Camilla e Ramón haviam se aproximado bastante desde o dia do desaparecimento de Becca. Antes, ela o julgava pelo que ele parecia ser, e não fazia ideia de como ele poderia ser atencioso e carinhoso. Mas não, ela não pensava em paixão. Nem sequer considerava isso.
Mas era bom saber que Ramón estava ali. Era bom ter um porto seguro.
"Tão rápido?" você, leitor, deve pensar. Bom, deve considerar que eu ainda não narrei os eventos que antecedem a busca por um detetive particular e o encontro com a Sra. Myers (e suponho que você, caro leitor perspicaz, já deve ter percebido que ela não é uma mera avó que assa biscoitos, não é?).
E peço, humildemente, perdão por não ter narrado tais acontecimentos, mas meu foco era outro. Agora preciso voltar no tempo, retroceder na história. Afinal, ninguém gosta de furos de roteiro, e eu não ousaria fazer isso com vocês (e com vocês me refiro aos dois ou três leitores assíduos que insistem em acompanhar minha história de verdade. A vocês, dedico minha sincera gratidão).
Bom, voltaremos no tempo para aproximadamente um mês atrás. Aperte os cintos e se prepare...
Essa viagem é emocionante.
***
Um mês atrás...
Pendurada no telefone, pela manhã, Camilla preparava seu café da manhã. A lanchonete abria às 7h. Eram 6h. Embora não fosse lá um trabalho muito prestigiado e chique, ela gostava de se dedicar. Em parte por ser de sua natureza, em parte por almejar um salário maior em um mês ou dois para poder comprar uma TV nova. Cada qual com seu objetivo de vida, não julgue.
Já estava pronta para o trabalho. Ela tinha que sair mais cedo de casa, por morar um pouco longe. Tomava seu café, enquanto esperava que sua amiga a atendesse para que ela pudesse fofocar sobre a noite incrível que tivera com Ramón Cortez. Falar sobre suas companhias para Rebecca e exagerar um pouco sobre a intensidade dos acontecimentos era quase rotina para Camilla. Mal sabia ela que o celular de Becca estava nas mãos de um homem de negócios boa pinta com transtorno de múltipla personalidade que naquele exato momento deixava-o tocar loucamente, tentando ignorar o barulho irritante da música "Call me Maybe".
-Por que ela não atende? - Camilla franziu a testa. Becca demorava sempre pra atender, mas geralmente acordava. - Deve ter dormido demais.
Ela deu de ombros e desligou o celular. Alexander, longe dali, agradeceu a Deus pela música ter cessado.
Camilla nem mesmo se preocupou. Estava ocupada demais, ainda sentindo o resquício do perfume barato e intoxicante que Cortez havia deixado em seu apartamento, e fantasiando sobre a noite selvagem que tivera com ele. Por que tinha se deixado levar pela lábia e pelo corpo de Ramón ela não havia entendido bem. Mas não se arrependia nem um pouco. Raramente se arrependia de uma boa transa, mesmo sendo com alguém como ele. E naquele caso ela se negava a classificar aquilo como simplesmente "bom". A noite tinha sido incrível.
Talvez ela fosse do tipo que se apaixonasse muito fácil, mas se era, ela fazia parecer que não. Era persuasiva a esse ponto.
Olhou para o relógio digital em cima do micro-ondas e viu que marcava 6h20m. Voltou-se para o celular, deu dois toques na tela e colocou no viva voz.
-Acordou cedo... - soou a voz de Ramón pelo celular. Um arrepio percorreu sua espinha.
-Eu nem dormi, pra ser sincera - respondeu, completamente fora do ar, sem conseguir conter um leve sorriso.
-Então parece que fiz bem ontem à noite
-Ah, fez sim - ela riu. - Só não gostei de você ter saído na surdina. Me senti uma prostituta vagabunda que não vale o esforço.
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Mente Insana, Corpo Insano
Misteri / ThrillerBecca vive uma vida normal em seu trabalho de garçonete em uma lanchonete de Nova Iorque. Solteira, jovem, trabalhando ao lado de sua melhor amiga e recebendo um salário mínimo... Tudo parecia se encaminhar dentro dos conformes, até que em uma bela...