estava precisamente correto.

"Como ele sabe tudo sobre mim? Quem ele é?"

-O que você quer de mim? – perguntou mais uma vez

-Ah... Você descobrirá... Logo... Na verdade nós...

Três batidas ecoantes vieram de cima.

-É a Pizza!

-Merda... – Balbuciou

Rebecca nem pensou duas vezes. Seus instintos falaram mais alto e ela gritou:

-SOCORRO! ALGUÉM ME AJUDA!

O sequestrador fechou o punho e atingiu com força o belo rosto da garçonete. Pingos de sangue mancharam o chão.

-Cala sua boca se quiser viver... – ele apertou o pescoço dela – Se você gritar mais uma vez, vou te bater até não restar sangue em seu corpo para manchar minhas mãos

Ele a empurrou para o lado, subiu a escada e bateu à porta do porão.

***

Se dirigiu até a porta e a abriu, com uma nota de vinte nas mãos. Sua cabeça doía como nunca.

-Há algum problema, amigo? – perguntou o entregador, desconfiado – Eu ouvi gritos

-Não há nada – ele sorriu simpaticamente – não se preocupe... amigo. Eu tô assistindo um filme de terror. Aquele com a Neve Campbell fazendo a Sidney

-Ah sei – o entregador sorriu, sem acreditar bem na história. Normalmente, não se importaria, mas ele havia percebido algo de estranho ali. A casa, afastada da cidade, numa região mais elevada, com florestas de árvores altas e troncos grossos, levantava muitas suspeitas.

– Dá vinte fechado amigo

Ele entregou a nota de vinte.

-Tenha uma boa noite – e fechando a porta, esperou o entregador se afastar e suspirou – Essa foi por pouco... Tenho que calar a boca dessa vadia antes que alguém denuncie pra polícia.

***

Rebecca Myers se curvou, sentindo a dor irradiar de seu nariz para o resto do rosto. Então suas lágrimas se misturaram ao sangue, e seus suspiros e soluços ecoaram naquele porão por longas horas.

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Um capítulo mais curto dessa vez. Só pra dar um gostinho.

Em breve postarei mais.

Enjoy and Good Dreams

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