Camilla não tinha dormido direito. Com aquela noite, já haviam se passado duas semanas desde o desaparecimento repentino de Rebecca Myers. Depois de dois dias que a amiga não aparecia no trabalho – e não dava notícias –, Camilla resolveu ir até o apartamento de Becca, para checar se estava tudo bem. O apartamento estava arrumado como sempre, sem sinal de luta, arrombamento ou um corpo ensanguentado.
Não demorou muito para ela relatar o desaparecimento aos policiais, que iniciaram um processo de busca intensa, dia após dia, mas não havia sinais de sequestro. Na verdade, não havia sinal algum. Rebecca tinha simplesmente desaparecido do mapa.
Mas Camilla não aceitava que sua amiga tivesse simplesmente ido embora sem dar notícias. Ela ligou para todos os parentes de Becca com quem ela tinha contato... Sem sinal dela. Ligou para amigos antigos dos tempos do colégio... Sem sinal dela. Falou com os vizinhos, com o dono do prédio, com o mendigo que dormia nos arredores todos os dias... Sem sinal de Rebecca Myers.
Debruçada sobre papéis com anotações e mapas da cidade, Camilla estava dando uma de detetive. Não era muito conhecida por sua inteligência, mas quando havia uma motivação muito forte, ela era capaz de surpreender a todos com sua grande capacidade de armazenar informações úteis. Ela só não tinha subido muito na vida por não estar nem aí para a vida acadêmica ou formação profissional decente.
Ela se levantou. A roupa amassada e colada no corpo lhe lembraram que ela não havia tomado banho. Se sentia suja, além de triste e aflita com o desaparecimento da amiga.
Becca e Camilla eram amigas desde a infância. A vida cuidou de separá-las muitas vezes, mas sempre deram um jeito de se encontrarem, e por ironia do destino acabaram trabalhando na mesma lanchonete como garçonetes. Não era nada muito glamuroso – nada parecido com o sonho compartilhado de se viver numa mansão igual à da Barbie, só que em tamanho real. – Mas elas duas eram felizes, a medida do possível. Elas não tinham muito do que reclamar – e ironicamente reclamavam bastante das coisas.
Uma amizade conflituosa, mas que funcionava. Embora compartilhassem de muitos sonhos em comum, elas duas eram como fogo e água. Camilla era o fogo, impetuosa, dominadora, personalidade forte e muito extrovertida – além de ser um pouco atirada demais para os meninos desde a quinta série. Becca era a água, mais tranquila, pacífica – embora também aprontasse das suas vez ou outra e soubesse muito bem como se defender –, era quem acalmava Camilla e a impedia de fazer merda.
Elas dependiam uma da outra, precisavam uma da outra.
E Camilla não ia desistir até encontrar sua amiga novamente. Viva ou morta.
O telefone tocou, tirando ela do transe que a envolvia.
-Oi – respondeu ela, sonolenta, num bocejo.
-Cadê você?! – gritou uma voz do outro lado da linha.
-Ai! – reclamou ela, franzindo a testa. Pela voz ela já havia reconhecido o companheiro de trabalho. – Pra quê essa gritaria toda, Ramón?
-O Cara tá surtando aqui! Tá querendo saber onde você tá
-Quê? – ela tentava entender o que ele dizia, mas nada fazia sentido. Ela tinha acabado de acordar, então nem sequer se importava. – Que cara? Do que cê tá falando?
-O chefe, Camilla! Cê não lembra do que ele te disse ontem?
Então ela se lembrou. A memória veio nítida em sua mente, a despertando como uma dose de café.
"Faltavam cinco minutos para seu turno acabar. Ela, no entanto, ouvia um monte do patrão. A sua impaciência fazia com que ela não conseguisse absorver muita coisa. Mas uma frase ela conseguia destacar muito bem.
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Mente Insana, Corpo Insano
Mistero / ThrillerBecca vive uma vida normal em seu trabalho de garçonete em uma lanchonete de Nova Iorque. Solteira, jovem, trabalhando ao lado de sua melhor amiga e recebendo um salário mínimo... Tudo parecia se encaminhar dentro dos conformes, até que em uma bela...